Maria Vitória é o nome de uma das vendedoras do Mercado de São Sebastião, na Sé. Tem 75 anos e é vendedora de fruta e legumes, desde muito jovem. Apesar da idade, continua na luta.

São poucas as pessoas que a tratam pelo seu verdadeiro nome. A ideologia política e o facto de ser, como diz, “uma revolucionária”, tornou-a conhecida como “Maria Comunista”.

“Sim, senhor, Maria Comunista”, confirma, com orgulho na voz. “Sou assim conhecida porque sou militante do partido, desde o 25 de Abril”, explica. A tendência revolucionária herdou-a dos familiares: “desde pequenita fui sempre revolucionária porque venho de família revolucionária, que lutou contra o Hitler. E eu nunca gostei dessas pessoas”.

A vendedora conta como se tornou militante do Partido Comunista: “Eles lá me ouviram falar e vieram buscar-me”. Na altura não teve dúvidas. “Não é tarde nem é cedo”, respondeu segura. “Comecei a ir a umas reuniões uma vez por semana”, refere.

O comunismo mora nela há muito tempo. “Já na escola tinha problemas por não pôr o braço estendido, porque não gostava. O hino português, eu cantava, agora pôr a mão estendida não, porque eu não gostava dessa gente. Dou a vida e dou a morte a lutar contra essa gente”, conta Maria.

É conhecida e interessada por questões políticas e sociais. Em cima da banca, nunca faltam os jornais do dia. O Avante tem lugar cativo na mesa de trabalho. “Eu leio muito o jornal”, garante.

Maria tem orgulho na zona em que vive: “Temos coisas muito lindas na Sé. Basta ser uma zona histórica”. Por isso, luta diariamente para tornar a Sé um lugar melhor. Quando alguém tem algum problema, conta, o que ouve é: “Qualquer coisa, uma senhora assim assim, conhecida por Maria Comunista, resolve o problema. Qualquer coisa da Sé, para ter aqui mais segurança, é comigo”.

Ainda que acredite que poderia ter tido uma vida melhor, a comunista gosta do que faz. “Eu olhei por quatro dos meus irmãos. Já tinha feito a quarta classe e a minha mãe ia trabalhar e eu ficava em casa”, conta. Já foi costureira e empregada de escritório, mas, diz que “infelizmente era muito revolucionária” e acabou por ficar desempregada. “Antes não queria ser tão revolucionária como sou”, desabafa.

Como “conhecia muitas coisas de venda”, a também conhecida por “Maria 27”, apelido herdado do marido, lançou-se no negócio. Assim tem vivido. Atualmente, com mais dificuldades, pois “agora está muito mau [o comércio]”, segundo afirma. A solução é, nas suas palavras, “movimentar o mercado [de São Sebastião] de qualquer maneira”.

Afirma-se revolucionária e garante: “O que eu tenho a dizer digo”. É uma mulher de “pêlo na venta” ou, como ela própria define, “uma mulher que não tem medo de nada, que é forte, que ninguém faz pouco dela. Uma mulher que trata de tudo. Que bota-se à vida!”, remata Maria Vitória.