O alargamento do tabuleiro inferior que está previsto para a Ponte D. Luís I é “a solução mais doce” para resolver o problema da travessia de peões e ciclistas. Esta posição foi defendida pelo vereador do Urbanismo da Câmara Municipal do Porto (CMP), Manuel Correia Fernandes, na reunião camarária desta terça-feira.

A travessia do rio Douro entre o Porto e Vila Nova de Gaia é desde, há muitos anos, um grande problema. O tabuleiro inferior da Ponte D. Luís é a única ligação à cota baixa das margens das cidades e é necessário que se encontrem maneiras de duplicar essas ligações que não são suficientes para os transeuntes e ciclistas.

Habituados a passeios de bicicleta pela ponte, os engenheiros António Campos e Matos e José António Campos e Matos e o arquiteto Virgínio Moutinho criaram uma solução para o problema. A ideia passa pelo alargamento do tabuleiro inferior da ponte, através da criação de dois passadiços exteriores suspensos, um para a travessia dos peões e outro dos ciclistas.

Este é o projeto que as autarquias apoiam. “Entre a Câmara do Porto e a de Gaia estabeleceu-se a mesma opinião de que, para reforçar a ligação, a melhor solução, a mais rápida e mais eficaz era o alargamento do tabuleiro inferior da ponte, por onde se liga as duas margens”, afirmou o vereador Manuel Correia Fernandes, na reunião camarária realizada na terça-feira.

Muitas outras soluções foram surgindo ao longo dos anos: a criação de uma ponte nova ou a travessia através de barcos foram tidas em conta como forma de ligar as duas cidades separadas pelo rio. No entanto, representam problemas maiores do que a solução apoiada pelas autarquias. Por exemplo, a construção de uma nova ponte é “um projeto tecnicamente muito apaixonante,mas é preciso olhar para o impacto que tem em ambas as margens”, explicou Correia Fernandes.

O projeto foi apresentado às Infraestruturas de Portugal e à Direção-Geral de Património Cultural (DGPC), que tem em conta os interesses da ponte D. Luís I enquanto património das cidades e do país. Só após o aval destas duas entidades, é que as obras vão poder seguir em frente. É a Infraestruturas de Portugal que vai arcar com a maioria dos custos, uma vez que é a proprietária da ponte.

Podem, no entanto, estas modificações representar uma descaracterização do monumento? Esta foi a questão colocada pelo vereador da CMP Ricardo Almeida e que levou à discussão do assunto.

Manuel Correia Fernandes acredita que o projeto de reestruturação não põe em causa as características do monumento, mas considera que é a função da DGPC ter em conta que as mesmas não são descuradas no processo. “As fotomontagens publicadas no Jornal [de Notícias] dão conta de que não há alterações significativas, pelo menos que ponham em causa todas as valias da Ponte D. Luís I: a estética, a simbólica, a hitórica, a estrutural”, esclareceu Manuel Correia Fernandes.

O alargamento da ponte já foi feito no tabuleiro superior, para a passagem do metro que liga Santo Ovídio ao Hospital de S. João. “Isso não interferiu em nada com o facto de se tratar de um monumento nacional. É hoje um ponto de observação da cidade completamente notável”, notou o detentor do pelouro do Urbanismo.

Discussão Pública?

“A questão de discutir publicamente um problema que interessa às duas cidades, mas que não pertence a nenhuma delas, levanta algumas delicadezas”, respondeu Manuel Correia Fernandes à questão levantada pelo vereador do PSD Ricardo Almeida.

Para o social-democrata qualquer alteração naquilo que é um ícone da cidade deve ser discutida de “maneira mais alargada”, envolvendo não só os intervenientes políticos, mas também a população em geral. A concessão do projeto a um arquiteto ou engenheiro não é, para o vereador, “um procedimento correto tendo em conta a discussão pública que deve existir em torno de questões que são relevantes e fundamentais para a cidade”.

A proposta de Ricardo Almeida é que se sejam ouvidas mais opiniões sobre o assunto, inclusive da população das freguesias que circundam a área.

O vereador Manuel Correia Fernandes considera que esta proposta não é exequível. Em primeiro lugar, porque a ponte não pertence a nenhuma das autarquias. Em segundo lugar, porque a Infraestruturas de Portugal e a DGPC são as entidades que têm a palavra final. “O problema das pontes é que têm sempre que acertar em dois sítios, mas neste caso envolve ainda outras partes”, explicou o vereador na reunião camarária.

Ricardo Almeida apelou a que, devido à importância do assunto, sejam ouvidos outros agentes que já manifestaram um pensamento estruturado sobre a questão.

No reunião camarária, o vereador do PSD pediu ainda esclarecimentos relativos à situação das obras no Mercado do Bolhão. O presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, garantiu que iria agendar uma reunião para a apresentação formal do projeto. Foi ainda aprovado por unanimidade a isenção de taxas para doentes com tuberculose.

 

Artigo editado por Sara Gerivaz