Foi de uma forma exponencial que a fotografia cresceu durante a sua história. Com a evolução da tecnologia e do digital, este crescimento só se acentuou. Surpreendentemente, a fotografia analógica também tem tido em simultâneo um ressurgimento que vai sentindo. No Porto, ainda existem algumas lojas que se dedicam de forma exclusiva a esta arte.
Uma delas é a Máquinas de Outros Tempos, situada na rua dos Mártires da Liberdade. O seu dono, Pedro Viterbo, tem a loja há alguns anos e abriu no passado dia 11 de dezembro um anexo ao lado, a nova e oficial Embaixada Lomográfica da Porto. Por essa razão, o JPN partiu à conversa com o gerente para tentar perceber como é possível conseguir abrir uma nova loja de fotografia analógica em 2015.
Mas afinal, a fotografia ressurgiu nos últimos anos? Para o gerente não, a fotografia analógica já estava mais do que afirmada quando surgiu o digital, embora admita que, com ele, “teve um bocadinho mais de poder para com as pessoas”. O problema é que, por causa disso, “qualquer um, neste momento, pode ser fotógrafo”.
Nas palavras do empresário, a evolução da tecnologia “tem ajudado e desajudado” a arte. Ajudou-a, por exemplo, no sentido em que a sua difusão é agora mais rápida. “Podemos ter um evento que ocorreu há cinco minutos atrás e passados estes já está divulgado em qualquer lado”, exemplifica o gerente. Mas no mesmo exemplo mostra que pode ter “desajudado”, pois “qualquer coisa ou assunto pode agora ser notícia, quando às vezes pode nem é nada”.
Com o advento dos smartphones, este problema só se intensificou. É que agora, “envereda-se para selfies e coisas do género, não tirando tanto proveito daquilo que se poderia fazer” com o material que se tem nas mãos. Com isto, cria-se “um egocentrismo muito forte” do qual é extremamente difícil de sair. No entanto, o dono das lojas da rua dos Mártires da Liberdade é perentório na recusa de considerar a fotografia como sendo agora algo de banal. “A fotografia ficou desvalorizada e não banalizada”, afirma.
Os públicos que aí passam
Os públicos que por aí passam são variados e cruzam-se entre si. “Porque precisam de uma câmara analógica para a sua escola, porque gostam do analógico, porque querem fazer uma coleção, ou são aquele hipster que gosta de andar com uma câmara ao pescoço mas não sabe bem o que está a fazer”, brinca Pedro. Tanto na Máquinas de Outros Tempos como na nova Embaixada Lomográfica do Porto passam “desde o entusiasta que quer começar e fazer algo mais, aos fotógrafos profissionais e artísticos portugueses que vêm aqui buscar desde consumíveis a câmaras”.
Os públicos cruzam-se nas lojas de Pedro Viterbo e estas vão-se rapidamente tornando em pontos de referência da fotografia na cidade. “Tenho que fazer o meu trabalho e realmente criar aqui um marco, para que as pessoas se sintam confortáveis com aquilo que estão a fazer, que saibam que estamos cá para as ajudar e para que o analógico também não morra”, conclui.
A lomografia
A lomografia tem sido, cada vez mais, uma área da fotografia analógica em expansão. É precisamente com o crescimento desta corrente que o analógico tem sobrevivido. Na voz do responsável, isto não se deve ao facto de ser apenas analógico, mas sim por se “poder criar algo mais que não o standard”. “As pessoas começam a ficar um pouco mais fartas do digital lhes retirar poder ao que estão a criar”, explica Pedro Viterbo. “Em primeiro, por causa da descoberta, segundo, por causa dos efeitos, terceiro por causa da forma descontraída de se tirar uma fotografia”, enumera como sendo os fatores de sucesso da lomografia.
“Cada vez se nota mais interesse pelo analógico e vejo isso aqui na Máquina de Outros Tempos”, nota Pedro Viterbo. A justificação encontra-se numa mudança de atitude por parte do público, em que “cada vez mais há uma descoberta pelo «eu quero ter poder sobre aquilo que eu estou a tirar» e «quero ter o poder sobre aquilo que estou a fazer»”.
“Enquanto que com a fotografia digital vamos tirar 100 fotografias para aproveitar uma, aqui temos que tirar 12 fotografias para aproveitar 6 no mínimo”, resume Pedro. É esta diferença de controlo criativo a razão pela qual “cada vez mais grandes fotógrafos começam a enveredar outra vez pelo analógico. “Há ali algo mais, há ali aquela magia da fotografia que se perde com o digital”, menciona.
As empresas irmãs
A abertura da nova Embaixada da Lomografia do Porto não foi ideia sua, tendo na verdade surgido no seguimento de uma proposta da própria Lomografia Internacional. A empresa entrou em contacto com Pedro no passado mês de outubro, “visto que a marca estava a morrer” em terras lusas. Tendo reparado o trabalho desenvolvido pela sua loja, conversaram com Pedro sobre o que se poderia fazer para a salvar. “A partir daí então tive posse da marca em Portugal e decidi abrir uma loja”, recorda.
Na sua nova loja, aberta este mês, o fotógrafo tem todo o material necessário para que os clientes tenham uma experiência adequada. Disponibiliza-se tudo, “desde o rolo, às câmaras, e às objetivas”. Os produtos são específicos da lomografia e vão de Dianas a Instântaneas, às Lomo’Instant, às Action Sampler, entre muitas outras.
Nesta quadra natalícia, o que ambas lojas têm vendido mais são “Polaroids, câmaras mais caras, Leicas”. Para Pedro Viterbo, são sobretudo “prendas de última hora”. Além dos objetos materiais, as lojas têm na mesma um estúdio de revelação fotográfica e vão também passar a oferecer “exposições, workshops, saídas fotográficas, visitas, festas” como formas de instruir o seu público e possíveis clientes. “A minha ideia aqui é mesmo um começar de novo e começar a instruí-las para algo mais. Não tirar fotografias só por tirar”, refere.
Fotografia: Mafalda Sousa
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