Engana-se quem pensa que os Óscares distinguem exclusivamente atores experientes. Desde a primeira edição, em 1929, que 27 grandes papéis interpretados pelos mais pequenos, não passaram despercebidos à Academia.

O primeiro ator infantil a ser nomeado na categoria de “Melhor Ator” foi Jackie Cooper, com nove anos, pelo trabalho no filme “Skippy” (1931). Patty Duke, de 16 anos, foi a primeira vencedora quando em 1963 ganhou o Óscar de “Melhor Atriz Secundária” pelo filme “O Milagre de Anne Sullivan“.

A última nomeação juvenil foi  de Quvenzhané Wallis, indicada em 2013, pelo papel em “Bestas do Sul Selvagem“. Este ano não há nomeados, mas a prestação de Jacob Tremblay, de nove anos, em “Quarto” mereceu os aplausos do público e da crítica.

 

Óscar Juvenil

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas criou, em 1935, um prémio honorário – o Óscar Juvenil. O objetivo era reconhecer as interpretações dos jovens com menos de 18 anos, uma vez que as crianças nomeadas estariam em desvantagem ao competir com atores mais velhos. Shirley Temple foi a mais nova de sempre a receber o prémio por ter feito nove filmes nesse ano.

O prémio foi atribuído ao longo de 25 anos e a última edição, em 1961, foi entregue a Hayley Mills, de 12 anos, pela sua prestação no filme “Poliana“. A Academia terminou com a atribuição do galardão por considerar que um jovem ator poderia estar ao nível de um colega mais experiente.

De pequenos a grandes atores

Muitos destes pequenos atores singraram em Hollywood e são hoje reconhecidos pelo seu trabalho.

Quvenzhané Wallis é uma delas. Após a nomeação, participou em “12 Anos Escravo” (2013) e “Annie” (2014). Também Hailee Steinfeld continuou ligada ao cinema. Os seus projetos mais recentes são os filmes “Barely Lethal: Missão Adolescência” (2015) e “Um Ritmo Perfeito 2” (2015), no qual alia a representação ao canto.

Saoirse Ronan está nomeada para o Óscar de “Melhor Atriz Principal”, pela prestação em “Brooklyn“. Desde a primeira nomeação em 2008, Ronan tem somado projetos de sucesso. Abigail Breslin, foi nomeada com dez anos, pelo desempenho em “Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos“. A atriz continua ligada à Sétima Arte.

Depois da indicação para “Melhor Atriz”, pelo filme “Encantadora de Baleias“, Keisha Castle-Hughes participou em projetos no cinema e na televisão, como “Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith” (2005), “O Nascimento de Cristo” (2006), “Legend of the Seeker” (2007) e na última temporada de “Game of Thrones“.

Anna Paquin conseguiu um Óscar de “Melhor Atriz” aos 11 anos. A partir daí, trabalhou em teatro, dividida entre Nova Iorque e Londres, e estrelou também a série “Sangue Fresco“. Jodie Foster tornou-se numa das atrizes mais carismáticas de Hollywood. Repetiu a nomeação para “Melhor Atriz”, com o filme “A Estranha em Mim” (2007).

Com dez anos, Tatum O’Neal, ganhou o Óscar de “Melhor Atriz Secundária”, pela fita “Lua de Papel“. A primeira criança nomeada para a categoria de “Melhor Ator”, Jackie Cooper, dedicou a vida ao cinema. Os últimos filmes em que participou foram os da saga “Super-Homem“. Cooper morreu em 2011. Vincent Winter, Brandon De Wilde e Ivan Jandl são alguns dos nomes que constaram na lista de jovens atores que já faleceram.

Quando o cinema deixa de ser opção

Muitos dos atores galardoados na juventude deparam-se com o esmorecimento de carreiras promissoras e optaram por seguir caminhos ligados a outras artes. Mary Badham e Jon Whiteley dedicaram-se à História da Arte.

Já as carreiras de Claude Jarman Jr e Bonita Granville continuaram ligadas ao espetáculo, mas por trás das camaras. Shirley Temple, a galardoada mais jovem de sempre, deparou-se com a diminuição da sua popularidade. Com a carreira cinematográfica de lado, Temple tornou-se embaixadora dos Estados Unidos da América (EUA) na Checoslováquia e no Gana.

“Exigência e rigor podem ser um desafio”

Nem sempre a vida em Hollywood é fácil. Há exemplos mediáticos de como a pressão da fama e do dinheiro fácil, podem conduzir a comportamentos desviantes, como é o caso do ator de “Sozinho em CasaMacaulay Culkin.

No entanto, para a psicóloga infantil, Maria José Corte-Real, “são casos pontuais”. “Não me parece que ser notado cedo, ser toxicodependente ou ter comportamentos desviantes sejam sinónimos”, refere ao JPN.

Mas Bobby Driscoll e Haley Joel Osment são a prova de que essa realidade acontece. Ambos cederam às drogas, o que fez com que muitos realizadores deixassem de os contratar. Driscoll, galardoado com o Óscar juvenil em 1949, chegou mesmo a tornar-se sem-abrigo e foi encontrado morto numa valeta.

Para a psicóloga, os atores mais jovens “têm de ser pessoas muito especiais”, devido à carga emocional a que estão sujeitos. Maria José admite que se as crianças escolherem de livre vontade uma carreira na representação, sem a imposição dos pais, “elas serão mais resilientes e vão gerir isso com mais autonomia”. Por outro lado, “se for por uma certa pressão social, muitos podem não ter estrutura suficiente para aguentar o peso do palco e da luz sobre si”.

O envolvimento das crianças na indústria do cinema está associado a “níveis e fasquias de desempenho muito altas”, o que pode “trazer muito peso para o desenvolvimento” das mesmas, explica a psicóloga.

Maria José levanta a hipótese de que a “exigência e rigor”, “pode ser um desafio” para os jovens e que “os pais têm um papel importante”. “Tudo o que acontece fora de tempo, se não for bem gerido com as figuras parentais, é provável que tenha um impacto negativo”, aponta.

Maria José alerta ainda que cada caso deve ser analisado independentemente e que é importante “não generalizar e não ir por pré-conceitos ou ideias formadas”.

Artigo editado por Sara Gerivaz