Os ecos da manifestação desta segunda-feira chegaram a Bruxelas levados pelo ministro da Agricultura que conseguiu reduzir as quotas de vacas leiteiras, mas não conseguiu o financiamento comunitário esperado pelos produtores agrícolas.

Realizou-se em frente a Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte a maior manifestação de todos os tempos do setor agrícola em Portugal que juntou cerca de 2 mil produtores. Os números foram avançados por Fernando Cardoso, secretário-geral da Federação das Cooperativas de Produtores de Leite e Laticínios (FENALAC) ao JPN.

Além da FENALAC, reivindicam maior consumo de produtos agrícolas nacionais e regulação na oferta os representantes das associações dos produtores de leite em Portugal (APROLEP), de produtores de leite e carne (APPLC) e a Confederação Nacional da Agricultura (CNA).

A maior parte dos manifestantes eram produtores de leite, que exigem uma tomada de atitude do Governo. José Lobato, presidente da APPLC salienta que não basta ter boas intenções, “é necessário que o Governo crie condições para acabar com a crise do excesso de produção e com as práticas abusivas comerciais que existem atualmente no setor”.

Ainda no discurso do presidente da APPLC, José Lobato afirma que a entrada de leite importado no país suscita dúvidas no que concerne à qualidade e ressalta a incapacidade de concorrer com os produtores europeus. Faz ainda um apelo aos portugueses para que consumam mais produtos nacionais.

Os produtores sentem-se prejudicados pela falta de políticas públicas no setor agrícola, e pelo preço que lhes é oferecido pela distribuição, que não cobre os custos de produção. José Macedo, produtor de leite, explicou ao JPN que o custo de produção ronda os 34 cêntimos por litro. No entanto, o preço oferecido pelas cadeias de distribuição ronda os 24 cêntimos. E em muitos casos este valor baixa para 20 cêntimos.

Fernando Cardoso, da FENALAC, tem dúvidas no que diz respeito a “regular as quotas de produção nos países da União Europeia, porque muitos países não querem ter quotas de produção”, explica.

As vozes da manifestação

Mais de 300 tratores percorreram em marcha lenta cerca de 30 quilómetros, vindos de vários pontos do país, como Vila do Conde, Régua, Trás-os-Montes, Coimbra e Guarda, para demonstrarem a sua insatisfação. A marcha começou em Vila do Conde e seguiu para a Quinta Agrícola em Matosinhos.  Após a entrega do documento, no qual constam as principais preocupações dos produtores, ao diretor-geral da Direção Regional da Agricultura e Pescas do Norte, Manuel Cardoso, os manifestantes dirigiram-se a duas superfícies comerciais.

“Ao contrário do que se possa pensar, não queremos desistir e sim criar meios para continuarmos a produzir”, contou João Dinis ao JPN. “Essa marcha é contra a importação”, salientou o membro da direção da CNA.

João Dinis alerta ainda o ministro da Agricultura ao dizer que “a falta de produção de leite nacional, poderá causar um decréscimo na economia do país”.

Existem agricultores que estão a abater vacas pelo excesso de produção, segundo um dos produtores que não quis ser identificado.

Boaventura Monjane, juntou-se à Confederação Nacional Campesina, para dar apoio moral aos agricultores de leite e carne e, de certo modo, ver o seu desejo concretizado. O apoiante ambiciona que sejam “criadas políticas públicas, legislação, acompanhamento na fiscalização” e que sejam desencorajadas “as importações de carne”.

Salete Dias veio de Viseu juntar-se à causa e reivindica os benefícios que a produção nacional cria para a economia.