“Mostrar às pessoas que existem mais coisas para lá do muro” é um dos objetivos da exposição fotográfica “Do Outro Lado”, de Paulo Pimenta. O projeto documental do fotojornalista do Público, desenvolvido em estabelecimentos prisionais do Porto é inaugurado no próximo sábado, pelas 16h00, no MIRA Fórum, em Campanhã.

“É o outro lado dos muros, para vermos para além da prisão”, refere Paulo Pimenta ao JPN. O fotojornalista acompanhou durante um ano e três meses o projeto ECOAR, que consistiu em ações de formação artísticas em quatro estabelecimentos prisionais. Esta é a primeira de quatro iniciativas do ciclo “Arte e Cidadania – Diálogos em Contexto Prisional”, que resulta de uma parceria entre o MIRA Forum e o espaço de desenvolvimento social e cultural PELE.

As experiências de Paulo Pimenta dentro das prisões permitiram-lhe mostrar “aquilo que se passa do lado de dentro do muro, em termos positivos, que não só a comunidade que está lá a cumprir uma pena”. “O meu ‘eu’ esteve do outro lado e tive a oportunidade de ver o desenvolvimento das pessoas através da arte”, explica o fotojornalista. Este trabalho traduz-se numa série de fotografias a preto e branco, em exposição até 2 de abril.

Com arte, educa-se nas prisões

“É do nada que se vê aparecer um peça de teatro, uma cena de dança. É outro mundo dentro daqueles muros”. É a descrição de Paulo Pimenta sobre o projeto ECOAR. Criado em 2009, o projeto da associação PELE leva formações e oficinas educacionais a estabelecimentos prisionais. “Nós desenvolvemos diferentes oficinas artísticas desde teatro, música, dança às artes circenses, com jovens entre os 18 e 30 anos, que se encontram a cumprir pena judicial”, explica Maria João Mota, da PELE.

A responsável destaca que o ECOAR é direcionado a jovens “que não estavam integrados em nenhuma atividade na prisão e que estavam mais afastados da cultura”. “Através da participação e da inclusão, pretende-se estimular os jovens a seguirem percursos mais estruturados, a considerarem opções culturais”, defende Maria João. O objetivo é que estes jovens, a maioria com baixos níveis de escolaridade, obtenham “essas competências e experiências”. “Queremos certificar e dotar os jovens de valências profissionais”, reforça a representante da PELE.

Quase no final do projeto, a evolução nos jovens é visível. “Estamos a ver pessoas a fazer coisas que nunca pensaram fazer. Há um grande reforço na autoestima destes jovens. A surpresa, o êxito, a dedicação. Isso é mágico”, enfatiza Paulo Pimenta.

O ECOAR está a ser desenvolvido desde o início de 2015, no âmbito do Programa Cidadania Ativa da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), e termina em meados de março. O trabalho é feito no Estabelecimento Prisional do Porto, nas prisões masculina, feminina e na clínica psiquiátrica de Santa Cruz do Bispo e no Estabelecimento Prisional de Vale do Sousa. Ao longo do projeto, estiveram envolvidos cerca de 200 jovens. Com as desistências já esperadas pela PELE, cerca de 160 vão terminar a formação.

“Projetos como este dão motivação a quem está lá dentro para começarem uma nova etapa de vida”, acredita o fotojornalista. “É preciso haver mais pessoas como o grupo PELE que acreditam que, através de iniciativas tão básicas e importantes, levam comunidades como estas a outros mundos. É fundamental ajudar estas pessoas a ultrapassar o tal muro que têm à volta”, frisa.

A exposição fotográfica “O Outro Lado” inaugura o ciclo no próximo sábado, dia 5 de março. No domingo, pelas 16h00, são apresentados dois documentários, no MIRA Fórum: “Entrado”, de Paulo Preto e “Inesquecível Emília”, de César Pedro. A última apresentação tem lugar no dia 31 de março, data do lançamento do documentário de Patrícia Poção, “ECOAR – Outros Registos”, como comentário de Valter Hugo Mãe.

 

Artigo editado por Sara Gerivaz