Tinha 62 anos, 37 dos quais dedicados ao Café Âncora d’Ouro, mais conhecido por “Piolho”. José Martins, que partilhava, com mais dois sócios, a gerência do café mais popular entre os estudantes do Porto, faleceu na manhã desta terça-feira no Hospital de São Paulo, no Brasil, onde se encontrava de férias desde meados de fevereiro, segundo apurou o JPN junto de um familiar.

José Martins tinha regresso a Portugal previsto para breve, mas uma pneumonia revelou-se fatal.

Ainda não é conhecida data para a trasladação do corpo para Portugal, nem quando se vão realizar as cerimónias fúnebres.

“Neste momento estamos todos tristes”

José Martins, Edgar Gonçalves e José Pires adquiriram o Piolho em dezembro de 1979, numa altura em que o café enfrentava uma fase difícil da sua história. Os antigos proprietários, que geriram o Piolho entre 1975 e 1979, rompendo com a tradição, de acordo com Edgar Gonçalves, afastaram os estudantes do estabelecimento proibindo-os de ali estudarem. “Achavam que os estudantes ocupavam o espaço e não faziam negócio”, contou ao JPN.

Uma atitude que os três sócios mudaram por completo assim que tomaram conta do Café Piolho. “Começámos por tirar os papéis que estavam nos vidros que diziam ‘proibido estudar’ e a acarinhar os estudantes e a tê-los com muito gosto. O Piolho voltou ao que era antes de 75”, recordou.

“Dámo-nos muito bem com os estudantes e o senhor Martins era exemplar. Neste momento estamos todos tristes e de luto”, concluiu.

Conselho de Veteranos vai decretar luto académico

Américo Martins, Dux Veteranorum da Academia do Porto, ainda não era estudante do Ensino Superior quando começou a frequentar o Piolho. Recorda-se perfeitamente da altura em que José Martins, juntamente com Edgar Gonçalves e José Pires, adquiriu o café que já contava com alguns anos de história. “O Piolho estava a atravessar uma fase difícil, com um ambiente um pouco hostil. O senhor Martins conseguiu limpar as ervas daninhas e recriar o espírito académico que o café sempre teve e em que toda a gente é bem-vinda, do doutor ao estudante, até ao sapateiro”, explicou ao JPN

Américo Martins salientou também a forte ligação do Piolho à Academia do Porto: “Ao longo destes anos, acho que praticamente nenhum estudante do Ensino Superior não sabe da existência do Piolho. O Piolho, para mim, é já um icone nacional”.

O “Dux Veteranorum” da Academia do Porto contou ao JPN que vai reunir-se com o “Magnum Consilium Veteranorum” e vai “decretar luto académico pelo senhor Martins”.

 

Artigo atualizado às 17h21 do dia 16 de março de 2016 com a inclusão das declarações de Edgar Gonçalves.

 

Artigo editado por Filipa Silva