O Fantasporto conta, este ano, com mais de 43 antestreias mundiais. A seleção dos filmes é feita com muito critério, mas a receita é simples, na opinião de Beatriz Pacheco Pereira: “Tem que ser bom. Há o bom e o mau cinema. Qualquer género, qualquer duração serve desde que o filme seja bom. Mas isto é muito difícil”, confessou a cofundadora do festival.

Entre os vários filmes que vão estar presentes no Teatro Rivoli, o destaque vai para a obra de Milcho Manchevski, um realizador “completamente desconhecido em Portugal” segundo Beatriz Pacheco Pereira. O filme “Dust” marcou a estreia do “Pré-Fantas”, mas é a obra “Before the Rain”, que vai ser exibida no auditório principal na sessão de encerramento, que será o ponto alto do festival.

Para a especialista em cinema, o filme “é absolutamente fantástico”. “O Milcho é um homem que podia ter feito muito mais cinema, passou por um país que atravessou uma guerra”, explicou Beatriz Pacheco Pereira. O realizador vai receber o Prémio Carreira Fantasporto, uma distinção a juntar ao Leão de Ouro do Festival de Veneza conquistado em 1995 e ao Prémio da Fipresci de 1994.

O que esperam os portuenses?

O evento já não é uma novidade para Maria Meireles. Assiste aos filmes do Fantas “desde os tempos do secundário”, porque o cinema está relacionado com a sua área profissional. A diversidade de filmes “que na televisão seriam difíceis de encontrar” levou Maria ao Rivoli. “Escolho alguns filmes de acordo com o país de onde vêm, outras vezes escolho pelos resumos”. Espera que este ano “não haja algumas falhas técnicas na exibição dos filmes como nos anos anteriores” e que se “mantenha a qualidade dos que têm sido mostrados”.

Miguel Nabu também já sabe ao que vem. Os filmes de terror não o intimidam, mas há aspetos que gostaria de ver melhorados: “O ambiente fora dos filmes tem vindo a piorar. O ano passado colocavam sons assustadores na casa de banho e na sala principal”. A diversidade de géneros disponíveis, conjugada com a “boa localização do teatro” prometem continuar a levar Miguel ao festival nas próximas edições.

Sempre que tem oportunidade, Mariana Trevisan para no Rivoli. O ritual de sair de casa para assistir aos filmes “é agradável”. Confessou que não é fã de longas-metragens assustadoras a menos que “sejam muito boas”, caso contrário opta “pelos filmes de fantasia” que também ali pode encontrar. Do conjunto, “90% é só terror”, referiu.

Por ser portuguesa, preferia que a oferta não fosse tão focada nos filmes estrangeiros: “Por vezes, não percebo tudo. Gosto de os perceber na sua totalidade. Uma vez vi um filme inglês de humor negro aqui no Fantas, com as legendas em inglês e por vezes não apanhava as piadas”, contou ao JPN. Para a edição deste ano, espera “ser surpreendida”.

E para quem vem de fora?

O Fantasporto não atrai apenas os habitantes da cidade. A beleza do Teatro Rivoli chamou a atenção de David Castler, norte-americano que veio passar férias na Invicta. Não conhecia o festival: “Estava a caminhar à beira do teatro quando pensei: ‘isto é lindo, parece ser um sítio interessante para se assistir a um filme’”, partilhou com o JPN.

Mais habituado à Invicta está Ariam Pascoali. É brasileiro, mas vive no Porto há quatro anos. Decidiu ir, pela primeira vez, este ano, ao Fantasporto, pois os títulos despertaram-lhe a atenção: “Nos últimos anos, pelo que sei, tem sido só terror, e este ano parece haver mais variedade.” Agrada-lhe o facto de ter que sair de casa para ver os filmes e acredita que o fator surpresa é a grande vantagem do Fantasporto: “No cinema ‘mainstream’, somos bombardeados [de informação] anos antes de o filme estrear. Quando lemos sobre um filme nos media, ele já chega mastigado e não temos nada para ver.” Há uma primeira vez para tudo e para Ariam “as expectativas são muito boas”.

A edição deste ano

A sessão de abertura do Fantasporto está marcada para sexta-feira, 26 de fevereiro, com a antestreia mundial do filme português “Gelo” de Luís e Gonçalo Galvão Teles. A obra conta a história de Catarina, uma jovem nascida do ADN retirado da idade do gelo, que cresce num palácio isolado. A protagonista é Ivana Baquero – de “O Labirinto do Fauno” de Guillermo del Toro -, contando com as atuações de Afonso Pimentel, Albano Jerónimo, Ivo Canelas e Ruth Gabriel.

“Os filmes aqui são catapultados. O Fantasporto está bem e recomenda-se”, afirmou Beatriz Pacheco Pereira. A cofundadora espera encontrar “muita gente jovem, gente a divertir-se”. A diretora do festival recomenda que as pessoas venham às sessões da tarde e fiquem por lá. “A graça do festival é discutir os filmes”, rematou.

O segredo para o sucesso do festival passa por “ter centenas de convidados estrangeiros que vêm cá apresentar os seus trabalhos no palco. E é isso que é importante num festival de cinema, é o interesse que a comunidade internacional tem no evento. Isso mede-se pela quantidade e qualidade dos filmes que chegam”, considera.

Até 6 de março, o festival vai exibir 158 filmes de 40 países, apresentando 43 estreias mundiais e europeias e vai contar com a presença de mais de duas centenas de personalidades do cinema de todo o mundo.

 

Artigo editado por Filipa Silva