A degradação do edificado, a perda populacional e o envelhecimento da população residente no centro histórico do Porto. Estes foram os três principais problemas discutidos por especialistas das áreas do Turismo e da Cultura, num debate que decorreu na terça-feira na Universidade Portucalense (UPT).
Na semana em que se comemora o Dia Nacional dos Centros Históricos, Manuel Aranha, vereador do Comércio e Turismo da Câmara do Porto (CMP), Miguel Rodrigues, da Direção de Cultura do Norte (DRCN) e José Patrício Martins, arquiteto da Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU) reuniram para refletir sobre a evolução do centro histórico do Porto e os desafios actuais.
A hipótese de que o aumento do turismo é uma das principais causas para a perda de população e da autenticidade da Invicta foi afastada pelos profissionais. Manuel Aranha, defendeu que “a cidade é dinâmica, passou de uma vida muito centrada no centro histórico para uma vida mais abrangente e muitas pessoas saíram dali”.
O responsável pelo pelouro do Comércio e Turismo da autarquia, acrescentou ainda que “o retrocesso é sempre complicado”, mas o turismo pode ser uma forma de reavivar a zona. As novas infraestruturas e serviços e o reforço da programação cultural beneficiam também os residentes. “A indústria turística, sendo bem planeada e gerida de forma sustentável, pode originar importantes benefícios nas condições de vida da população traduzida em mais emprego e em melhores rendimentos”, referiu.
Também para Miguel Rodrigues, o turismo não é responsável pelos problemas do centro histórico da cidade que já existiam antes do “boom” da atividade turística no Porto. “Não é o turismo que trouxe a degradação ao centro histórico, pelo contrário, trouxe muita recuperação do edificado”.
Para o diretor de serviços de Bens Culturais da Direção de Cultura do Norte, o desenvolvimento do turismo na cidade contribuiu para uma maior valorização e salvaguarda do património.
“O património continua a ser um dos principais fatores que levam as pessoas a viajarem porque ele é diferente de país para país e de região para região. É importante que esse património se mantenha e se conserve”, considerou, acrescentando que “a presença do turismo desperta-nos para um maior valor daquilo que temos”.
A regulação do turismo e uma maior articulação das identidades
José Patrício Martins, da Porto Vivo – Sociedade de Reabilitação Urbana, admitiu não ter uma solução para os problemas atuais do centro histórico da cidade. No entanto, o arquiteto considerou que é necessário as diferentes identidades como a Direção de Cultura do Norte, a Câmara do Porto, a SRU e a Direção Geral do Turismo, articularem os vários pólos que estão em confronto e “encontrar caminhos que permitam chegar a resultados que sejam benéficos para a cidade”.
Uma opinião partilhada por Manuel Aranha. Para o vereador, a cidade tem capacidade de receber mais turistas, mas a questão da regulação é crucial e é uma forma de “conseguir ter mais, com mais qualidade e sem atrapalhar a vida das pessoas que residem na cidade”.
É neste sentido que Manuel Aranha defende que “é fundamental não ver o turismo como uma ameaça desde que seja bem regulado” e que este deve “continuar a ser um setor prioritário no centro histórico”.
A proposta para a regulação dos transportes turísticos, alvo de queixas por parte de muitos residentes do centro histórico, é já uma medida da autarquia, “no sentido de equilibrar o impacto do turismo na vida das pessoas”, admitiu.
Manuel Aranha destacou ainda a forma como a Câmara do Porto soube responder aos desafios ao longo do tempo e a importância do centro histórico nas políticas culturais e de ordenamento do território da CMP. Importância reforçada sobretudo a partir de 1996, “quando foi classificado [centro histórico do Porto] pela UNESCO Património Mundial da Humanidade, conferindo à cidade uma maior afirmação internacional”
Dia dos Centros Históricos com grande adesão no Porto
O vereador do Turismo e Comércio, salientou a forte aposta que a autarquia tem feito na comemoração desta data, uma vez que o centro histórico é a maior atração da cidade. “Todos os anos milhões de turistas chegam à cidade com o desejo de conhecer os recantos desta zona mais antiga da cidade e experimentar aí a vivência da cultura”, notou.
Manuel Aranha reforçou a adesão “única” do público e a extensão do programa e das actividades: “Animação de rua, os concertos, os debates, as exposições, os teatros, os mercados urbanos, ‘workshops’, passeios e visitas guiadas e uma série de iniciativas que vão ser organizadas dia 2 de abril e que reproduzem, ainda que de forma reduzida, o conceito de cidade líquida que muitas vezes o Paulo Cunha e Silva usava”.
Artigo editado por Sara Gerivaz