O ensino é algo que todos tomamos por garantido. Pelo menos para quem vive em países desenvolvidos e sem guerra. No entanto, nem todas as crianças têm acesso facilitado à educação. Assim é no Líbano e no Quénia, onde José e Marta estão a desenvolver projetos que ajudam a criar mais condições de educação.

José Figueiredo tem 27 anos e já passou por vários países do mundo. Depois de concluir o mestrado em Gestão Internacional, trabalhou em start-ups em Berlim, Londres e no Brasil. Fazer “algo de mais significativo” e que “trouxesse uma maior realização pessoal” foi aquilo que levou José Figueiredo a fundar a “A Book Can Change”, uma organização sem fins lucrativos que tem como missão “levar educação de qualidade às crianças vítimas de guerra”.

“Comecei a pesquisar quais é que eram as maiores problemáticas do mundo atual”, explica o jovem de 27 anos ao JPN. Entre a educação, as alterações climáticas, a pobreza e os problemas de acesso a água potável e saneamento, José escolheu a educação para atuar por “ter um grande impacto” social. A escolha de crianças vítimas da guerra deveu-se ao facto de serem os conflitos armados uma das “grandes barreiras para a educação”.

“40% das crianças que não vão à escola, vivem em regiões de conflito armado”, constata José Figueiredo. O empreendedor social acrescenta que “quer seja porque têm que sair das localidades onde vivem, quer seja porque as escolas acabam por ser destruídas ou porque não há professores” estas crianças “ ficam entregues ao destino”.

A organização funciona em três fases: a primeira é a identificação da região em conflito, a segunda passa por pesquisar as ONG locais que trabalham na área da educação e, por fim, a última é selecionar o projeto de uma dessas organizações. Após a seleção, a plataforma vai “captar financiamento” para a iniciativa escolhida.

Os projetos podem ser a construção de uma escola, de um recreio, de saneamento, o financiamento de bolsas para alunos e para a formação de professores. A primeira iniciativa é a construção de um recreio que está prevista estar pronta até ao início do próximo ano.

Segundo o jovem português, a “A Book Can Change” é uma “uma plataforma de promoção e de catalisação de toda a sociedade para causas que realmente interessam”.

A ideia de Marta Baeta é ligeiramente diferente. Enquanto a iniciativa de José passa por ajudar a angariar dinheiro para projetos que já existem, o “From Kibera with Love” (FKWL) surgiu na Kibera, a maior favela do mundo, em Nairóbi, capital do Quénia, para ajudar as crianças que lá vivem a irem à escola.

Marta estudou Relações Públicas e Comunicação Empresarial e foi para este país em 2012 para fazer voluntariado durante três meses. Como era época de chuvas, decidiu angariar dinheiro através do Facebook para comprar galochas para as crianças da favela. Recebeu mais dinheiro do que esperava e foi assim que “começou uma espécie de bola de neve de solidariedade”. “Percebi que podia e devia fazer muito mais” conta ao JPN a voluntária que se apercebeu que “estava a tornar a vida destas crianças e das suas famílias melhor”.

O FKWL começou por ajudar na educação das crianças da favela, mas Marta Baeta garante que agora “o foco é criar melhores pessoas”. Para isso, o auxílio já passou também à alimentação, higiene, roupa, calçado, brinquedos e às atividades extra-curriculares para as crianças.

Para Marta, fazer voluntariado durante algum tempo é “apenas uma experiência pessoal” que acaba por “não ser suficiente” se se quiser ter “impacto na comunidade”. Para que haja uma verdadeira evolução “é preciso dar continuidade ao que foi iniciado”.

Para esse impacto se fazer sentir, a voluntária referiu que o FKWL presta apoio aos pais das crianças na criação e gestão de negócios, assegura a proteção e despesas de duas mães que saíram de casa por violência doméstica e dá cabazes alimentares mensais a famílias com pessoas que têm HIV.

Marta Baeta criou a "From Kibera With Love" para ajudar crianças da maior favela do mundo no Quénia

Marta Baeta criou a “From Kibera With Love” para ajudar crianças da maior favela do mundo no Quénia Foto: From Kibera With Love

“Alterar o rumo” de vida com a educação

A educação é algo de comum nos dois projetos. Para José Figueiredo, o ensino é uma forma de “abrir as portas para uma criança poder alterar o rumo da sua vida”. Marta Baeta realça que a educação é “a forma mais eficaz e efetiva de mudar, verdadeiramente, o mundo”.

O fundador da organização “A Book Can Change” admite que “uma comunidade onde as crianças não têm educação, é uma comunidade que muito mais dificilmente se vai desenvolver”. “Se não se muda este ciclo, as zonas pobres vão continuar a ser zonas pobres e subdesenvolvidas, e o conflito armado vai se manter”, refere o jovem.

A esta vulnerabilidade económica e educacional, acrescenta-se o facto de estas crianças serem “vítimas fáceis destes grupos armados” por poderem ser “manipuladas pelas pessoas que fazem a guerra”, remata José Figueiredo.

A criadora do FKWL conclui: “É importante que tenhamos noção da realidade do mundo, do facto de termos tido uma sorte enorme em nascer fora deste antro de pobreza. Nascemos num mundo cheio de oportunidades, onde só não estuda quem não quer”.

Artigo editado por Filipa Silva