Ainda que a sua formação passe também pela História – licenciatura que tirou na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) –, Carlos Barros percebeu que, o enorme gosto que nutria pelas ciências sociais, teria de ser explorado. Após um mestrado na área da Psicologia, Carlos decidiu explorar mais e é, atualmente, doutorando na mesma área, na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP).

Em conversa com o JPN, o estudante indica que, na sua opinião, a análise de temas ligados à sociedade permite compreender melhor as relações humanas e o modo como interferimos na vida de terceiros. E foi a “necessidade de compreender essas relações” que despertou no doutorando o interesse pela área das ciências sociais.

De facto, o interesse pela área é já manifestado pelas crónicas que Carlos Barros escreve para o P3, onde tenta sempre “lidar com temas que parecem ser importantes” no seio da vida social. Nesses textos, a título de exemplo, discute sobre questões ligadas às relações amorosas, ao respeito pelos idosos, ao ensino superior e ao desemprego. “O que tento fazer é apresentar alguns temas que para mim parece urgentes”, explica o estudante. “Temos sempre peso no modo como interferimos na vida dos outros”, aponta ainda.

Para o próprio é “profundamente importante estudar” os processos de intereção social estabelecidos no seio da sociedade, sobretudo quando a mesma se trata de um “fenómeno de constante mutação sociológica”.

Desta forma, aliou o gosto pelas ciências sociais à escrita e foi mais além. No próximo sábado, dia 21 de novembro vai levar ao Palacete dos Viscondes de Balsemão, na praça Carlos Alberto, o seu trabalho. “Por mais que me digam. Crónicas de uma ovelha negra” é uma compilação dos seus textos – alguns publicados no p3 – que pretende ser “uma junção de narrativas que evidenciam como é viver em 2015, num cenário onde há fragmentação social, mas onde há também pessoas que contribuem para que não haja essa fragmentação.

Desde o amor à migração, passando pelo natal ou ensino superior, o autor admite que a sua intenção é unir “estes temas para formar um só”, para evidenciar como “a história é construída por histórias”.

Novos dispositivos estão a transformar a sociedade

Um dos grandes temas de interesse do doutorando em psicologia passa pelas novas tecnologias. Uma vez que estuda as relações pessoais, admite que o uso de novos telemóveis, gadgets e aparelhos similares têm provocado mudanças na estrutura das relações pessoais e familiares. “Eu penso que a sociedade poderá sair profundamente prejudicada, mas também beneficiada”, afirma.

O impacto negativo das novas tecnologias, para Carlos Barros, passa pelo “défice de proximidade e de comunidade”, ou seja, tanto pode unir como separar relações. “As novas tecnologias são uma coroa de glória para quem está afastado, mas acabam por afastar também as pessoas que estão fisicamente próximas”, afirma. Para o doutorando da UP, a passagem verificada “do mundo físico para o mundo virtual” pode ser preocupante, uma vez que o espaço virtual aumenta a “falta de fiscalidade e privacidade que se promove”.

“As novas tecnologias vêm criar um ritmo frenético sobre aquilo que vamos vivendo”, indica. De acordo com o especialista em ciências sociais, a tendêndia é de as pessoas quererem estar atualizadas sobre tudo, permanentemente, “mesmo estando muitas vezes suportadas em informações não fidedignas”.

Como resultado surge também a dependência face aos aparelhos tecnológicos, nomeadamente o telemóvel, que ativa “a necessidade compulsiva” de falar com pessoas, o que, na opinião de Carlos Barros “origina relações artificiais, já que se os aparelhos tecnológicos desaparecessem, essas relações desvaneceriam por não serem cultivadas além dos meios tecnológicos”. Além disso, Carlos realça que a quantidade de relações estabelecidas através das novas tecnologias, “não existem na prática” e passam apenas “alimentadores de egos”, como é o caso dos likes nas redes sociais.

No entanto, nem tudo é negativo. Para o doutorando em psicologia, os dispostitivos tecnológicos são fundamentais para as relações distantes. “As novas tecnologias contribuem para criar um processo de interação e promovem alguns pontos de união facilitando algumas relações. As relações interpessoais afastadas beneficiam porque cria-se um canal de comunicação que permite a proximidade com aqueles que estão distantes, tais como familiares”.

Este “facilitismo” em chegar às pessoas contribui ainda para atenuar “o choque” que sentem quando, por exemplo, se encontram juntas poucas vezes ao ano. Carlos Barros procura estar sempre atento às dinâmicas inerentes à vida em sociedade, motivo pelo qual nutre um enorme gosto pelas ciências sociais.