“É bonito o Dia de Portugal ser comemorado num país com um grande comunidade portuguesa. Acho mesmo bem esta iniciativa porque apesar de já estar em França há 25 anos, Portugal será sempre o meu país e é bom saber que os emigrantes não são esquecidos”. Júlia Gonçalves não esconde a felicidade ao saber da notícia.

Apesar do dia 10 de junho não ser esquecido pela comunidade portuguesa na França, este ano as comemorações vão ser diferentes. Numa altura em que a emigração portuguesa atinge níveis históricos, Marcelo Rebelo de Sousa quer levar as comemorações oficiais do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, até Paris. O objetivo é chamar a atenção para a emigração e para as comunidades portuguesas emigradas. Uma preocupação que o novo Presidente da República sempre demonstrou, defendendo uma maior atenção por parte do poder político.

Também Carla Fernandes, que vive em Paris há três anos, vê com bons olhos que as comemorações do 10 de Junho tenham lugar na capital francesa. “Portugal e os portugueses não são apenas os que vivem no país. Há milhares de portugueses espalhados por esse mundo fora e o facto do novo presidente demonstrar esta preocupação com os emigrantes, contribui para nós sentirmos que, mesmo não estando em Portugal, não somos esquecidos pelo poder político”, explicou ao JPN a jovem de 22 anos.

Segundo um Relatório do Observatório da Emigração relativo à Emigração Portuguesa, “há mais de dois milhões de emigrantes portugueses, ou seja, mais de 20% da população portuguesa vive fora do país do seu nascimento”. Este valor faz de Portugal o segundo país da União Europeia (UE) com mais emigração, só ultrapassado por Malta.

França é o país com maior número de emigrantes portugueses, sendo este um destino tradicional da emigração portuguesa há várias décadas. Os últimos dados revelados pelo Governo Francês indicam que mais de meio milhão de portugueses vivem em França o que justifica a escolha do Presidente da República para as comemorações do Dia de Portugal neste país.

Taxa de abstenção dos emigrantes é superior aos 90%

Marcelo Rebelo de Sousa quer, assim, aproximar o poder político das comunidades portuguesas no estrangeiro, numa altura em que a taxa de abstenção dos emigrantes é bastante elevada. Nas últimas eleições presidenciais, onde Marcelo saiu vencedor, apenas 14 150 emigrantes votaram num universo de 301 463 inscritos. Os dados do Ministério da Administração Interna registam, assim, uma taxa de abstenção superior aos 90%.

Apesar de tentar estar sempre informada sobre o que se passa em Portugal e de votar sempre que há eleições, Carla Fernandes admite que é normal os emigrantes demonstrarem este desinteresse em relação aos atos eleitorais. “Acho importante continuar a participar na vida política do país, mas é normal muitos emigrantes terem um certo desinteresse. Muitos saíram de Portugal contrariados e revoltados com a situação do país. E se virmos bem, se os próprios portugueses que vivem em Portugal não votam, o que se pode esperar dos emigrantes?”, questiona.

Júlia Gonçalves, por sua vez, também procura estar informada sobre o que se passa em Portugal. No entanto, nunca votou desde que está em Paris: “Eu não voto. Ainda nem me inscrevi no Consulado. Não é que não tenha interesse, mas sinceramente também não penso muito nisso”.

As comemorações oficiais do dia 10 de Junho vão realizar-se, pela primeira vez, fora do país. De acordo com o jornal Público, as celebrações vão começar em Lisboa, com uma parada militar na Praça do Comércio, e terminar em Paris. A Marcelo Rebelo de Sousa juntam-se Eduardo Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, e o primeiro ministro António Costa. Nos festejos com a comunidade portuguesa em Paris espera-se que o presidente francês, François Hollande, também esteja presente.

A Embaixada Portuguesa em França, contactada pelo JPN, confirma a possibilidade de as comemorações do 10 de Junho se realizarem na capital francesa, mas para a instituição ainda é cedo para definir programas e outros detalhes.

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Artigo editado por Sara Gerivaz