Madalena Marçal Grilo, diretora executiva do Comité Português da UNICEF, esteve esta sexta-feira na Universidade Católica do Porto para explicar a ação desenvolvida pela organização na ajuda às crianças vítimas do conflito sírio.

Na sessão UNICEF, organizada no âmbito de “Os Dias da Psicologia”, que terminaram esta sexta-feira, a diretora nacional alertou para o impacto que a presente conjuntura de guerra terá na formação da personalidade das crianças. “Crianças que estão a crescer no meio da violência só conhecem a violência. É uma geração inteira em risco”, declarou aos presentes.

A oradora elogiou o trabalho da UNICEF em campo, focando-se no papel que esta organização tem na garantia da educação às crianças que tiveram de abandonar os estudos para procurarem asilo. No entanto, afirma que a ajuda humanitária não vai resolver a crise. Apenas a vai gerir.

Após exibir os números das vítimas deste conflito – por exemplo, há dois milhões de crianças entre os quatro milhões de refugiados – Madalena Grilo critica a frieza com que as populações lidam com esta realidade. “Não podemos ficar indiferentes aos números. Por detrás de cada número, está uma vida com direitos humanos que não estão a ser respeitados”. Dirige a mesma crítica aos políticos, que afirma “estarem habituados a olhar para os refugiados através do ecrã”.

“Já não existe uma Síria. Existem várias Sírias”

Nesta sessão, o primeiro orador foi Bernardo Pires de Lima, investigador do Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa.

Depois de uma contextualização histórica da Síria, Pires de Lima abordou a complexidade do panorama atual no Médio Oriente. “Já não existe uma Síria. Existem várias Sírias”, sumarizou.

Apesar de reconhecer a dificuldade em delinear estratégias eficazes, o investigador não poupou criticas à forma como a Comunidade Internacional lida com a crise dos refugiados. No final do seu discurso, o orador acusa ainda os Estados-Membros da União Europeia de negligenciarem a situação e “viverem na bolha de Bruxelas”.

Por sua parte, Mariana Barbosa, docente de Psicologia da Universidade Católica, levou ao debate o relato da sua recente experiência como voluntária na Ilha de Lesbos, local onde desembarca a maioria dos refugiados.

Marcada pelas vivências, a oradora apelou à solidariedade e recusou o estatuto de terrorista que muitas pessoas atribuem aos refugiados. A docente afirmou que estes não fogem por capricho, mas sim por sobrevivência. Sublinhou ainda as desigualdades vividas por quem carece de “um passaporte certo”.

Para terminar, ainda com um tom emocionado, mas crítico, a docente acusa a Europa de “lidar com os refugiados com arame farpado e gás pimenta”.

No final da palestra, houve espaço para os espetadores debaterem algumas questões. Para complementar a experiência e como forma de sensibilização, foi também possível visualizar um trabalho de realidade aumentada realizado pela ONU.

 

Artigo editado por Filipa Silva