O projeto Erasmus existe desde 1987 e é cada vez mais procurado por estudantes de todo o mundo. Em comum, os jovens partilham a enorme vontade de conhecer novas pessoas, novos costumes e de aprender a viver por si, a serem totalmente donos do seu tempo.

A Universidade do Porto (UP) não é exceção. Segundo Salomé Marques, responsável pelo departamento de Relações Internacionais da Universidade do Porto, este ano são cerca de 1098 os alunos da UP que partem para a aventura Erasmus. O projeto continua a crescer de ano para ano e com ele cresce também aquela a que chamam de “geração Erasmus”.

Ainda assim, muitas vezes, a realidade é diferente daquela inicialmente pensada, daquilo que se lê e ouve sobre o assunto. Nas primeiras semanas, a vida Erasmus pode tornar-se complicada e um verdadeiro desafio.

Teresa Paiva, aluna na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), deixou o pequeno pólo de Ciências da Comunicação e passou a ter aulas naquele que é um dos maiores campus da Europa, na Universidad Complutense de Madrid (UCM). “Vim porque foi algo que sempre quis fazer. Quando abriram as inscrições nem pensei duas vezes. Agora sei que na altura não fazia ideia daquilo em que realmente me estava a meter” confessa ao JPN. Teresa partiu para Madrid com vontade de conhecer e aprender, mas o choque inicial foi grande. Chegou à capital espanhola sem casa onde ficar e esse processo foi complicado. “Disseram-me que era fácil encontrar casa e eu achei que, por ser uma cidade tão grande, ia arranjar rapidamente. Mas não podia estar mais enganada”, desabafa. O número elevado de estudantes à procura de casa no início do ano letivo torna todo o processo muito complicado e ainda que tenha procurado em sites, jornais, na faculdade e até mesmo nos cafés, diziam que estavam todos ocupados ou que não queria alugar por menos de um ano.

Tal como Teresa, também a sua colega de turma Rita Cerqueira se deparou com a mesma situação. Rita viajou até Atenas e diz que na primeira semana, basicamente entrou “em pânico”. “O facto de não ter casa foi muito mau, enquanto não encontrei uma não descansei”, sustenta a estudante de Ciências da Comunicação.

Os alunos confessam que a adaptação foi algo muito difícil e inesperado. A ideia de Erasmus não é, à partida, esta. Quando se fala de Erasmus o mais comum é pensar em conhecer novas pessoas, aprender novas línguas, passear, conhecer novos sítios. Mas toda esta agitação e instabilidade inicial fazem com que muitos dos aventureiros  um início de estadia pouco agradável e conturbado, chegando mesmo a ser, para alguns, “assustador”.

Por outro lado Leonor Matos, também estudante de Ciências da Comunicação na Universidade do Porto, partiu para Madrid com vontade de conhecer mais. Divide casa com uma chinesa e uma espanhola e diz que é, sem dúvida, uma experiência muito enriquecedora. “Entro em contacto com a cultura chinesa, provando os seus pratos típicos e ouvindo histórias milenares de imperadores. A experiência de ouvir alguém falar de um governo comunista com tanta emoção, de perceber a política de natalidade chinesa e a vontade de aprender mandarim, resultam numa bagagem de conhecimento. Viver com a Paula, espanhola natural de Cuenca e estudante de enfermagem, submergiu-me profundamente na cultura espanhola e em todos os seus costumes. O sotaque espanhol é melhorado todos os dias, quando me corrige delicadamente as expressões. Atravessámos e destruímos ideias pré-feitas dos nossos países: nem todos os espanhóis gostam de siesta e nem todos os portugueses gostam de chegar atrasados”, conta.

À medida que o tempo vai passando, o susto inicial desaparece aos poucos da memória. O que fica, começam a ser as experiências positivas e marcantes, como esta de que fala Leonor.

Sofia Coelho, estudante de Economia na Faculdade de Economia do Porto (FEP), chegou a Barcelona há dois meses e, não sendo exceção, diz que os primeiros dias foram uma mistura de turismo intenso com stress total. “Por um lado andava a ver a cidade pela primeira vez nos tempos livres que arranjava e estava completamente maravilhada. Por outro lado andava cheia de problemas por causa da falta de oferta de apartamentos que havia. Barcelona é um sítio bastante difícil para arranjar casa”, adianta a estudante da FEP.

Mas não somos só os portugueses que sentem esta dificuldade inicial. Antonello Lupo, de Salerno, Itália, chegou há dois meses a Madrid para estudar Marketing. Admite que no início foi difícil gerir tanta coisa nova e principalmente encontrar casa. Agora sente que Erasmus é algo que todos os estudantes deveriam fazer. “Esta experiência muda a tua personalidade e a maneira como pensas sobre as coisas e o mundo. Tenho saudades da minha maravilhosa Itália, da minha família e dos meus amigos… Mas sei que vou estar com eles em breve e para já quero aproveitar ao máximo todo o tempo que passar nesta cidade fantástica”, transmite o estudante italiano.

Tal como Teresa, Leonor, Rita, Sofia e Antonello, também Ahmet Kara-Alioğlu sentiu dificuldade em encontrar um sítio para ficar. Ahmet é da Alemanha e chegou a Madrid dia 1 de setembro. Estuda Humanidades e veio com a esperança de poder melhorar o seu espanhol. Diz estar um pouco desapontado com a sua experiência Erasmus porque toda a gente fala em inglês e o que ele queria mesmo era praticar outra língua. Além disso, o próprio curso que frequenta tem algumas diferenças com o seu, na Alemanha, o que tem também dificultado o processo.

Çağla Güç, estudante turca de economia, admite que nos primeiros tempos, apesar de entusiasmada por estar numa cidade nova, as saudades da família, dos amigos e da cidade começaram a apertar. Çağla deixou a Turquia há dois meses para iniciar a sua experiência Erasmus em Madrid. Com a ajuda de um amigo que teve essa experiência no ano passado, conseguiu alugar um quarto antes de vir. Admite que tem saudades de tudo, em especial “dos deliciosos pratos” da mãe, mas a ideia de conhecer a Europa entusiasma a estudante.

Todos estes estudantes estão há dois meses numa cidade nova, diferente e desafiante. Será a sua cidade até meados de fevereiro. Ainda que tenham surgido algumas dificuldades no início, reconhecem que os momentos gratificantes começam a ser cada vez mais comuns e acabam por “apagar” os momentos menos bons que se depararam quando chegaram. “Agora está a ser bom”, diz Rita. “Já passou um mês e meio e parece que ainda ontem cheguei cá. A cidade não tem nada a ver com o Porto, é tudo muito mais agitado. Todos os dias há coisas novas e gente nova para conhecer, não podia pedir melhor”, reconhece.

Passado este tempo, também Sofia admite que tem sido das melhores experiências pelas quais passou até agora. “Acho que me está a fazer super bem sair da minha zona de conforto, quer se trate de lidas da casa, como uma faculdade diferente, métodos de ensino diferentes, novas pessoas, culturas. Sinto que ainda só passaram dois meses e já estou uma pessoa bastante mudada. Para melhor”, revela.