É preciso pensar e refletir sobre a pedagogia. Esta é a máximo do projeto “De Par em Par” (DPEP), criado na Universidade do Porto (UP), que apresentou quarta-feira os resultados obtidos no primeiro semestre deste ano letivo.

O exercício não é simples, e torna-se, quase sempre, uma surpresa. Abrir a porta da sala de aula à observação de outros docentes é desafiante e é na troca de experiências que está o ganho. Quem o diz é Ana Mouraz, da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP), uma das fundadores do projeto em conjunto com João Pedro Pêgo, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP).

“A valorização da dimensão pedagógica estava um bocadinho arredada das conversas do Ensino Superior”, menciona ao JPN.  Para combater esta falha e fazer germinar o espírito crítico e de intervenção entre os professores, surge em 2009 o “De Par Em Par”, um projeto no qual os docentes da UP são simultaneamente observadores e observados.

Como funciona

O programa de observação “De Par em Par” é uma experiência que trabalha pequenos grupos de docentes numa lógica de quartetos. Cada quatro professores trabalha ao longo do semestre numa troca e reflexão de ideias, opiniões e experiências. A multidisciplinariedade e a simetria inerentes tornam, nas palavras de Ana Mouraz, o projeto mais equilibrado.

O DPEP arrancou com as faculdades de Psicologia e Ciências da Educação e de Engenharia, mas rapidamente se alargou a todo o universo da Universidade. E é a multidisciplinaridade uma das máximas que confere ao trabalho resultados, uma vez que, fruto da experiência, surgiram já unidades curriculares  e projetos de investigação em parceria.

 

No primeiro semestre de 2015/2016 participaram 20 docentes no “De Par em Par”, oriundos das mais diversas áreas científicas. A preocupação? Melhorar. “Eu acho que estes professores que participam no ‘De Par em Par’, e não tenho problema em dizê-lo, são mesmo bons professores. Primeiro porque abriram a porta da sua sala de aula e ninguém abre se não tiver um bocadinho de segurança para essa abertura”, indica Ana Mouraz. O número de participantes é apontado como uma das fragilidades do DPEP e a primeira edição foi a que teve mais docentes inscritos, cerca de 60.

O encontro desta quarta-feira contou com grande parte dos voluntários do projeto, que se reuniram na FPCEUP para discutir os resultados. O projeto garante o anonimato dos guiões preenchidos pelos professores no final da experiência, mas os resultados são tratados de forma a apresentar o que foi salientado pelos participantes.

O ambiente de descontração nunca deixou de lado a crítica e o debate. A preocupação em motivar os estudantes através de novas estratégias é um objetivo comum, traçado igualmente por Pedro Teixeira, vice-reitor da UP, no início da sessão.

Desfragmentar o ensino

O problema da falta de aposta na pedagogia não é exclusivo do Ensino Superior. De forma a aproximar a Universidade do Ensino Secundário, o “UP Inter ParES” surge este ano letivo. A ideia foi lançar o desafio a escolas secundárias e aplicar o modelo do DPEP, criando pontes entre professores de disciplinas sujeitas a exame nacional com colegas das mesmas áreas do ensino universitário.

A Escola Secundária Camilo Castelo Branco, de Famalicão, é a pioneira e Bárbara Alvar, professora de Matemática na escola, explica ao JPN que o propósito da parceria partiu da necessidade de combater o abandono escolar no primeiro ano do Ensino Superior. “O nosso objetivo foi aproximar e ver as práticas dos colegas universitários para saber para onde vão os nossos alunos”,  refere. A docente aponta algumas diferenças nos dois ensinos, nomeadamente a falta de apoio individual e personalizado no Ensino Superior.

Os resultados do “UP Inter ParES” apontam para mais-valias claras. O cruzar de pensamentos e experiências é para continuar.