O professor da Faculdade de Motricidade Humana (FMH), Paulo Badajoz, afirma que os testes físicos da Federação Internacional de Futebol (FIFA) a que os árbitros são submetidos não são adequados às condições que encontram no terreno do jogo. Além disso, o professor indica que os testes da FIFA têm elevada incidência de lesões.
No seguimento de um processo que está a ser desenvolvido desde a época 2007/2008, na área da arbitragem e treino de árbitros de futebol, Paulo Badajoz decidiu focar a sua tese de mestrado no tema. O estudo, “Avaliação da ‘Performance’ do Árbitro de Futebol de 11”, propõe um método alternativo de avaliação da aptidão física dos árbitros.
O teste da FIFA para avaliar a capacidade física dos árbitros está dividido em dois momentos. O primeiro é composto por seis “sprints” de 40 minutos. O segundo consiste numa sequência de dez voltas a uma pista de atletismo, com corridas de 150 metros intercaladas com 50 metros a passo. Este teste é aplicado, em média, duas a três vezes por ano
Paulo Badajoz, por sua vez, refuta a segunda parte dos exames da FIFA. Ao JPN, o autor da tese refere que “todos os testes de aptidão física terão de ser ecológicos, ou seja, deverão representar o mais fielmente possível a modalidade e as atividades da mesma”. No entender do professor da FMH o teste da FIFA, ao ser feito em “tartan”, tem um problema acrescido: não é feito no relvado. Paulo Badajoz considera, assim, o teste da FIFA “desajustado em termos metodológicos” e naquilo que é a avaliação das capacidades físicas, uma vez que permite apenas treinar um nível de intensidade.
“Nessa medida alterei alguns dos conceitos em termos de tipologia de treino, e depois, criei uma organização da prática diferenciada. Por necessidade evidente face às lesões que todos os anos aconteciam com outras metodologias e os próprios testes, vi a necessidade de estudar todo o fenómeno na prática, mas também de fazer uma avaliação de tudo isto”, esclarece o autor do estudo.
Na prática, Paulo Badajoz aplicou o teste da FIFA e o teste proposto na sua tese a um árbitro internacional português da I Liga. As diferenças de duração dos testes são evidentes: o teste da FIFA dura, em média 45 minutos e o do professor tem a duração de 13 minutos.
No teste da FIFA, o autor da tese constatou que 83,94% do tempo é passado em “sprint” máximo e apenas 15,75% em corrida de alta intensidade. Já no teste proposto por Paulo Badajoz, apenas 16% do tempo é passado em “sprint” máximo e 19,9% em corrida de alta intensidade. Estes valores representam, num jogo de futebol, 24% do jogo em “sprint” máximo e cerca de 50% do jogo em corrida de alta intensidade.
Após recolher dados de 11 jogos arbitrados pelo mesmo internacional português, Paulo Badajoz confirmou que, em média, o árbitro esteve 24,72% do jogo em “sprint” máximo e 50,69% em corrida de alta intensidade. Argumento que o professor se baseia para demonstrar que a prova de aptidão que propõe é mais próxima da realidade vivida em campo pelos juízes.
No entender do professor da FMH, o problema do teste delineado pela FIFA está em dois grandes pontos: a superfície em que o teste é realizado e o percurso a que o árbitro está sujeito. No teste que propõe, a aptidão é avaliada em relvado sintético: “O árbitro está muito mais adaptado à transferência de relvado natural para sintético: o ‘tartan’ é de ténis de corrida e o árbitro está habituado ao esforço com as chuteiras, próprias para arbitrar”.
Já em relação ao percurso, Paulo Badajoz aponta para um teste mais próximo à realidade de um jogo de futebol: “O árbitro tem, mais ou menos, uma diagonal centrada no campo que depois evolui para uma área oval, corre de costas, corre para a frente, corre com mudança de direção, tem corrida linear, tem corrida de alta intensidade com travagens bruscas e, portanto, tudo isso está desenhado no teste”.
João Capela concorda com a visão do autor da tese de mestrado. Ao JPN, o árbitro internacional português afirma que “seria uma mais valia adaptar uma avaliação da aptidão física para a relva” e que há uma necessidade de reformular a forma como as provas físicas são feitas pela FIFA. O árbitro indica que, quando sujeito à prova, a corrida é sempre feita no mesmo sentido e que não contemplados outros movimentos que o profissional encontra em terreno de jogo.
Além disso, João Capela vê no atual modelo de avaliação outra falha. A carga de jogos que os árbitros têm, mesmo apenas a nível nacional, juntamente com a realização das provas físicas, não contribuem para prevenir possíveis lesões, mas pelo contrário, potenciam que ocorram.
O árbitro da I Liga acredita que no futuro haverá mudanças na avaliação física dos árbitros e que Portugal pode dar o seu contributo nesta área. “Acho que nós em Portugal podemos dar um bom contributo e desenvolver estudos nesse sentido para apresentar soluções e propostas de testes de avaliação para árbitros. Acho que temos todo o conhecimento e em parcerias com universidades, com a Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF), com a Liga acho que poderemos construir uma proposta muito válida”, sugere.
Preparação física dos árbitros em Portugal
Atualmente, os árbitros profissionais portugueses têm um preparador físico e um treinador, que fazem um trabalho integrado, conjugando uma parte técnica com uma parte física de treino. Os árbitros e os auxiliares têm diretrizes de treino diferentes. Os treinos dos árbitros profissionais e não profissionais são feitos a partir de indicações da Federação Portuguesa de Futebol (FPF).
Artigo editado por Sara Gerivaz