Não é português. Foi, em tempos, um empresário que tinha como fim último fazer dinheiro. Hoje, Joe Santos, está à frente da Associação Vencer Autismo no Porto, um projeto em comum com a sua mulher, Susana. Veio para Portugal porque “queria um lugar quentinho”. Não esperava encontrar a mulher da sua vida, e não esperava também vir a ser o segundo pai de Caui, uma menina que não é só diferente, é especial. Caui tem autismo.

Caui tinha dez anos quando começou o Son Rise Program. Joe explica ao JPN que este é um programa que visa “dar às crianças e a adultos com autismo as ferramentas necessárias para eles se tornarem mais independentes”. É preciso “estar a mais do que 100% com as crianças, desligar do mundo e fazer um trabalho intensivo”. Joe já fez estudos que comprovam que com uma amostra de 20 crianças, em tratamento neste programa, sem interrupções durante oito meses e meio seguidos, reduz a sua condição de autismo em média 10%.

A vontade de partilhar com outros pais de meninos autistas os grandes progressos de Caui motivou o casal a criar a associação. A particularidade deste projeto passa muito pela aceitação do que é diferente. “Eu antes não sabia o que fazer quando estava com uma criança com autismo. Hoje, eu aprendi a aceitá-la”, confessa Joe. “Não julgar, estar presente e amar” são os pilares para encarar uma criança com autismo, mas não só: “ Mesmo toda a gente porque depois habituas-te que não podes julgar ninguém, porque nós nunca sabemos o que vai na cabeça do outro”.

“O Paulinho, um menino que temos aqui na associação, estava uma vez deitado no chão a olhar para a luz e a cuspir, ninguém percebia porquê. Deitaram-se com ele, e viram que ele estava a fazer fogo de artifício”, conta Joe, sorridente. Estabelecer contacto, canais de comunicação e perceber a realidade e o mundo destas crianças são os princípios iniciais deste programa que nasceu nos EUA.

“Ainda se vive com um estigma muito negativo o autismo em Portugal”, declara Joe, que está ciente que uma das funções da associação é também trazer a ideia de que o autismo não é uma deficiência, é uma diferença. “O problema do autismo não é o autismo, é o estigma negativo do autismo”. Neste momento a Vencer o Autismo não recebe nenhum apoio governamental, pratica preços bastante baixos, mas toda a equipa está convicta de que é possível mudar este paradigma.

A casa da Vencer Autismo é na Avenida da Boavista e, agora, a associação criou na porta ao lado uma mercearia com o objetivo último de “aproximar os pais das crianças com autismo, a produtos sem glúten e que não têm caseína”, pois estes alimentos ajudam “na melhoria do comportamento de autistas”, uma vez que aumentam os níveis de energia e ao mesmo tempo relaxam as crianças. “A Caui passou de adormecer às duas da manhã, a abanar e a falar na cama, a adormecer às onze da noite”, testemunha o padrasto.

Sábado, Portugal vai estar mais azul

A associação em colaboração com a Câmara Municipal do Porto (CMP) e o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) organizam pelo quinto ano consecutivo um movimento que pretende tornar Portugal mais azul. Este sábado, como forma de aproximar, sensibilizar e consciencializar a população para a temática do autismo, estão a organizar uma caminhada e corrida.

A corrida vai ter início às 10h30 na entrada principal do Parque da Cidade do Porto e a caminhada vai decorrer às 11h30, na entrada norte do parque. Todos os participantes deverão levar uma peça de roupa azul. O Estádio do Dragão vai estar de mãos dadas com este movimento e vai estar parcialmente iluminado de azul esta sexta-feira e sábado

Em progresso está também uma formação de cinco dias à cerca do “Son Rise Program”, agendada para novembro e aberta a todo o público. A Associação Vencer Autismo traz o evento para Portugal pela sétima vez e o preço vai rondar os mil euros.

Artigo editado por Sara Gerivaz

Notícia atualizada às 18h19 do dia 1 de abril de 2016