Mais de metade dos consumidores que seguem blogues de moda são por eles influenciados na hora de comprar. Esta é a principal conclusão de um estudo do Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM), que procurou avaliar a influência dos blogues nas opções de compra dos seus seguidores.
“Blogues de moda e comportamento de compra: ciclo vicioso ou virtuoso?” é o nome do trabalho desenvolvido para a tese de mestrado de André Carvalho. O autor explica ao JPN que este estudo ajudou a perceber que o consumidor, “apesar de ser cada vez mais influenciado por estas figuras [‘bloggers’], é um consumidor mais atento e mais ciente daquilo que quer”. Além disso, a investigação pode ajudar as marcas a perceber de que forma devem lidar, ou não, com os blogues.
O estudo revelou ainda que 72% dos inquiridos consultam os blogues antes da compra. Cerca de 64% dos seguidores indicou que acede aos blogues de moda “muitas vezes” ou “quase sempre” antes de decidir comprar.
André Carvalho garante que este fenómeno acontece porque o consumidor procura opiniões de outros consumidores que sejam o mais imparciais possível. No entanto, “os ‘bloggers’ deixam de ser simples consumidores e passam quase a ser figuras públicas e por isso cava vez mais vão construindo uma imagem que permite influenciar o consumidor”.
Blogues feitos por outros consumidores são mais credíveis
De acordo com o estudo, 84% dos seguidores atribui uma maior credibilidade aos blogues feitos por consumidores do que aos blogues das marcas. “Neste momento, o consumidor acredita muito mais no testemunho de outros consumidores do que nas próprias marcas. O consumidor espera que, apesar disso já estar a mudar, o ‘blogger’ seja o mais imparcial possível e que realmente esteja a partilhar uma coisa porque gosta e confia naquela marca. Enquanto uma marca nunca vai fazer um idílio negativo sobre o próprio produto”, esclarece André Carvalho.
Diogo Cunha e Bárbara Marques, ambos “bloggers” de moda, concordam com esta afirmação. “Os leitores preferem blogues de pessoas que mostram o seu dia a dia ao invés de marcas, pois estes se identificam com a rotina diária e com lugares e acontecimentos que possam ser experienciados por eles próprios, traduzindo-se numa oferta ‘real’, enquanto as marcam ‘encenam’ uma realidade que muitas vezes é impossível de reproduzir na vida real”, afirma Diogo Cunha.
Quando questionado sobre a influência dos blogues no comércio “online” e no comércio tradicional e/ou físico, André Carvalho explica que, apesar da diferença em aceder a ambos os mercados em termos de rapidez, o efeito é igual nos dois tipos de comércio. Já Bárbara Marques revela que não tem noção da diferença de influência porque não sabe quem chega às lojas físicas através do seu blogue.
Mulheres são as principais seguidoras
“Apesar da diferença se estar a esbater cada vez mais, o público feminino ainda tem um peso enorme na consulta de blogues hoje em dia”, refere André Carvalho. O estudante do IPAM traçou o perfil dos leitores de blogues de moda em Portugal e chegou à conclusão que a esmagadora maioria são mulheres, solteiras, com formação superior e com menos de 35 anos.
O blogue de Diogo Cunha contraria esta tendência: é dirigido, maioritariamente, ao público masculino. Ainda assim tem “alguma influência” nas seguidoras, que procuram saber as tendências do sexo oposto.
Os blogues são comprados pela publicidade?
André Carvalho, Bárbara Marques e Diogo Cunha acreditam que, na maior parte das vezes, isso acontece.
Contudo, Bárbara defende que o blogue deve ser um espaço para divulgar os produtos com os quais os autores se identificam. André Carvalho confirma esta opinião e até prevê que a evolução dos blogues passe pelo posicionamento próximo das marcas. “O ‘blogger’ que não conseguir definir um posicionamento certo e que aceitar o que todas as marcas lhe paguem, vai começar a criar uma desconfiança cada vez maior no consumidor. Enquanto que aqueles ‘bloggers’ que assumam um posicionamento e aceitem apenas as marcas que realmente gostam, vão-se diferenciar dos outros e criar um melhor relacionamento com o cliente”, afirma o autor da tese de mestrado.
Já Diogo Cunha admite que a publicidade ajuda ambos, “porque quantas mais parcerias, mais o blogue vai ser exposto pelas marcas nas suas redes sociais e até mesmo no próprio ‘site’”.
O estudo foi realizado com base num inquérito feito a 498 leitores de blogues.