A Universidade Católica do Porto (UCP) dedicou esta terça-feira ao debate sobre a neuroética, numa conferência internacional. O debate do painel da tarde teve como tema central “a translação em ciência”, isto é, a passagem da ciência “do laboratório para a sociedade”.

Falar de neuroética é também falar de neurociência, área sobre a qual temos ainda muito a descobrir. António Jácomo, moderador da sessão, explica: “A neuroética vai estar muito condicionada pelos avanços da neurociência.” O que significa que “o grande desafio é saber como é que nós podemos andar a par da neurociência e não sempre atrás dela.” O ideal, de acordo com o investigador da UCP, seria que a neuroética andasse “à frente da neurociência.”

Ana Sofia Carvalho, diretora do Instituto de Bioética da UCP, acrescenta que a ética deve ser vista “como estímulo e não como entrave”.

Na mesa não se falou apenas da neuroética, falou-se também nas dificuldades de transferir conhecimento científico para as pessoas, o processo designado por translação. Jorge Soares da Fundação Calouste Gulbenkian, enumera algumas das dificuldades que este processo pode enfrentar. “As doenças são experiências da natureza e portanto dificilmente uma é igual à outra.” Para além disso, “há doentes que são saudáveis” e “há uma clara dificuldade na transposição dos resultados dos modelos animais para os modelos humanos”.

Olhando para o caso português, Luís Portela, presidente da Bial, admite que a investigação científica em Portugal tem “alguns calcanhares de Aquiles”. Um deles é que há países europeus, como a Bélgica e a República Checa, onde “o número de ensaios clínicos conduzidos por ano é dez vezes superior ao que se faz em Portugal”. Há, por isso, “um caminho grande a percorrer”, concluiu.

Tal como os restantes oradores, Luís Portela está optimista em relação ao futuro. Garante que há “condições relativamente simpáticas” uma vez que Portugal tem ” instituições de investigação e desenvolvimento de nível excelente no contexto global”.

Ana Sofia Carvalho, por sua parte, gostaria que as agências nacionais de financiamento da ciência não olhassem apenas para o “impacto científico” das investigações, e prestassem mais atenção ao lado económico e social desse impacto. Para a directora do Instituto de Bioética da UCP, não se pode esquecer que “na investigação, a responsabilidade social é extremamente importante.”

Lançada nova bolsa de investigação

No final da conferência foi homenageado o médico Daniel Serrão, autor de uma vasta obra de investigação na área de ética e bioética. A apresentação da “Bolsa de apoio à investigação em neuroética Daniel Serrão” e a apresentação do livro “Daniel Serrão: Notas do meu (des) contentamento” fizeram parte da homenagem.

António Jácomo explicou ao JPN que esta bolsa de investigação pretende dar “algum apoio económico para que, especialmente os jovens investigadores, se dediquem a pensar as questões não só das neurociências, mas também da neuroética.” O professor acrescenta que esta bolsa tem o apoio da Fundação Gulbenkian e da Bial.

 

Artigo editado por Filipa Silva