Apesar do nome, o PSI 20 é composto, atualmente, por 17 empresas. A revisão anual ditou o aumento deste número, para 18 a partir de 21 de março. De saída estão a Impresa, que mudou de presidente executivo esta semana, e a construtora Teixeira Duarte. Entram a Sonae Capital, a Corticeira Amorim e o Montepio.
O índice de referência da bolsa portuguesa tem o número mínimo de empresas. Ricardo Valente, professor da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP), explica que “em Portugal, não há uma cultura empresarial de abertura do capital das empresas, por isso é que temos muito poucas cotadas em mercado”.
Do ponto de vista económico, esta transformação não tem um grande impacto, segundo defende Ricardo Valente. “O impacto é, sobretudo, nas entidades que entram agora para o Índice de Mercado português”, considera.
As sociedades cotadas que entram no PSI 20, para o professor da FEP, “passam a ter uma visibilidade, do ponto de vista do mercado e da capacidade do financiamento, muito mais facilitada do que estarem cotadas em bolsa e não fazerem parte do Índice de Mercado”.
Sobre a saída da Impresa e da Teixeira Duarte, Ricardo Valente recorda que as duas empresas “ao longo da sua vida entraram e saíram imensas vezes” do PSI 20. Uma das razões apontadas pelo economista, passa pelo “‘free-float’ relativamente pequeno” destas empresas, isto é, o facto de terem um pequeno número de ações disponível para negociação livre no mercado.
As duas empresas que vão ficar fora do PSI 20 são controladas por ‘holdings familiares’. A questão da dispersão de capital por vários acionistas, o volume de transações e a capitalização bolsista são critérios usados pela Euronext para definir que empresas ficam ou saem da lista do Índice de Mercado. Apesar disso, Ricardo Valente acredita que não terão sido esses os motivos de exclusão da Impresa e da Teixeira Duarte.
“O que está cotado em bolsa não é o Montepio”
A questão do Montepio é a que tem feito correr mais tinta. Embora não tenha ações transacionáveis em mercado, o fundo de unidade de participação do banco foi incluído no PSI 20.
Ricardo Valente esclarece: “O que está cotado em bolsa não é o Montepio. O que está cotado em bolsa é um fundo, um conjunto de títulos de participação que o banco permitiu no passado”. Títulos estes que já eram transacionados em mercado.
O docente da FEP acredita que “isso não é uma questão negativa”. “Em muitos sítios do mundo, temos outras empresas com títulos que não têm ações extraordinárias cotadas em bolsa, por exemplo”, acrescenta.
A entrada do fundo do banco mutualista traz grandes vantagens devido, como afirma Ricardo Valente, “ao nível de risco que o Montepio tem”. Deste modo, “o Montepio passa a ter um título transacionado no mercado e visível para toda a gente e, portanto, torna-o mais percetível ao público em geral”, defende.
O PSI 20 tem também a ganhar com esta entrada. “É extremamente positivo termos, no Índice de Mercado português, a hipótese de ter um banco importante no nosso mercado, com um título no índice. Embora não sejam ações, é um título que representa níveis de rentabilidade”, refere o professor da FEP.
Se a inclusão foi estratégica, como forma de compensar a saída Banco Espírito Santo e a Espírito Santo Financial Group (ESFG) e balancear o peso do setor bancário, Ricardo Valente não acredita. “O peso [do setor bancário] vai ser muito pequenino”, assegura.
A estratégia, defende o professor de Economia, é outra. “Pode ser o início de uma relação diferente do Montepio com o mercado de capitais, que até pode passar por um mercado de capital maior, no futuro”, refere.
Ricardo Valente, da FEP, conclui: “Temos pela primeira vez uma relação direta entre o Montepio Geral e a bolsa”.