Os cheques-dentista passam a abranger jovens de 18 anos que já beneficiavam e tinham concluído o plano de tratamentos aos 16. Mas em que medida é que o programa beneficia a população carenciada?

Os jovens de 18 anos incluídos no Programa Nacional de Promoção de Saúde Oral (PNPSO), que já tinham sido beneficiários e concluído o plano de tratamentos aos 16 anos, vão beneficiar de cheques-dentista, anunciou esta terça-feira o Ministério da Saúde. As crianças com 7, 10 e 13 anos com necessidades especiais de saúde – como portadores de doença mental, paralisia cerebral ou trissomia 21 – também deverão ser apoiadas pelo programa.

Aos jovens infetados com o VIH, que já não façam tratamentos há mais de dois anos, vão ser atribuídos dois cheques-dentista para que possam fazer um ciclo de tratamentos.

A dentista Ana Íris Barros não tem dúvidas que esta medida “dá acesso a mais gente, que não tem oportunidade de usufruir de cuidados de medicina dentária ao nível privado”. Em declarações ao JPN, a médica dentista explica que “há pessoas que só vão ao dentista porque têm um cheque” e que se não o tivessem “continuavam sem ir ao dentista ou iam aos hospitais”.

Apesar do alargamento a jovens mais velhos, a dentista da MedicalNogueira e da Clínica Dentária Dra. Sílvia Alves refere que “não aparecem muitos jovens dos 15 aos 18 anos, mas mais dos 10 aos 13”.

Anabela Peres de Sousa, por sua vez, não acredita nos benefícios do cheque-dentista para a populção. “O cheque-dentista funcionou como propaganda”, defende. A dentista acredita que “a população carenciada não ganha nada com o cheque-dentista, porque se tiver que fazer tratamentos – essa camada social precisa exatamente disso, de tratamento e não de prevenção – não vai aproveitar muito”.

Apesar de achar que a medida é limitada, afirma: “É melhor do que nada. Ficam informados e se calhar previnem a continuação da patologia e evitam que se agrave”.

Para a médica Ana Íris Barros, o PNPSO é vantajoso para os dentistas: “Dá a conhecer a clínica, traz clientes novos”. No entanto, ressalva que existem atrasos no financiamento dessas consultas por parte do Estado. “Às vezes, [as clínicas] estão meio ano sem receber”, garante.

A Clínica Dra. Anabela Peres de Sousa optou por não adotar o programa. “Não tenho espaço para o cheque-dentista. Tenho crianças, pessoas de idade, grávidas que pertencem a uma camada socioeconómica da população que consegue vir, tratar e pagar os seus tratamentos”, conta.

A dentista não crê que o cheque trouxesse vantagens: “Não há nenhuma criança que venha aqui à clínica que eu não faça o que tenho que fazer”. “Viriam aqui mais crianças, mas depois não conseguiriam sustentar os tratamentos que eu iria propor”, acrescenta.

A medida contempla todas as necessidades da população?

Ana Íris Barros acredita que o plano já inclui os grupos de pessoas com mais necessidades, mas defende que doentes de risco, com diabetes ou doenças cardíacas, bem como doentes crónicos deveriam beneficiar do cheque-dentista.

Já Anabela Peres defende que “todos precisam, toda a população tem carência de tratamento dentário”. A médica esclarece: “Temos uma população com falha de dentes enorme, com toma de antibióticos exagerada. A maior parte desses casos resulta de infeções dentárias, infeções crónicas que ficam crónicas por falta de tratamento efetivo”.

Mais do que a medida do Programa Nacional de Promoção de Saúde Oral, Anabela considera positiva a inserção, em Centros de Saúde, de consultas de medicina dentária. “Eu penso que aí sim, vamos conseguir dar uma resposta às necessidades da população. Por exemplo, vamos começar a fazer tratamento de cáries em crianças”, remata.

 

Artigo editado por Filipa Silva