Em junho de 2014, o barril de Brent, que serve de referência às importações portuguesas, andava pelos 115 dólares. O produto foi negociado na casa dos 30 dólares esta madrugada, o valor mais baixo em 12 anos.

A Morgan Stanley juntou-se, esta segunda-feira, ao Goldman Sachs no alerta para uma possível queda do preço do petróleo até aos 20 dólares. Só as razões que baseiam as previsões diferem. E são muitas.

O arrefecimento da economia chinesa, a sobreprodução, a expectativa de abrandamento no consumo da matéria-prima, a valorização do dólar e a instabilidade no Médio Oriente são fatores apontados.

“Há analistas que preveem que o preço pode baixar ainda mais, até aos 18 dólares”, afirma Isabel Soares ao JPN. A professora da Faculdade de Economia do Porto garante, no entanto, que “é muito difícil de prever” até onde pode ir esta quebra.

Certo é que para a situação atual contribuíram ainda outras razões. Os “centros consumidores” estão a substituir o petróleo há vários anos como matéria de geração de energia, ao mesmo tempo “há países que têm conseguido avanços fabulosos em matéria de eficiência energética”, aponta Isabel Soares.

“Quanto mais baixo for o preço do petróleo, uma parte substancial da exploração do petróleo fora do espaço do Médio Oriente começa a não compensar”, explica. “Se o preço desce demasiado significa que há várias extrações que vão parar. Porque não vão entrar em perdas demasiadas”.

O presidente da Organização dos Países Exploradores de Petróleo (OPEP), o nigeriano Emmanuel Kachikwu, anunciou esta terça-feira que alguns países requereram uma reunião antecipada dos membros da OPEP, prevendo-se que seja discutido um corte na produção.

Isabel Soares aponta nesse sentido: “Se o preço continuar a descer, vai haver uma retração da oferta, isto é, da produção. Pode ser compensada ou não pelos países árabes, nomeadamente pela Arábia Saudita. Porque é que a Arábia Saudita tem a possibilidade de o fazer? Porque é um país em que o custo de produção é dos mais baixos, o petróleo é de grande qualidade, ainda por cima tem uma capacidade de refinação grande e tem uma enorme capacidade de armazenamento e de exportação. Portanto, pode fazê-lo. Até pode retê-lo para fazer subir o preço porque tem uma capacidade de armazenagem louca”.

Na opinião da docente, os sauditas estão a “fazer claramente um jogo estratégico”, com o grande objetivo de “arrumar com o Irão, passe a expressão”.

Neste caldo, não deve ser esquecido o gás de xisto. Os Estados Unidos estão prestes a exportá-lo para a Europa “a um preço muito baixo”, um forte concorrente do petróleo.

Até quando?

Algumas previsões assumem a possibilidade do preço do petróleo andar pelos níveis registados por estes dias ao longo de todo o ano, mas a previsão é difícil tendo em conta a quantidade de variáveis envolvidas.

Isabel Soares, professora de Economia de Mercados Energéticos e de Avaliação de Investimento, não tem dúvidas que os valores atuais não são para ficar. “É natural que o preço do petróleo mais tarde ou mais cedo vá subir. E há mesmo analistas que dizem que quanto maior é a descida maior é a subida. Portanto, não me admirava nada que dentro de um ano, um ano e pouco, tenhamos aí outra subida do petróleo. E grande”, alerta.

Entre as principais vítimas do cenário atual de acentuada baixa de preços estão as populações daqueles países que, dependendo em larga medida das receitas do petróleo, têm elevados gastos na sua exploração, porque o fazem em grande medida offshore. É o caso de países como Angola e o Brasil.

“Essas populações são extremamente vulneráveis porque precisam de exportar quase tudo, baseiam o seu desenvolvimento na indústria energética e estão a fazer erros há muitos anos e precisam desesperadamente de divisas para comprarem muitas vezes bens essenciais”, remata Isabel Soares.