Nos últimos seis meses foram registados cinco atentados na Turquia, quatro dos quais nos primeiros três meses de 2016. No total, estima-se cerca de 185 vítimas mortais. A autoria dos atentados foi, na maioria dos casos, reivindicada pelo Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), mas também pelo Estado Islâmico, autor do ataque mais mortífero, a 10 de outubro de 2015, que fez mais de uma centena de vítimas. O mais recente atentado, registado no domingo, foi reivindicado por um grupo de radicais curdos, os Falcões da Liberdade do Curdistão.

Pedro Gomes Barbosa, do Instituto Luso-Árabe para a Cooperação, teme que os atentados continuem. Na sua opinião, os problemas na Turquia começam internamente: “O governo turco está a ter atitudes perfeitamente ditatoriais: desde a proibição de jornalistas” até à tomada “do maior jornal diário turco. Há uma repressão da liberdade, que já vem do hábito turco anterior ao Ataturk, há mais de cem anos”.

O docente da Universidade de Lisboa defende ainda que se vive no país uma “perseguição” aos curdos e que estes estão no centro das preocupações das autoridades turcas. “Os curdos do Norte da Síria queriam estender o território conquistado de modo a unir os dois territórios agora na mão dos curdos. A Turquia disse perentoriamente que não permitia que os curdos unissem o seu próprio território, num país soberano, fora da Turquia. Caiu a máscara à Turquia, claramente”.

Acusa ainda a Turquia de estar a “jogar”. “Desde a chamada Primavera Árabe, a Turquia está a tentar refazer o antigo império otomano, agora não por conquista mas por influência política”, considera Pedro Gomes Barbosa.

A União Europeia, que mantém relações “extremamente complexas” com a Turquia, tem razões para estar preocupada: “A Turquia fez um pedido de adesão à UE que não foi aceite até agora. Se uma Turquia fora da União Europeia pode provocar movimentos nacionalistas e fundamentalismos religiosos, com a Turquia dentro da UE, sobretudo se conseguir uma circulação [no Espaço] Schengen, a Europa fica aberta a migrações terroristas”, considera.

A instabilidade no Médio Oriente está longe de se resumir ao território sírio ou turco. A Arábia Saudita e o Irão jogam a sua influência geográfica, num contexto em que o Iraque continua a debater-se com o pós-intervenção americana.

O docente considera ainda que a “a Europa não está a resolver o problema na origem” ao adotar a solução de “dar dinheiro à Grécia e à Turquia para receberem os migrantes”. O resultado tem sido a subida da extrema-direita em solo europeu.

Quanto à cessação da atividade militar russa no conflito Sírio, anunciada esta semana, Pedro Gomes Barbosa avança duas hipóteses: “Ou já há um acordo com os Estados Unidos e Bashar al-Assad já está protegido ou já há um avanço significativo e com a ajuda de iraquianos e iranianos eles já não são precisos lá. Mas a Rússia não vai abandonar um aliado como Assad”, conclui o investigador.

 

Artigo editado por Filipa Silva