Umberto Eco,  académico italiano de 84 anos, morreu esta sexta-feira, 19 de fevereiro, em Milão. Além de escritor, Eco foi filósofo, crítico literário, semiólogo e professor universitário, tendo dado aulas de Estética, Literatura e Semiótica na Universidade de Bolonha.

O autor de vários ensaios académicos fundou, com quase 40 anos, a revista “Versus”, dedicada a estudos semióticos, ou seja, à análise dos signos, das relações entre eles, e dos processos de significação. Na vasta obra que criou, Umberto Eco procurou dissipar dúvidas e introduziu conceitos sobre os tipos de signos que julgava existir.

O que é a Semiótica?

Semiótica é a ciência que estuda todos os fenómenos naturais e culturais como sistemas sígnicos, através de processos de significação. Aplica-se no estudo da Comunicação, da Filosofia e da Linguística. Consolidou os seus princípios entre o fim do século XIX e o início do século XX, sob a alçada de dois cientistas pioneiros: o norte-americano Peirce (cariz filosófico) e o suíço Saussure (Linguística).

Jorge Marinho, professor de semiótica na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, caracteriza Umberto Eco como um “autor de referência” que facilita o “deciframento da vida”. Reconhece-lhe o mérito de ter sido um ícone da era em que viveu e declara que vai perdurar na “memória dos tempos”. Ainda que estejamos perante uma “sociedade amnésica”, Jorge Marinho considera que os ecos de Eco vão perdurar.

Enquanto resumia de forma coerente todo o conhecimento em volta da área, Umberto Eco procurou unir ideias de vários autores, diferentes na forma mas semelhantes na base. Essa vontade refletiu-se também no modo como olhava para a ordem política e económica europeia. Eco era apoiante da União Europeia, por acreditar na superioridade da cultura una em relação às diferenças linguísticas.

Além das suas obras académicas, Umberto Eco ganhou visibilidade como romancista. Apaixonado por histórias e conspirações, tinha uma biblioteca de cerca de 50 mil livros.

Lançou “O nome da Rosa” em 1980, que podia ter-se chamado “O nome de Umberto” por lhe ter dado notoriedade. Traduzido para mais de 30 línguas e vencedor de vários prémios literários, o livro foi um sucesso de vendas, tornando-se logo num dos mais vendidos a nível internacional. Como forma de criticar o jornalismo sensacionalista e ao serviço dos poderosos, surgiu a obra “Número Zero”, uma reflexão sobre a “macchina del fango” (máquina de lama).

Além de expôr o jornalismo manipulador e do excesso de informação que as redes sociais veiculam e distorcem, o filósofo era crítico do lado acrítico do ser humano, principalmente no que dizia respeito à passividade das pessoas em relação aos escândalos de corrupção. O facto de ter sido educado sob uma linha fascista durante a II Guerra Mundial, não o impediu de se maravilhar quando, depois da queda do fascismo, descobriu a existência de novos jornais, novos partidos e novas ideias. Foi assim que percebeu que tinha havido uma passagem de uma ditadura para uma democracia.

Em entrevista ao jornal Expresso, em 2015, Umberto Eco falou da boa memória que o fazia recordar o que os outros esqueciam. “Provavelmente no momento da minha morte vou lembrar-me de tudo, mas já vai ser tarde para o contar”, disse ao jornalista. Agora que esse momento chegou, os leitores aguardam as últimas histórias. O seu último livro, Pape Satàn Aleppe”, vai ser publicado em maio e reúne crónicas publicadas na revista “L’Espresso” desde 2000, segundo a editora  Navio de Teseu, que ele próprio fundou.

 

Artigo editado por Filipa Silva