Mariano Rajoy defendeu, esta quinta-feira, a possibilidade de realização de novas eleições gerais em Espanha. As declarações feitas em Bruxelas, a propósito da reunião do Conselho Europeu, reforçam uma possibilidade que é cada vez mais certa.

Rúben Sanz Ferrero, de 20 anos, considera que a realização de um novo ato eleitoral não trará establidade. “Creio que ninguém acredita nisso. Em Espanha as pessoas estão cansadas” de uma política de pactos que não tem resultados e de que “toda a gente prometa, mas ninguém cumpra”. O estudante da Universidade de Saragoça acha que o “Estado vai estar mais fraturado, vai ser mais difícil tomar decisões” caso se realizem eleições em junho, como prevê Mariano Rajoy.

Também Judith Parguiña, de 20 anos, acredita que a realização de um novo ato eleitoral não traria novidades. “Os resultados mostraram mesmo isso, foram uns resultados muito heterogéneos. Se convocamos eleições e voltam a estar em primeiro os dois partidos, não avançamos nada”, defende a estudante da Universidade Carlos III de Madrid.

Uma nova ida às urnas pode influenciar os votos mais indecisos, admite Laura Mazarico. “Mudaria bastante o voto. Eu acho que, por exemplo, os votos de Ciudadanos passam para o PP, procurando um governo estável. Por outro, acredito que uma parte dos votos no PSOE passariam para o Podemos.” Segundo a estudante de Jornalismo de 20 anos, o mau resultado do Cuidadanos nas eleições de dezembro deita por terra a possibilidade de fazer parte do Governo.

As eleições de dezembro

À semelhança do sucedido em Portugal, o líder do partido mais votado nas eleições de dezembro não reúniu consenso e apoio parlamentar. Quando indigitado pelo Rei de Espanha, Filipe VI, Rajoy recusou formar Governo. O Rei passou a responsabilidade de constituir um Executivo a Pedro Sánchez, líder da oposição socialista (PSOE).

O líder do Partido Popular (PP) acredita que “existe uma maioria absoluta” contra si. Mariano Rajoy enfrenta uma possível coligação da oposição à esquerda, constituída pelo PSOE, Podemos e Izquierda Unida.

No entanto, o peso orçamental de uma nova eleição pesa na opinião das duas estudantes. Uma nova corrida eleitoral ao Palácio da Moncloa, associada a elevados custos de campanha, pode acentuar a desconfiança dos jovens no órgão de Estado.

Os três estudantes acreditam que o desinteresse dos jovens pela política é generalizado. Ainda quando estes se interessam pela política, os jovens sentem-se “sem esperança e representação”, admite Laura. “No ciclo em que eu me movo, discutimos muito política, mas não há nenhuma opção que nos agrade completamente”, confessa. Judith acreditava que as últimas eleições poderiam ser “uma mudança, um passo à frente”, o que acabou por não se concretizar.

Política de pactos ao centro e à esquerda

Mariano Rajoy defende um Governo de bloco central, tendo oferecido, na quinta-feira, a vice-presidência a Pedro Sánchez do PSOE e a Albert Riviera do Ciudadanos. Ruben rejeita a presença do Partido Popular no Governo, que diz culpado por “medidas desumanas”. O estudante critica o líder do PP pelas sucessivas faltas a eventos públicos e debates televisivos. “Não vai a programas de televisão nem entrevistas. Não está a fazer nenhuma campanha eleitoral. Não se preocupa pelos seus cidadãos”, acusa.

Laura partilha a opinião de que Rajoy não conseguirá um acordo pela via centrista. A estudante da Universidade de Saragoça acredita que as diferenças ideológicas do PP e PSOE são incompatíveis: “São polos opostos. Sempre se meteram um com o outro, anulando as leis um do outro quando chegavam ao poder”. A jovem defende que o único ponto comum é “a busca pelo dinheiro e o poder”.

Ruben é o mais indeciso. O estudante de 20 anos recusa totalmente o maior partido da direita, mas o Podemos também não o convence. “Notou-se muito que quando estava próximo do poder queria mais governar do que cumprir as espectativas que prometeu”, admite. Para o jovem “nenhuma coligação é boa, porque todos têm que rejeitar medidas prometidas”, mas considera um acordo à esquerda “o menos mal”.

A história da democracia espanhola tem sido marcada pela rotação do poder entre os dois partidos históricos, com forte apoio social. No entanto, com a formação do Podemos em 2014, as contas nas urnas não êseguido o padrão do bipartidarismo.

É este o partido que Laura, de 20 anos, espera um dia ver no poder. A força política de Pablo Iglésias participou nas eleições europeias, tendo eleito cinco deputados. Apenas quatro meses após a sua formação, o Podemos afirmou-se como um forte opositor ao equilíbrio bipartidário do Governo espanhol. A popularidade do partido de esquerda manteve-se em alta nas eleições de dezembro, nas quais conquistou 20,66% dos votos, ficando a menos de dois pontos percentuais do PSOE.

Pablo Iglesias não cai nas graças de Ruben. “A maioria das pessoas que tinha à minha volta acreditavam que o Pablo Iglesias seria um possível primeiro-ministro, mas eu acho que ele não pode governar”. Uma coligação com o PSOE e a Izquierda Unida é o grande objetivo do Podemos. No entanto, a questão Catalã, em que o Podemos exige um referendo popular sobre a independência, esfria a relações entre os partidos à esquerda.

Ao fim de dois meses de impasse, a política de coligações parece dividir ainda mais as opiniões dos jovens.

 

Artigo editado por Filipa Silva