A reversão do processo de privatização da TAP, fechado no fim de semana entre o Governo e o grupo Gateway, “são boas notícias” para o presidente da Câmara Municipal do Porto (CMP), Rui Moreira, mas à condição.
“Aquilo que o senhor primeiro-ministro disse, e disse-o no Porto, durante o fim de semana, é que o Estado, ao reassumir 50% do controlo da TAP, passará a ter a definição estratégica das rotas e, no fundo, do serviço público da TAP. A ser assim, com certeza que são boas notícias”, declarou o presidente da CMP esta segunda-feira, em conferência de imprensa.
A autarquia espera que a ação do Governo seja rápida: “É necessário que sejam dadas ordens à TAP para imediatamente restabelecer as ligações que [planeiam ser] interrompidas. Estamos a falar das ligações para destinos muito importantes para o Aeroporto Francisco Sá Carneiro e já agora que acabem com a brincadeira da Galiza que nos parece uma brincadeira de mau gosto”, referiu o autarca.
A CMP tem vindo a acusar a TAP de seguir uma estratégia de esvaziamento do Aeroporto Francisco Sá Carneiro e de concentrar toda a estratégia em Lisboa. Depois de, na semana passada, ter avançado que os voos que a TAP pretende suprimir tiveram taxas de ocupação a rondar os 90% em 2015, a autarquia volta a revelar dados que apontam no sentido da saída da TAP do Porto.
Com base em relatórios da ANA, da Associação Nacional de Aviação Civil (ANAC) e da própria da TAP, a Câmara concluiu que a quota de mercado da TAP em Pedras Rubras passou de 40 para 20% entre 2009 e 2015.
“Nos últimos seis anos, o ‘share’ da TAP no Porto baixou para metade, enquanto em Lisboa se manteve. Em Faro, a TAP praticamente desapareceu. Desapareceu também nas ilhas. Se a TAP quer ser um parceiro estratégico do país, e é isso que justifica que o Estado invista na TAP e agora reassuma 50% das suas competências, isso implica que a TAP preste um serviço público e desse serviço público faz parte o Aeroporto Francisco Sá Carneiro que a TAP tem abandonado e deixará, com certeza, de abandonar”, afirmou Rui Moreira aos jornalistas.
O presidente da Câmara do Porto confirmou que foi pedida uma reunião com o ministro Pedro Marques, que tem a tutela da TAP. A data do encontro ainda não é conhecida.
Rui Moreira avançou ainda que a TAP, além de planear a supressão dos voos para Barcelona, Bruxelas, Milão e Roma, terá também a intenção de cortar sete voos semanais da ligação do Porto a Londres/Gatwick. Manter esta operação é, por agora, o mais importante, na opinião do autarca.
Ao todo, nas contas da Câmara, a TAP quer suprimir 52 voos semanais a partir do Porto, mais de um quarto dos 204 atualmente assegurados pela transportadora aérea. E o problema não se coloca só a Norte.
“Em Faro, por exemplo, a TAP representa neste momento 4/5% da operação. É inacreditável. Ou nas Ilhas. Em Ponta Delgada, onde representa 7% da operação, praticamente desapareceu. Se a TAP é um ativo estratégico, se vamos pagar a TAP com os nosso impostos, então, ela deve prestar um serviço público”, exige Rui Moreira que quer os planos de supressão de ligações parados pelo Governo “rapidamente e em força”.
Ryanair já transporta metade dos passageiros no Porto
Segundo os números recolhidos pela CMP, no último trimestre de 2015 a Ryanair era, de longe, a operadora com a maior quota de mercado no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, com 41% dos passageiros. A TAP é a segunda com 20%.
A autarquia confirma contactos com outras operadoras aéreas tendo em vista a eventual saída da TAP das quatro ligações europeias já referidas, mas a prioridade é que se mantenha a operação atual da TAP no aeroporto de Pedras Rubras.