No âmbito da celebração do Dia Mundial da Perturbação Bipolar, esta quarta-feira, a Associação de Apoio aos Doentes Depressivos e Bipolares (ADEB) realizou uma sessão de sensibilização dedicada à patologia no Polo de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto.

A sessão de abertura enfatizou a “urgência em desmistificar as doenças mentais e o combate ao estigma a elas associado”, bem como “a necessidade da comunicação social desempenhar um papel mais ativo” na divulgação da informação relativa à doença bipolar junto do público. “A comunicação social ajuda a desconstruir o estigma que ainda predomina na sociedade”, de acordo com António Marques, responsável pela Rede de Reabilitação Psicossocial de Pessoas com Doença Mental (RARP-AMP).

A necessidade de promover um maior contacto entre a comunicação social e as instituições responsáveis foi realçada por António Vieira, vice-presidente da ADEB. Ao JPN, explicou que existe um estigma associado à doença, pelo que é “importante levar o tema ao público”. Assim, a associação estabeleceu uma parceria com os alunos de Ciências da Comunicação, que “se mostraram bastante interessados em elaborar uma reportagem sobre a doença bipolar”. O trabalho foi exibido durante a sessão.

Na comunicação social “parece não haver interesse nos temas de saúde”, defende António Vieira. A ideia é corroborada por Susana Silva Oliveira, jornalista da Visão. Passou “por uma situação muito complicada com um familiar” e, enquanto profissional dos media, considera que “é um assunto um pouco complicado para se falar porque ainda há muito desconhecimento”, conta ao JPN. No dia-a-dia de um jornalista, com uma agenda muito preenchida, “estas coisas são tratadas com pouco tempo”. Susana deixa também um apelo aos estudantes: “Na faculdade não tinha a noção que o jornalismo de saúde era pouco falado. Os futuros jornalistas podem dar esse contributo, pressionar mais”, considera.

Uma experiência gratificante

João Pedro Sousa foi um dos responsáveis pela produção da reportagem. Em declarações ao JPN, o estudante do 2º ano conta que abraçou o projeto “com entusiasmo”, considerando que foi “uma oportunidade para enriquecer a formação curricular”. Assume que pretende fazer carreira no jornalismo de saúde e reconheceu “a importância e a necessidade de serem divulgados assuntos que dizem respeito às doenças mentais estigmatizadas”.

Cláudia Silva concorda. Quis participar no projeto para obter “experiência” e participar na divulgação de informação sobre a doença. Quando fez a reportagem percebeu que “a maior parte das pessoas não sabem o que é”. Para a estudante, “deveria haver notícias regularmente” sobre a saúde e não “apenas nos dias em que as perturbações são assinaladas”.

Combater a doença

Joana, diagnosticada como doente bipolar aos 25 anos, teve o primeiro episódio quatro anos antes, aquando da morte do irmão. “Em vez de uma depressão tive uma elevação de humor”, o que se traduziu “no gasto excessivo de dinheiro, no abandono dos estudos e nas frequentes saídas à noite”.

Na ADEB conheceu outras pessoas que sofrem da patologia, garantindo que a experiência e apoio prestados pela associação são bastante positivos: “A ADEB permite a partilha de experiências comuns. Lido com as pessoas [com doença bipolar] com muita empatia”.

Fora das instituições de apoio, a situação é diferente. Joana defende que existe algum preconceito sobre a problemática: “Não se deve dizer que se tem bipolaridade. É um fator discriminatório”, conta ao JPN.

A doença bipolar afeta cerca de 60 milhões de pessoas em todo o mundo. Em Portugal, serão cerca de 200 mil.

No sábado, está programada uma sessão de atividades recreativas e desportivas, entre as 9h00 e as 12h00, no Pavilhão Rosa Mota, no âmbito das comemorações do Dia Mundial da Doença Bipolar.

 

Artigo editado por Filipa Silva