“Um projeto ingénuo e pueril, mas cheio de paixão”. É assim que Diana Santos descreve o PortOuvido. A tradutora criou o programa de rádio há dez anos por uma “razão egoísta”: queria conhecer o Porto. “Achei que criar o PortOuvido não só era uma mais-valia para a Jornalismo Porto Rádio, como também para mim, para conhecer um bocadinho mais a cidade e para mostrar aos outros aquilo que a cidade tem para oferecer”, explica Diana ao JPN.

A antiga aluna de Ciências da Comunicação não entrou nesta aventura sozinha. Patrícia Posse e Marta Couto eram as suas companheiras de jornada e juntas definiram aquilo que seria a essência do programa. “Recriar a atmosfera de sítios emblemáticos da cidade do Porto”, conta Patrícia.

Os primeiros tempos foram de adaptação. Diana confessa, entre risos, que não gostou de ouvir as gravações da própria voz: “É completamente diferente da perceção que nós temos”. A pouca disponibilidade e qualidade do material somava-se à lista de entraves, mas nada desfez a vontade de mostrar “uma forma diferente de ver o Porto: ver com os ouvidos”.

Histórias dentro de histórias

Quando saíam em reportagem, Diana e Patrícia procuravam conhecer as histórias características de cada local. Pelo meio trouxeram na bagagem memórias que 10 anos depois as fazem soltar uma gargalhada.

Diana recorda uma em particular: “Lembro-me de quando fomos entrevistar o pároco dos Clérigos. Fizemos a subida aos Clérigos, tirámos as fotos, tudo aquilo que fazia parte do “boneco” e depois fomos fazer a entrevista, só que o senhor falava muito baixinho e, além disso, insistiu em ter ligado um rádio com música clássica mais alto do que a voz dele”.

O acolhimento dos portuenses era notório e Diana sente que a dupla quebrava a rotina do dia daqueles a quem davam voz. “As pessoas sentiam-se muito felizes por serem entrevistadas por miúdos da faculdade, por sentirem que os cantinhos delas eram interessantes”, lembra.

Uma nova geração de vozes

Se a primeira de todas as histórias era contada por Marta Couto, o atual genérico do PortOuvido conta com duas vozes: a de Rita Salomé Esteves e a de José António Pereira. Há três anos, em conjunto com outros colegas, decidiram “por mãos à obra” e “ter alguma experiência para além das aulas de rádio”. Por sugestão dos editores do JPN, aventuraram-se a reerguer o PortOuvido. “O Porto tem tantas histórias para contar. Não fazia sentido o programa estar parado”, afirma José António.

Ouviram edições antigas, identificaram-se com a essência do programa, mas, segundo o atual jornalista, a ideia era inovar: “Achámos que o programa precisava de uma dinâmica nova para se manter atualizado. Foi começar quase tudo do zero, mantendo a identidade daquilo que era o PortOuvido”.

Era necessário pensar em novos conteúdos, em novas rubricas e apostar nas redes sociais. Do novo formato as fundadoras do programa, Diana e Patrícia, dizem gostar especialmente da rubrica Dois Dedos de Conversa. “Surgiu porque queríamos fazer alguma coisa à volta da linguagem, porque o Porto tem um dialeto muito particular e foi, nesse sentido, que nós fomos buscar a raiz do que é característico do Porto e daquela linguagem que é o calão”, esclarece Salomé Esteves.

Que sons para o futuro?

Diana e Patrícia nunca pensaram que o programa atingisse o marco de uma década de existência. As criadoras do PortOuvido notam muitas diferenças em relação ao programa original, mas Diana acredita que a essência é a mesma: “Mantém-se o castiço do Porto, o sotaque, o conhecer lugares escondidos, e o facto de todos os lugares terem uma história”.

Dez anos depois, Patrícia sente-se realizada por ver que o programa ainda está de pé: “É muito gratificante perceber que noutro formato, com outras vozes se mantém o espírito do programa: ir ao encontro das pessoas, ir ao encontro dos sítios, dos eventos que se fazem, de toda a dinâmica da cidade do Porto”.

Apesar da ligação com o PortOuvido ser mais recente, José António deseja que o programa se mantenha ativo durante muito tempo. “Espero que os próximos 10 anos de alunos de CC [Ciências da Comunicação] queiram agarrar o PortOuvido da mesma forma que nós agarrámos. O importante é ter vontade de manter o programa vivo e pensar que é preciso renová-lo a cada dia”, menciona.

Salomé concorda com a visão do ex-colega de curso e sublinha que o trabalho tem que continuar. O que deseja para os próximos 10 anos de programa? “Que se faça, é o que eu espero. Que se faça. Que daqui a 10 anos ainda haja PortOuvido”, remata.

Os sons do presente e do futuro escrevem-se a partir das vozes do passado. Aqui fica a primeira edição do PortOuvido.

 

Artigo editado por Sara Gerivaz