A segunda sessão das “Quartas-feiras Teóricas”, iniciativa coordenada por Paula Braga, do Teatro Nacional de São João (TNSJ), teve lugar esta quarta-feira no Mosteiro de São Bento da Vitória. A tarde foi dedicada à descoberta do teatro, partindo do mote “Sobre que é o teatro?”.

Desta vez foi o programador de teatro da Culturgest, Francisco Frazão, a tentar responder à questão. O convidado procurou interagir com o público, e a audiência, maioritariamente jovens estudantes da área, correspondeu. A troca de ideias teve em vista o teatro contemporâneo e o seu lugar na sociedade e na mente dos espetadores.

O programador percorreu alguns espetáculos dos últimos dez anos e mostrou excertos de vídeos que se debruçam para uma “tendência mais experimental”. O objetivo era interligar os conteúdos performativos e discutir a oposição entre performance e teatro. O sofrimento amoroso em oposição ao sofrimento humanitário também foi tema de aceso debate.

Paula Braga, coordenadora do Centro de documentação do TNSJ, foi quem teve a ideia das “Quartas-feiras temáticas”. O objetivo do projeto é potenciar o espólio de texto dramático do Centro, bem como de aproveitar o espaço no Mosteiro, tantas vezes “esquecido”. Todas as sessões têm um convidado, que tem “carta branca para, durante três horas, fazer aquilo que entender”, contou Paula ao JPN.

Para Francisco Frazão, esta sessão foi aliciante: “É uma maneira de pensar em voz alta, que é sempre um exercício arriscado, mas muito revigorante”. O facto da iniciativa permitir uma reflexão em conjunto com outras pessoas, sejam da área do teatro ou não, é para o profissional uma mais-valia.

Na opinião da coordenadora da iniciativa, “o teatro está no caminho da arte contemporânea”, mas ainda falta fazer mais. Melhorar a qualidade da formação é o ponto destacado por Paula Braga.

No público, encontravam-se duas alunas da licenciatura de teatro da Universidade do Minho (UM). As jovens vieram de propósito ao Porto para assistir à sessão. O trabalho de Angelica Liddell, produtora e encenadora espanhola, foi o que chamou a atenção de Patrícia Gonçalves. A estudante considerou o evento “muito curioso” porque passou a conhecer nomes de dramaturgos estrangeiros. Para Patrícia, é importante “não só conhecer o panorama português, mas também o resto”. Catarina Gomes confessou que foi à procura de algumas questões, especialmente em relação ao contraposto da performance e do teatro. Em conclusão, achou “bastante esclarecedor”.

Já Rita, atriz de 25 anos, reconhece que é costume marcar presença neste género de eventos. Esta sessão, em particular, aproxima-se à  investigação de mestrado que está a desenvolver. A atriz revelou que a iniciativa tem sido “bastante interessante”, especialmente por causa do debate de “partilha de espaço e partilha de tempo”. Rita destacou também o facto de conseguir entender, com a ajuda de Francisco Frazão, o caráter performativo de muitas apresentações no teatro contemporâneo, “sem lhes dar grande dificuldade na conceção ou na sua realização”.

Rita concluiu que a iniciativa foi bem conseguida, e frisou a versatilidade do público. “Eu acho que é um ponto a favor porque isto vale em vários domínios, não só quem esteja necessariamente a estudar teatro ou a querer fazer teatro é que precisa de estar aqui”, indicou ao JPN. A atriz acrescentou, ainda, que “é bom para todos, porque isto entra noutros domínios como a literatura e as artes plásticas”.

Em relação à pergunta “Sobre que é o teatro?”, é unânime: ninguém consegue responder. “Eu acho que é uma questão que irá existir sempre, não se vai chegar a uma conclusão”, afirmou Catarina Gomes. A amiga concorda: “Essa é sempre uma questão que se vai respondendo se calhar aos bocadinhos, e que abre sempre outras questões”.

O projecto trimestral das “Quartas-feiras temáticas” continua nos próximos meses e está aberto ao público, gratuitamente.