É já no dia 24 de março que estreia no Gaiashopping o filme “Batman vs Super-Homem: O Despertar da Justiça”, em formato 4D. O preço do bilhete é de 12 euros e a sala vai ter capacidade para 100 pessoas.

A NOS Cinemas anunciou que a sala vai ser capaz de proporcionar mais de 20 efeitos diferentes, desde assentos especiais que simulam sensações (voar, cair, acelerar), à recriação de efeitos ambientais e sensoriais, como cheiros, luz, água e temperatura. Mas com tantas simulações, será que as pessoas vão conseguir distinguir a ficção da realidade?

“Nao penso que isso seja um problema. No local do filme, [o cinema 4D] deve contribuir para aquilo que nós chamamos de suspensão da realidade, mas não acho que isso vai alterar o comportamento das pessoas fora da sala de cinema.” A opinião é de Rui Rodrigues, professor na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP).

Adriano Nazaré, conhecedor da história das ciências da comunicação e professor na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP), considera que as pessoas vão confundir ficção e realidade, “como é óbvio”, mas realça que este tipo de evolução “é uma mais-valia”.

A partir da próxima semana, uma ida ao cinema pode proporcionar uma multiplicidade de sensações, que vão além dos dois sentidos tipicamente explorados, a visão e a audição. “Ao introduzirmos outros estímulos sensoriais, cria-se, por um lado, uma envolvência maior. Não só poderá contribuir ao nível do impacto do momento, mas depois também na forma como essa experiência é registada e posteriormente relembrada”, explica Rui Rodrigues. Nesta temática, Adriano Nazaré lembra que o importante é “pensar sempre no desenvolvimento técnico apoiado no estético”, de maneira a que “tudo o que se faça se altere em função do público que vai ver o filme”.

A nível técnico, há “um desafio para quem produz este tipo de salas”, destaca o professor da FEUP. “Deve-se criar e adequar esses conteúdos de forma a que sejam coerentes com as cenas que estão a ser criadas e que, por outro lado, não funcionem de forma negativa”, esclarece. Com isto, Rui Rodrigues refere-se à possibilidade de se estragar a experiência com exageros sensoriais. “Tem que haver um equilíbrio muito preciso entre os diferentes estímulos que são introduzidos porque, caso contrário, corre-se o risco de se tornar a experiência pior, em vez de melhor”, ressalta.

Para os mais sensíveis, o cinema 4D pode não ser o mais indicado. Rui Rodrigues faz uma comparação com um parque de diversões, onde “determinado tipo de diversões e instalações não são recomendados para todos.” Contudo, o professor da FEUP não considera o formato particularmente perigoso.

Já a pensar no futuro, Adriano Nazaré realça que “a tela de projeção vai desaparecer”, e vai passar a existir “um espetro onde é feita a imagem num espaço não existente.” Ainda assim, o professor da FBAUP lembra: “Quando aparecerem novos formatos, tem de haver adaptações do quotidiano”. Dá como exemplo os óculos do cinema 3D, que considera “altamente incómodos”.

Ambos os professores referem que o modelo de cinema 4D já não é novo, mas só agora vai ser introduzido nas salas de cinema portuguesas. Rui Rodrigues acha que “continuará a haver espaço para diferentes modalidades” e não acredita na extinção dos filmes como atualmente os conhecemos. “Mais depressa veria o 3D a ser substituído pelo 4D, do que o 2D a desaparecer totalmente”, revela.

A tecnologia mais recente para salas de cinema vai, de seguida, chegar a Lisboa, em data a anunciar. Por agora, a experiência só vai estar disponível na cidade de Gaia.

Artigo editado por Sara Gerivaz