A série de época “O Alto” foi produzida em território marcoense e é composta por sete episódios de 40 minutos. Retrata o tema dos retornados no pós 25 de abril em Marco de Canaveses, com destaque para uma família aristocrata que, ao regressar de um exílio, encontra um Portugal totalmente diferente.

João Santana é o diretor artístico e produtor na associação Alphatones, produtora da mini-série “O Alto”. O projeto iniciado em 2013, chega esta segunda-feira, às 13 horas, à RTP2. Na manhã da estreia, o JPN falou com o marcoense sobre a aventura artística (e logística), deste “alto” sonho de um grupo de jovens, que levaram a sua arte do Marco de Canaveses para o todo o país.

João Santana está receoso, mas muito entusiasmado. Após uma semana entre Lisboa e o Porto, com entrevistas e ações de promoção da série, vê o momento da estreia como “um peso que sai dos ombros”.

O medo, vem da possibilidade de, apesar de toda a promoção e contextualização do projeto, os espetadores o comparem a qualquer projeto de ficção comum. Mas se “para uma grande produção nacional, um episódio pode rondar os 30 mil euros”, os Alphatones fizeram a série com “uma média de dois mil euros por episódio”. Contra a corrente, como chegaram os Alphatones à televisão nacional?

Bastidores do sonho

O projeto começou por ser um “exercício para atores”, logo, “não remunerado” revela João Santana. Aos quase vinte atores amadores iniciais, juntaram-se cinco jovens atores do Porto, para “subir a fasquia e melhorar a performance dos atores”. Ao todo, entre representação e figuração, mais de quarenta atores estiverem envolvidos n’”O Alto”.

Entre a produção técnica e artística, cerca de 38 pessoas integraram o projeto. Destas, apenas a equipa técnica – com vários “freelancers” com experiência em projetos de grandes produtoras – foi paga, “a preços irrisórios”, adianta João Santana. Esta realidade explica em parte a diminuição dos custos, mas como foi possível recolher os fundos necessários?

“Se soubéssemos à partida o custo de produção não teríamos feito ‘O Alto’”, adianta João, que começou o projeto com 3500 euros. Depois, o diretor artístico corrige: “Eu no fundo até sabia que íamos precisar de mais dinheiro, mas pensava – depois arranjamos!”. Na primeira fase, conseguiram gravar apenas dois episódios. Uma segunda fase foi ainda conseguida, com valores semelhantes, pois “a inexperiência” da equipa e os fundos limitados “não deram para mais”.

João Santana voltou “a bater a todas as portas”, mas sem o resultado desejado. Apesar da insistência dos seus colegas, não queria importunar a “Dona Amélia”, euromilionária do Marco de Canaveses. No entanto, com o projeto parado, perdeu a vergonha e arriscou. Os meses iam passando e chegou a ter de comunicar a toda a equipa que o projeto iria ficar por ali.

No entanto, a “Dona Amélia” abriu a ranhura e o entusiasmo de João Santana fez o resto. A euromilionária apoiou o projeto com sete mil euros, o que permitiu uma terceira fase de produção, mais “folgada”, mas também com outra exigência a todos os níveis.

Do “Você na TV”, ao “Alto” na RTP2

Uma ação de promoção do projeto levou João Santana e a sua equipa ao programa “Você na TV”, na TVI. Até à entrevista com Manuel Luís Goucha e Cristina Ferreira, o plano era publicar “O Alto” na Internet. A ideia era aproveitar a visibilidade nacional e quatro semanas depois, publicar “online”. Só que, durante a entrevista, a apresentadora da TVI deixou o pronúncio: “Talvez um dia ainda vejamos ‘O Alto’ na televisão”.

No Marco de Canaveses, o entusiasmo da terra precipitou o veredito. “Todos tinham como certo que íamos para a televisão”, conta, bem-disposto, o diretor artístico. A partir daí, com as expectativas elevadas, os Alphatones canalizaram os esforços para conseguir chegar ao pequeno ecrã.

A insistência do marcoense fez João Santana chegar a contacto com dirigentes da RTP e, a partir daí, “foi muito natural”. Em fevereiro de 2015 confirmaram a venda à RTP, mas a aventura não terminava ali. Para um público mais exigente havia arestas a limar. Este último ano foi passado em correções de pós-produção e ações de promoção.

Para o futuro, os Alphatones prometem mais projetos. Para já, João Santana quer “maturar ideias, descansar, e pôr tudo no sítio”, até porque ainda é estudante universitário. A “história por detrás da história” é inspiradora. Vamos ficar atentos à d’ “O Alto”.

 

Artigo editado por Sara Gerivaz