Ajudar os refugiados do Médio Oriente, vindos de países como a Síria, Afeganistão ou Iraque – e que agora se encontram na Sérvia – é o que propõe o projeto Não Te Refugies, fundado por Jorge Sá. A ideia surgiu quando Jorge, formado em Enfermagem, foi de férias no verão para a Sérvia com a namorada, de lá nativa, Milica Bogdanov.

Durante esse período, ambos participaram em campanhas de solidariedade e ações de voluntariado locais, de forma a ajudar os refugiados que iam chegando. “Estávamos lá a distribuir ajuda só que não havia lá nada. Não havia nada do que eles precisavam, nem nada de particularmente útil”, revelou ao JPN. Decidiu então que, após o seu regresso em Portugal em setembro, iria tratar de organizar uma recolha de material, ainda que numa escala reduzida.

Assim, um dia após o seu regresso, já tinha posto a sua ideia em andamento. “Foi tudo a 28 de setembro, foi assim uma coisa relâmpago”, afirmou Jorge. Começou por entrar em contacto com a Cruz Vermelha da Sérvia e, depois de lhe enviarem uma lista que continha as suas maiores necessidades, falou com entidades competentes de cá para pôr o seu plano em ação, nomeadamente a Embaixada da Sérvia em Portugal. “Há um mar burocrático a ultrapassar, porque depois também há a alfândega. Não é como enviar ajuda na Europa que é muito mais fácil, há todo um processo que é preciso preparar e burocracias e acreditações”, referiu o mesmo.

O que é preciso?

Quer ajudar? O Não te Refugies, através de associações estudantis está a organizar, até ao dia 29 de novembro, uma campanha de recolha de roupas quentes, calçado, roupa interior nova ou ainda produtos de higiene pessoal que vão poder ser enviados à Sérvia. No entanto, visto estar quase alcançado o limite máximo de volume permitido no transporte para a Sérvia, o processo está já na fase final. Além disso, o grande foco do projeto de voluntariado neste momento é a campanha de crowdfunding, lançada no passado dia 12 de novembro, que está ainda a decorrer. O objetivo da campanha é a angariação de 2000 euros para serem adquiridas 35 tendas, com capacidade de 3 a 4 pessoas, e sacos-cama para serem enviados para a Sérvia. A campanha termina no dia 4 de dezembro.

Depois deste passo, o processo foi seguindo. Começou pelo contacto mais próximo, através de família e amigos, mas rapidamente o projeto chegou mais longe. “Foram aparecendo pessoas espontaneamente noutras cidades nomeadamente Lisboa, Arcos de Valdevez, Aveiro. Houve pessoas que se juntaram individualmente, e houve instituições que também se juntaram”, recordou.

E, pouco a pouco, também algumas escolas se foram associando à causa o que, para Jorge, foi fundamental visto que “uma das partes importantes disto era a sensibilização”, de forma a “desmaterializar um bocado aquela ideia de refugiados serem terroristas”. Após a divulgação do Não te Refugies nos órgãos de comunicação social, a campanha foi-se tornando cada vez mais substancial.

O fundador conta com a ajuda de duas amigas, Lígia Pinto e Bárbara Seabra que, ainda que não tenha experiência na área, tentaram “perceber como é que se faz e se ajuda, falar com tudo e todos para tentar atingir o objetivo”. Rapidamente passou ao plano de ação, que consistiu na recolha de roupas quentes e objetos de higiene pessoal para que as famílias de refugiados conseguissem aguentar o clima difícil da Sérvia, sobretudo com a aproximação do inverno. Segundo Jorge já foram, até hoje, empacotadas mais de três toneladas de vestuário. O vestuário inapropriado foi aproveitado. “Já devemos ter dado mais de uma tonelada à Cruz Vermelha do Porto”, referiu o mesmo.

As ajudas

Para conseguir sustentar o projeto, Jorge Sá precisou de ajuda. Desde os mais variados quartéis de bombeiros da área do Grande Porto, que se disponibilizaram para recolher as roupas que a população quis doar, às associações e grupos de estudantes de diferentes universidades, o Não te Refugies conta com bastante apoio.

Através do núcleo do Plano Mundo da VO.U., pertencente à Associação de Voluntariado Universitário (VO.U.), alguns órgãos culturais e associações de estudantes juntaram-se ao projeto de voluntariado. Entre as quais a Associação de Estudantes do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (AEICBAS), a Tuna Feminina de Biomédicas (TFB), a Associação de Estudantes de Escola Superior de Enfermagem do Porto (AEESEnfP), a Associação de Estudantes da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (AEFEP), a Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (AEFMUP) e o Orfeão Universitário do Porto.

Margarida Cardoso, membro do núcleo do Plano Mundo da VO.U. e vice-presidente de comunicação e imagem do Orfeão Universitário explicou ao JPN que, após uma parceria entre as duas entidades, o Órfeão propôs à Associação de Voluntariado Universitário que fosse um posto de recolha da campanha. Margarida salientou a importância que organismos como a VO.U. têm para a divulgação de projetos desta dimensão. Visto que o Orfeão funciona todos os dias, o grupo tem “um acesso muito mais fácil e um contacto muito direto com as pessoas”, o que lhe permite “pedir e influenciar, de uma maneira mais próxima”. Assim, além de dar a oportunidade de conhecer iniciativas destas mais facilmente ao público, estão simultaneamente a dar “a conhecer esta realidade que, às vezes, passa um bocado ao lado”.

Mário Parada, vice-presidente do Orfeão Universitário, acrescentou ainda que é preciso ajudar, reforçando a ideia de que toda a gente o devia fazer. “Que seja o Orfeão ou cada um individualmente, qualquer tipo de associação, isto é para bem de todos”, disse o vice-presidente.