O sábado em Belas Artes foi diferente: “Só me lembro de haver palmas no cinema quando era garoto”, afirmou ao JPN Vítor Oliveira, coordenador do projeto “Cinema de Bairro”.

A iniciativa começou no início do mês de fevereiro com o objetivo de abrir as portas da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP) à cidade e já começa a colher frutos. São cada vez mais as pessoas a entrar na instituição para assistir aos filmes de sábado à tarde.

O tema escolhido para a terceira edição foi o fascismo italiano durante a Segunda Guerra Mundial. Um filme de Roberto Rossellini a preto e branco, que conta a repressão vivida na altura, conjugada com o sentimento de superioridade dos alemães. Cenas de tortura, vícios, invasões das tropas nazis e religião foram uma constante durante a história.

À falta de pipocas, risos e comentários não faltaram durante a exibição. Aos poucos as pessoas iam chegando, compondo o auditório e juntando-se àquelas que já assistiam desde início. Imagens intensas marcaram o final do filme, que despoletou uma salva de palmas, algo que aqueceu o anfiteatro “gelado”.

A receita é simples: filmes de qualidade para todos e um ambiente descontraído. “Não é uma cinematografia muito erudita, muito para os entendidos do cinema, os especialistas só sobre arte, nada. É uma filmografia aberta”, explicou o diretor da FBAUP, José Paiva. Os filmes transmitidos, de várias épocas, “não são tão acessíveis nos espaços mediáticos como a televisão”, completou Vítor Oliveira.

Um projeto que não promete final

A era atual do consumismo levou os cinemas para as grandes superfícies e alterou hábitos de lazer. Enquanto profissionais ligados ao mundo das artes, Vítor Oliveira e José Paiva sentem-se “bem a divulgar o cinema e dar a possibilidade de contrariar o deserto que o cinema criou nas pessoas”. Os docentes acreditam que as pessoas “esquecem-se que é importante passear” e, por isso, tentam que vejam a faculdade como um espaço de lazer e “relacional”.

Para além de poderem assistir às sessões de cinema aos sábados, podem também visitar os jardins e as exposições. O contacto dos alunos com as pessoas de fora também é uma vantagem que permite estarem mais abertos a novos mundos. É com essa familiaridade que o projeto ganha vida. Tem como público principal os “vizinhos” que até, então, nunca tinham entrado na faculdade.

Entre risos e aplausos em cada sessão, este é um projeto que não promete um final. Para março, estão garantidos 4 filmes: “Minha Mãe”, de Nanni Moretti, “Bárbara”, de Christian Petzhold, “A Uma Hora Incerta”, de Carlos Saboga e “Bom Dia / Ohayo”, de Yasujiro Ozu.

Artigo editado por Sara Gerivaz