Luís tinha apenas 15 anos quando o interesse pela política surgiu. E da curiosidade à ação, pouco tardou. Envolveu-se no associativismo estudantil, iniciou a luta pelos seus direitos e os da geração que integra e, aos 22 anos, foi eleito para a Assembleia da República como deputado do Bloco de Esquerda, como o JPN já tinha indicado.
Agora, em entrevista ao JPN, expõe algumas das suas perceções relativamente à complexa relação entre a camada jovem e a política.
Num ano em que a abstenção atingiu os 43,07%, o valor mais elevado desde o 25 de abril, Luís relembra que, em relação às eleições anteriores, “houve mais jovens a votar”. “Isso é bom. Quer dizer que há esperança!”, acrescenta, convicto. Sobre as causas do número recordista, o deputado foge à culpabilização de quem não participa e atribui a falha a quem faz a política, que alimenta continuamente uma narrativa “demolidora do ponto de vista das alternativas”, distancia as pessoas da participação cidadã e desencoraja os jovens do exercício democrático. “É preciso uma democracia mais direta, mas ampla”, reafirma.
A discussão política alargada ao ensino
A subsistência de um regime de uma única narrativa – e cada vez mais fechado a outras possíveis realidades – estende-se ao ensino, assegura o jovem político. Na mesma linha de pensamento, enuncia a perda da disciplina Formação Cívica no ensino básico – “um espaço tão importante de democratização do pensamento, de pensamento crítico” – e aponta que é essencial recuperá-la e alargar novamente os espaços de decisão aos estudantes nas escolas. Para Luís, a escola pública deve ser um “motor de transformação para pensar, imaginar e construir para além do que existe hoje” e, por isso, é fundamental abrir o ensino público a novas fronteiras de discussão.
E é inevitável que, ao abordar a ligação entre o ensino público e os espaços de discussão política, a temática do associativismo estudantil surja, tendo em conta o passado de Luís. Segundo o entrevistado, a existência de uma Associação de Estudantes construtiva do ponto de vista do diálogo, e que funcione como mediador entre a sociedade e a faculdade, é uma das formas de os estudantes adquirirem uma consciência política e social base para pensarem o mundo. “Porque são obrigadas [as AE’s] a receber alunos que perdem a bolsa, porque são obrigadas a reunir-se com os SASUP, porque se sentem na responsabilidade de pensar «porque é que quando um professor se reforma essa cadeira fecha na faculdade?» ou «porque é que temos aulas com mais de 80 alunos numa sala?» Porque se veem obrigados a pensar nesses temas”, enumera.
Juventudes partidárias: consciencialização ou formatação política?
“Não há política para os pequeninos e política para os adultos, a política é para todos”, afirma, mal a temática das juventudes partidárias vem ao de cima. Para Luís, não restam dúvidas de que estas são “aparelhos ultrapassados do ponto de vista de participação política e transformação social” e que sobrevivem, essencialmente, do “fabrico de políticos profissionais”. E “mais do que formar políticos, é necessário formar cidadãos ativos”, reforça, o que só se faz multiplicando os espaços de discussão, no lugar de restringir o debate a certos grupos.
A pertinência da participação jovem
Na mensagem que Luís Monteiro transmite nas suas declarações estão continuamente inerentes os conceitos de “luta” e “mudança”. Dirigindo-se à “geração mais bem qualificada do país”, aos que foram expulsos pelas políticas instituídas em Portugal, e aos que continuam à procura de condições que os façam ficar, o deputado insiste: “E só com a participação dos jovens na política é que é possível reverter uma política altamente injusta para quem tem estudado e sobrevivido cá. Só com uma participação política cidadã é que vamos reconquistar o nosso espaço na política e na sociedade”.
As próximas eleições, desta vez para o cargo de Presidente da República, acontecem no próximo dia 24 de janeiro.