O Porto vai continuar a lutar pela manutenção da atual operação da TAP no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, assumiu esta quarta-feira Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, ao seu executivo camarário.

“Ainda não chegou o tempo de nos calarmos e de nos conformarmos”, frisou o autarca em resposta às intervenções de vários vereadores que assumiram a sua solidariedade com Rui Moreira na condução do processo que envolve a TAP, o Governo e a região Norte do país.

O vereador Alberto Amorim Pereira foi um dos que considerou que a Cãmara “deve começar imediatamente a trabalhar no sentido de acautelar os interesses do Porto focando-se nas companhias interessadas no Porto”, dando o exemplo da British Airways e da Lufthansa que recentemente anunciaram novas ligações à Invicta.

Rui Moreira discorda parcialmente. Há contactos feitos com outras companhias, mas manter a operação da TAP continua a ser a prioridade. Trata-se de “uma marcação à zona” para continuar. Se não resultar, pode seguir-se um apelo ao boicote: “Poderá chegar o tempo de apelarmos à população de toda a região Norte para não voar pela TAP porque esse é o discurso que os privados compreendem”, advertiu Rui Moreira.

“Até pode chamar a PIDE”

O presidente da Câmara Municipal do Porto revelou ainda durante a reunião desta quarta-feira que a polémica que envolve a TAP e o Porto já ultrapassou a fronteira. “O senhor presidente da Câmara de Vigo pediu hoje à União Europeia para investigar as minhas palavras sobre [a ligação que a TAP pretende abrir entre] Vigo e Lisboa. Por mim, até pode chamar a PIDE. O presidente da Câmara do Porto não receia as palavras que proferiu sobre esta matéria e não recebe lições de Vigo”, declarou Rui Moreira aos vereadores presentes.

“Continuo a dizer que a estratégia da TAP de fazer um voo para Vigo que chega a Lisboa às 21h45 e reforçar as ligações à Corunha é um insulto à cidade do Porto e uma tentativa de destruir o Aeroporto Francisco Sá Carneiro”, acrescentou o edil.

Rui Moreira considera ainda que o problema levantado pelas decisões da TAP não se resolve com um processo de regionalização. É, na visão do presidente da autarquia do Porto, um problema de regime. Um regime que considera “obcecado em construir a capital que o império abandonou”.

Até onde vai o Governo

A TAP anunciou em janeiro que vai terminar com as ligações do Porto a Barcelona, Bruxelas, Milão e Roma a partir de 27 de março por considerá-las deficitárias. A CMP revelou que estes voos tiveram em 2015 uma taxa de ocupação média a rondar os 90%. A transportadora deve ainda acabar com o voo noturno de ligação de Gatwick (Londres) ao Porto. Por outro lado, a empresa anunciou o lançamento de uma ponte aérea entre o Porto e Lisboa, que vai aumentar a frequência de voos entre as duas cidades. Solução que continua a não convencer Rui Moreira.

Várias entidades da cidade e da região manifestaram-se contra a posição da TAP. A autarquia do Porto assumiu que o processo mudaria de figura caso o Estado revertesse o processo de privatização da TAP. O Governo anunciou no fim de semana ter chegado a acordo com o consórcio de Humberto Pedrosa e David Neelman.

O acordo assinado torna o Estado o maior acionista da empresa, não sendo contudo acionista maioritário. Com 50% das ações da companhia, com a possibilidade de nomear seis administradores e o presidente do Conselho de Administração – que terá voto de qualidade – o presidente da Câmara do Porto veio afirmar, na segunda-feira, que confia que o Governo atue no sentido da reversão do processo em relação ao Porto.

“Se a TAP quer ser um parceiro estratégico do país, e é isso que justifica que o Estado invista na TAP e agora reassuma 50% das suas competências, isso implica que a TAP preste um serviço público e desse serviço público faz parte o Aeroporto Francisco Sá Carneiro”, declarou Rui Moreira.

A Câmara vai reunir-se com o ministro Pedro Marques, do Planeamento e das Infraestruturas, que tutela a TAP em data ainda por anunciar. Ainda na segunda-feira, e de acordo com uma notícia avançada pelo Jornal 2 da RTP, o gabinete deste Ministério terá assegurado à estação pública que a definição das rotas que a TAP pretende interromper no Porto não cabe no conceito de decisão estratégica e que a gestão operacional cabe em exclusivo à comissão executiva, sob tutela dos privados.