Um lugar onde se encontram pessoas de todo o mundo que vêm explorar o gosto pela leitura e pela arquitetura. A Livraria Lello, considerada uma das mais belas do mundo, faz esta quarta-feira 110 anos. José Manuel Lello, um dos responsáveis da livraria, conta ao JPN, que a inauguração, em 1906, “teve impacto em todo o país e foi notícia no Brasil e em outros países”. “Havia a intenção de construir um edifício extraordinário, de fazer uma livraria única e marcante. Foi um projeto muito ambicioso”, explica José Manuel Lello.

Durante muitos anos, a venda de livros só era realizada no rés-do-chão da livraria, sendo que no primeiro andar ficavam os escritórios da editora. Há cerca de 20 anos, José Manuel Lello conseguiu que todo o edifício se enchesse de livros: “Foi uma tarefa muito complicada, mas é uma obra de que muito me orgulho. Havia uma ambição de ser a melhor livraria do Porto e a nível nacional e o objetivo foi alcançado”.

A arquitetura e a decoração da livraria também são fortes atrações. “A fachada em estilo neo-gótico é muito invulgar em Portugal. No interior há uma mistura de estilos, com uma arquitetura singular. Não há ninguém que entre aqui que não fique espantado”, refere José Manuel Lello.

A Lello passou a ser “exportadora da cultura portuguesa”

No ano passado, surgiu a ideia de vender vouchers de entrada no valor de 3 euros que são descontados na compra de um livro. Um dos objetivos desta medida era baixar o número de pessoas dentro da loja.

De quase 5 mil pessoas por dia – um número incomportável, de acordo com os responsáveis – passaram a ter cerca de 2.500 visitantes diários no verão e, na época baixa, as entradas rondam as 1.500 por dia. José Manuel Lello considera que as pessoas que deixaram de ir à Lello, “são aquelas que não têm qualquer tipo de interesse ou na parte da livraria ou na parte arquitetónica”.

Esta medida também levou a que mais pessoas comprassem mais livros. No segundo semestre de 2014, as vendas não chegavam aos 200 livros diários. Em igual período de 2015, foram vendidos 500 livros por dia. “Voltamos a ser aquilo que sempre quisemos ser, que é uma boa livraria. Hoje em dia, as pessoas vêm aqui e querem comprar livros”, orgulha-se José Manuel Lello.

Uma das grandes apostas é a tradução de literatura portuguesa para várias línguas, como francês, inglês, espanhol e, mais recentemente, o italiano, tendo em conta o número de turistas que passam diariamente pela livraria. Desde a implementação do sistema de vouchers, as vendas de livros traduzidos para espanhol aumentaram 45 vezes e os livros traduzidos para inglês cresceram 10 vezes. “Passamos a ser exportadores da cultura portuguesa”, assinala o bisneto de um dos fundadores da Lello.

110 anos celebrados com doces e música

Esta quarta-feira, a entrada na Livraria Lello vai ser gratuita. A partir das 10 da manhã, há vários momentos com música e representação. A Banda Filarmónica do Porto vai atuar com o seu quarteto de saxofones. Em frente à livraria vai ser criada uma instalação com 110 exemplares de “A Lágrima”, de Guerra Junqueiro, que vão ser distribuídos pelas pessoas que passarem pela livraria.   

Os doces também vão ter lugar no 110º aniversário da Livraria Lello. Quem visitar a livraria pode festejar com vinho do Porto e provar os pastéis de nata de Alcobaça, os jesuítas de Santo Tirso e as bolas de Berlim do Natário, de Viana do Castelo.  

Os primeiros 1000 visitantes neste dia de aniversário vão receber um colecionável de fotografias antigas da livraria, tiradas no dia da sua inauguração, em 1906.

José Manuel Lello destaca a visita do Ministro da Cultura, João Soares, “um homem dos livros”, e o concerto comemorativo dos 110 anos da Livraria Lello, cortesia da Irmandade dos Clérigos, depois do fecho da loja, às 21h00.

Balanço de 2015 e perspetivas para 2016

O ano passado foi um ano “inesquecível e de viragem” para a livraria não só pelo efeito provocado pela implementação da venda de vouchers mas também pela entrada de Pedro Pinto para a sociedade. “Trouxe um dinamismo e uma experiência de gestão e marketing fora da área dos livros que foi extremamente marcante”, revela ao JPN José Manuel Lello.

Em 2016, José Manuel Lello não espera menos: “As perspetivas são boas e estamos muito confiantes. Mas ainda temos uma margem muito grande de aperfeiçoamento e de crescimento”.