O objetivo era criar uma gala que se assemelhasse a uma produção norte-americana de luta entre boxistas. Mas Max Oliveira foi mais além. Em 2014, o projeto do conhecido dançarino viu nascer a luz do dia, num conceito inovador de trazer a dança de rua a um casino. A segunda edição do Solverde World Battle, aconteceu no sábado e esgotou um espaço que misturou o luxo de um casino e a dureza das ruas.
Bboys de todo o mundo reunidos
Oito bboys de oito países diferentes foram escolhidos a dedo para proporcionar um espectáculo de qualidade no casino de Espinho. Na conferência de imprensa anterior ao espetáculo, Max Oliveira atentou que mais do que uma batalha entre crews ou países, seria uma batalha de diferentes personalidades – indivíduos com características específicas que carregam o peso de uma nação às costas.
Bruce Almighty (Portugal), Douglas (Brasil), Grazy (Espanha), Isaiah (E.U.A.), Kid Colombia (Holanda), Kleju (Polónia), Lil’Kev (França) e Lil Zoo (Marrocos) foram os escolhidos para uma noite cheia de surpresas.
Uma das grandes surpresas da noite, ainda que já tivesse sido anunciada, foi a presença da atriz Diana Chaves como coanfitriã do evento. A apresentadora do programa televisivo “Achas Que Sabes Dançar” mostrou que a dança urbana não a intimida e que partilhar o palco com Max Oliveira, anfitrião experiente de eventos relacionados com a dança urbana, é um desafio alcançável.
Outra grande surpresa do serão foi a escolha dos adversários para cada batalha. Num sistema que deu ao público total decisão sobre o desfecho da noite, as batalhas começaram por pôr frente a frente quatro dos favoritos à vitória.
A batalha entre o americano Isaiah e o polaco Kleju, bem como a batalha entre o português Bruce e o marroquino Lil Zoo deram aos espectadores uma batalha intensa. Se por um lado Isaiah dominou na flexibilidade, a musicalidade foi o ponto forte de Kleju. Por outro lado, o português Bruce Almighty foi o mais original e a agressividade de Lil Zoo não deixou ninguém indiferente.
Júris e convidados de luxo
O evento não descurou na escolha dos jurados. Stanny, organizador do Unbreakable – um dos maiores eventos de dança urbana, Pedro, representante dos Momentum Crew e, claro, de Portugal e ainda Hatsolo, um finlandês que se assemelha ao “Thor” da dança urbana, com movimentos “brutos” e imprevisíveis.
A gala contou também com as participações dos Funk You Brass Band, de Vítor Kpez e Liliana Garcia (finalistas do programa “Achas Que Sabes Dançar”) e dos Groove Town, o trio responsável pela música na batalha final.
Ainda assim, foi com a batalha entre Lil’Kev e Kid Colombia que o público ficou mais expectante. “Eu queria mesmo esta batalha”, contou Max aos presentes. Até ao início da battle ninguém percebeu o motivo, mas passados poucos minutos tudo ficou claro. O palco foi preenchido por windmills, airflares e toda uma variedade de powermoves, que é como quem diz saltos, mortais, rodar no chão ou tudo o que de perigoso se consegue imaginar. O bboy de 16 anos deu tudo por tudo para vencer Lil’Kev, mas o francês levou a melhor.
Eliminatória após eliminatória, a fasquia foi subindo. E foi com a fasquia no ponto mais elevado que a final voltou a reunir dois dos favoritos ao título. Kleju, o bboy polaco, defrontou Bruce Almighty. A batalha foi renhida e por apenas um ponto o português deixou a vitória escapar-lhe das mãos (ou dos pés).
Kleju – o bboy dos óculos escuros
O bboy que venceu a 2.ª edição do Solverde World Battle, não entra numa batalha sem os seus óculos escuros. Uma escolha que agora faz parte da imagem de marca do dançarino, mas que começou por ser uma protecção contra o sol, por treinar na rua.
Kleju sabia que vitória era possível, mas o que não estava à espera era do ambiente que iria encontrar no casino. “As pessoas ali dentro tinham algo mais que nós [dinheiro], mas trataram-nos com muito respeito e transmitiram muito boa energia.” O bboy conclui com a afirmação típica de qualquer turista. “Estou muito contente por estar em Portugal”.
“É preciso coragem para os ver dançar.”
A frase é de Silva Carvalho. O administrador do grupo Solverde subiu ao palco no final da noite para a fotografia de praxe com o vencedor e para relembrar a ousadia deste projecto. “Temi pelo meu emprego”, contou a brincar. Mas no fim da segunda edição e com uma sala esgotada, a aposta não podia ter sido melhor.