A guerra civil da Síria vai ter um cessar-fogo a partir de sábado. O acordo vai entrar em vigor depois de o Governo e os grupos de oposição do país, terem aceite a proposta conjunta dos Estados Unidos da América (EUA) e da Rússia. A informação foi dada esta terça-feira pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da Síria.

Apesar disso, não vão ser paralisadas as operações militares anti-terrorismo conduzidas pelos três países, o que deixa de fora da trégua o autoproclamado Estado Islâmico e a Frente al-Nusra.

A Rússia, aliada do regime de Bashar al-Assad, e os EUA, apoiantes da oposição, emitiram na segunda-feira um comunicado de acordo para exigir que as partes em conflito cessassem as hostilidades. Trata-se de um segundo acordo, depois de um primeiro cessar-fogo no passado dia 19 de fevereiro, que se revelou sem efeito.

O JPN falou com Pedro Gomes Barbosa, do Instituto Luso-Árabe para a Cooperação, que conhece a realidade síria, ainda antes do conflito. Para o professor da Universidade de Lisboa, existe a trégua, agora anunciada, e a “pós-trégua, incerta”, que implica, entre outras coisas, a formação de novos governos. Pedro Barbosa relembra que o acordo de cessar-fogo, aceite por diferentes partes, implica cedências e reivindicações de parte a parte e não se sabe quais são os protocolos anexos ao acordo.

Do acordo anunciado esta terça-feira, estão excluídos o Estado Islâmico e al-Nusra. Se o cessar-fogo vier realmente a acontecer, o regime e a oposição ficam mais livres para combater os dois grupos terroristas, o que no entender do especialista, “convém a todos”.

Para além destas informações e da visão ocidental, Pedro Barbosa alerta que é preciso ver a situação na Síria de um prisma mais próximo, compreendendo-o a fundo.“A guerra na Síria não é apenas na Síria porque há muitas coisas envolvidas”, frisa. Conhecedor profundo da situação, explica que “a Síria é palco de confronto – não de conflito – entre duas potências regionais: a Arábia Saudita, sunita, e o Irão, xiita”.

Segundo Pedro Gomes Barbosa, acreditar no término do conflito, “neste momento é difícil, embora desejável”, até porque os combates não vão cessar em todo o espaço sírio. Com o acordo entre EUA e Rússia é de esperar algum desenvolvimento positivo e “haverá probabilidade” de mais entendimentos para “que as coisas acalmem”, na visão do subdiretor do Instituto Luso-Árabe para a Cooperação.

A guerra civil na Síria iniciou-se em março de 2011 e, segundo o Centro Sírio de Pesquisa Política (SCPR), provocou 470 mil mortos, e quase dois milhões de feridos.

Artigo editado por Sara Gerivaz