No passado mês de abril, estreou-se na cidade do Porto um novo projeto, que tinha como objetivo aproximar as pessoas de algumas áreas mais debilitadas. “Palcos para a Inclusão” levou aos bairros mais desfavorecidos da cidade várias atuações, atividades e muita animação. O projeto é organizado e levado a cabo pela associação sem fins lucrativos do Espaço t e conta ainda com o apoio financeiro da câmara do Porto, através do programa Domus Social.

“O objetivo é nós podermos ser uma associação que tenta trabalhar a arte como forma de inclusão”, indicou Jorge Oliveira ao JPN. Para isso, o Espaço t tem “cerca de sete grupos de teatro, dois de dança, um de canto e de pintura, um de tai chi, entre outros”. Existem ainda outros grupos, mas o diretor da associação destacou estes como sendo os que tiveram mais ação nos bairros durante o ano.

Efeito Positivo

De facto, sobram poucas dúvidas do sucesso deste projeto, que foi submetido a uma análise sobre o seu impacto. “Medimos este projeto social através de uma medida de SROI [“Social Return on Investment” – retorno social no investimento]”, revelou o diretor. Este estudo foi conduzido pela Fundação Montepio. Em termos concretos, o que foi descoberto, é que por cada euro investido pela câmara do Porto, esta recuperou 4,20 euros. “Com os 30 mil euros que a câmara nos deu, eles vão ter um retorno superior a 120 mil euros este ano”, rematou Jorge Oliveira.

Também para os alunos da associação, o resultado tem sido excelente. Todas as semanas há um grupo que sai para ir apresentar um “Palco”, e esse positivismo também se transcreve para os moradores porque têm um evento diferente do habitual a decorrer no seu bairro.

O título do projeto é “Palcos para Inclusão” porque “os bairros têm casas e as casas têm pessoas”, segundo afirmou o dirigente associativo. Esta frase é, na verdade, o slogan do projeto, mas não só. É algo que está profundamente enraizado na filosofia da associação e é precisamente com esse pensamento que os grupos vão alegrar estas áreas. “Tentamos mostrar aos bairros que se podem fazer mais coisas do que apenas viver lá”, justificou Jorge Oliveira. Aqui, associação do Espaço t também cria parcerias com associações e escolas locais, de forma a facilitar a organização e divulgação dos eventos.

Na verdade, este sentido de “inclusão” não se refere apenas aos moradores dos bairros em que o projeto atua, mas também aos próprios animadores dos grupos – os alunos da associação – que dinamizam estas atividades. São pessoas com problemas físicos, mentais, ou sociais que podem, por causa do projeto, “mostrar o seu teatro a públicos” e criar assim uma dinâmica positiva.

Estes alunos são enquadrados por sete formadores e cinco membros de uma equipa técnica que garante o bom funcionamento dos programas desta associação. Para o diretor do Espaço t, o “Palcos para Inclusão” resulta numa “dinâmica muito interessante de tentativa de promover a inclusão”. “É uma terapia que nós temos”, acrescentou.

E, dada a dimensão do Porto, como é que a associação atua? “A cidade do Porto tem mais de 40 bairros sociais, então a ideia foi nós levarmos durante um ano, todas as semanas, um grupo a um dos bairros da cidade”, indicou Jorge Oliveira. Este último referiu que, findado o ano de 2015, a associação já marcou presença em cerca de 30 bairros.

Para 2016, o objetivo é acabar o ciclo com os bairros que faltam e começar de imediato, por volta de abril ou maio, outro projeto semelhante. “A ideia é continuar com o mesmo projeto, mas noutros moldes”, explicou o dirigente. Este novo projeto, que pretende manter o mesmo nome, já tem apoio garantido para o próximo ano. “Queremos continuar e a câmara do Porto já nos disse que sim”, notou Jorge Oliveira. Além disso, outro plano inclui a edição de um livro sobre os bairros sociais da cidade, ao qual ainda falta financiamento.

Jorge Oliveira justificou a necessidade de alteração do plano de ação porque o efeito que o projeto tem nos bairros é diluído por só poderem aparecer uma vez em cada bairro, tendo que passar ao próximo na sessão seguinte. “Apesar de termos esse bom impacto, é reduzido. Se nós fizermos sistematicamente, por exemplo uma vez por mês, algo no mesmo bairro, criamos um hábito”, clarificou. Portanto, nesta nova estratégia, “a diferença será que em vez de irmos aos mais de 40 bairros como agora, vamos escolher, por exemplo, 10 e trabalhar muito mais nestes”, segundo explicou o diretor.

Para o dirigente da associação, um dos momentos mais fortes foi a antestreia do projeto. Embora o “Palcos Para Inclusão” se tenha estreado em abril deste ano, no bairro do Aldoar, o Espaço t já tinha realizado uma sessão de apresentação na estação de metro da Trindade, no final do ano 2014. “Acho que foi talvez o momento mais forte em termos de impacto visual, com os 70 alunos ao mesmo tempo”, confessou Jorge Oliveira.

O último evento deste ano, uma aula de tai chi, já decorreu. Tomou lugar na Escola Básica de S. Roque da Lameira, do Agrupamento de Escolas do Cerco (AECerco), na tarde do dia 15 de dezembro.