Na passada sexta-feira, dia 20, deu-se início o ciclo Color Sound Frames em Serralves. Com um programa dedicado ao cruzamento entre o cinema e a música experimental, este evento prestou especial atenção a projectos internacionais em que a imagem e a música são realizadas ao vivo.

Colour Sound Frames “roubou” o título ao filme homónimo de Paul Sharits, um conhecido artista visual, que apresentou o seu trabalho no último dia . Também referenciado no programa do ciclo encontrou-se o artista Harry Smith, cujos trabalhos se encontraram presentes no Museu de Serralves, numa exposição paralela que decorreu nos mesmos dias que o ciclo de cinema experimental.

O primeiro dia do programa contou com as atuações de Theo Burt e da dupla SHXCXCHCXSH, juntamente com Pedro Maia. Com início marcado para as 22h30, foi Theo Burt quem abriu a programação do Colour Sound Frames. Pela primeira vez em Portugal, este artista britânico inaugurou o ciclo com a apresentação do seu trabalho a solo.

De reconhecimento crescente a nível internacional, Theo Burt preencheu o auditório de Serralves com uma plateia de diferentes nacionalidades e faixas etárias. Entre a maioria do público, que já apreciava o seu trabalho, também se encontravam espetadores que não o conheciam e foram “atraídos pela diferença do conceito”.

Apesar de estar prevista a exibição do trabalho “Colour Projections“, uma pequena alteração no programa determinou que a obra apresentada seria “Tiling Sessions“. Após a anunciação dessa mudança e perante uma sala cheia, deu-se início ao espetáculo, que fixou o olhar do público durante 40 minutos.

A primar pela originalidade, a obra de Theo Burt foi introduzida ao público através da projeção de sons e imagens, numa tela gigante que ocupava todo o espaço do palco. O artista sonoro “desenhou” uma série de sistemas geométricos que acompanhavam a música enquanto se transformavam em ondas sonoras. A partir das diferentes cores e figuras geométricas, o autor conseguiu criar sequências imperfeitas que complementavam os ritmos apresentados.

Com um início mais sereno, a performance de Theo Burt revelou um dinamismo crescente, que se traduziu num acelerar rítmico, quer da música, quer das imagens que o acompanhavam. Detentora de uma forte componente visual, esta criação artística cativou pelas cores e pela sensação tridimensional que a geometria das figuras permitiu transmitir.

À primeira vista, este trabalho parecia ter uma produção simples, no entanto, a sua complexidade encontrou-se no fator surpresa, que distinguiu o espetáculo. A obra conseguia transmitir ao público a sensação de um padrão adquirido que estava a ser constantemente quebrado. Quando parecia encontrada a “chave” rítmica da performance, o autor quebrava toda a melodia, introduzindo novos sons e figuras. Foi a partir desta irreverência que Theo Burt conquistou a plateia.

Com uma duração de 40 minutos, a atuação inaugural do ciclo Colour Sound Frames, foi fortemente aplaudida por todo o público, que na generalidade considerou a exibição “original e contemporânea”. Esta performance ditou um começo feliz para o resto do programa, que seguiu com a presença da dupla SHXCXCHCXSH, com a colaboração de Pedro Maia. Depois da estreia mundial em Cracóvia no festival Unsound, a parceria entre o artista visual português Pedro Maia e os músicos experimentais suecos SHXCXCHCXSH veio a Serralves apresentar o seu projeto conjunto.

Às 23h30, o auditório começou novamente a compor-se e quase encheu na totalidade. Dez minutos mais tarde, as luzes apagaram-se, fez-se silêncio na plateia e a tela iluminou-se. De seguida, entraram em palco os dois artistas suecos que introduziram o elemento sonoro e foi desta forma que teve início a atuação que encerraria o primeiro dia do ciclo.

“Imperfect Film“. É este o nome do trabalho concebido por Pedro Maia que se baseia nos primórdios do cinema, onde a película em celulóide assumia uma função essencial à produção de conteúdos filmográficos, em termos materiais. Maia recolheu uma seleção de imagens retiradas de filmes antigos e, em tempo real, montou uma apresentação de fragmentos gastos pelo tempo que, no entanto, se mantêm intemporais, pelo facto de ilustrarem situações de caos e indiciarem uma deterioração progressiva da humanidade e do mundo.

A sequência de imagens projetadas na tela que, por si só, já carregava uma forte carga emotiva, era acompanhada pelos sons intensos e desordenados produzidos pela dupla SHXCXCHCXSH. Esta conjugação de artes e de sentidos – visão e audição -, resultou numa fusão harmoniosa estonteante que, contudo, se poderia converter facilmente em sensações desconcertantes. A sonoridade experimental, bem como a indumentária escura e sombria que escondia o rosto dos suecos serviram de complemento ao filme de Pedro Maia. Similarmente a Theo Burt, nesta atuação também foi notória uma intensidade crescente, tal como o aumento gradual do ritmo.

Apesar de a maioria do público se ter revelado atenta e envolta no ambiente gerado pela performance da parceria luso-sueca, alguns espetadores abandonaram o auditório durante o decorrer do espetáculo, por ser algo “invulgar e abstratamente desconfortável”.

O espetáculo protagonizado por Pedro Maia e pelos SHXCXCHCXSH teve a duração de uma hora e no fim foi aplaudido entusiasticamente por uma plateia em busca de sensações novas e de experiências alternativas no que concerne ao cinema e à música.

Como já nos tem vindo a habituar, a Fundação Serralves presenteou os seus visitantes, mais uma vez, com uma programação rica e ousada, apostando numa panóplia de artistas internacionalmente reconhecidos pelos seus projetos irreverentes e singulares. Color Sound Frames arrancou da melhor forma e estabeleceu expetativas elevadas para os dois dias que se seguiram com o trabalho de live art Greg Pope, a dupla constituída pelo artista multimédia Guillaume Cailleau e pelo músico Werner Dafeldecker, “Le Révélateur” de Sabrina Ratté ou ainda Billy Roisz.