No aniversário da Rádio e Televisão de Portugal (RTP), deputados do Bloco de Esquerda (BE) reuniram com a Subcomissão de Trabalhadores no Centro de Produção do Norte, localizado em Vila Nova de Gaia. Jorge Campos, bloquista eleito em outubro e antigo jornalista da RTP, afirmou ter-se tratado de uma reunião exploratória.
O serviço público é uma questão fundamental do ponto de vista do partido. No caso, alia-se também a precariedade laboral na RTP, uma situação que o Sindicato dos Jornalistas tem denunciado e que o BE pretende combater.
A título de exemplo, Jorge Campos assegurou que a partir das 17h00, praticamente todos os programas na RTP Porto são assegurados por trabalhadores em regime de “outsourcing”.
O que é “outsourcing”?
Quando uma empresa contrata outra para realizar uma tarefa, diz-se que está a recorrer ao regime de “outsourcing”. Trata-se de um serviço externo que ocorre através da subcontratação e permite a libertação de recursos da empresa.
“Naturalmente, tomámos boa nota daquilo que aqui se passa e tivemos outras informações que nos permitirão intervir no sentido de corrigir situações incorretas e insustentáveis” no serviço público e nas relações de trabalho, explicou o deputado. O mesmo declarou ser necessário “que os trabalhadores tenham uma cultura de serviço público”. O BE considera que será possível avançar com propostas e projetos de lei, a partir de uma série de reuniões como a que teve lugar na segunda-feira, para promover a transparência e tornar as condições laborais mais razoáveis.
“Estamos perfeitamente conscientes que falta fazer muita coisa no sentido de termos um serviço público de televisão que seja condizente com as necessidades do país”, referiu Jorge Campos. A perspetiva do BE é “impulsionar a discussão” na procura de um serviço público de melhor qualidade.
O primeiro canal televisivo português e que ainda se mantém público tem, no ponto de vista dos bloquistas, uma função estratégica determinante como “alavanca do desenvolvimento do país”. Jorge Campos enumerou vários fatores que sustentam a importância da RTP, que comemora 59 anos com uma mudança de imagem.
25 anos de RTP e alguns meses de Parlamento
Jorge Campos foi jornalista na RTP durante 25 anos. Na sua visão, a estação pública tem vivido de uma maneira “excessivamente intermitente” e com demasiados sobressaltos. Diferente das televisões privadas que usam a “pedagogia do consumo”, a televisão pública deve ter uma “pedagogia da cidadania” e a realidade ainda está distante desse objetivo último, na opinião do agora deputado.
A experiência no Parlamento começou, para Jorge Campos, há pouco tempo e já tem demonstrado ser “muito positiva”. Finalizada a sua carreira enquanto docente do Ensino Superior, foi eleito em outubro de 2015 para representar o BE, que teve um resultado recorde em eleições legislativas. “Rapidamente mudei de agulha”, conta o cineasta ao JPN.
O novo deputado, eleito pelo círculo do Porto, diz ter sido sempre ligado à política, inclusivamente antes do 25 de abril, de uma forma mais “aventureira”. No entanto, sendo a primeira vez que participa no Parlamento e estando num acordo histórico entre o BE, o Partido Socialista e o Partido Comunista, relata um pouco da nova vivência: “É óbvio que nem sempre estamos de acordo, mas até as divergências podem ser criativas e, neste contexto, é particularmente estimulante ser deputado”.