Mariana Mortágua, economista e deputada do Bloco de Esquerda, foi até à Faculdade de Economia do Porto, esta segunda-feira, falar sobre o sistema financeiro em Portugal e as dificuldades do Banco de Portugal em lidar com o setor.
A economista defende a entrada do Estado em setores estratégicos, como a banca, no lugar de acionistas que tenham interesses próprios: “Eu acho que devia haver uma entrada do Estado nestes bancos [como o Banif ou o Novo Banco]. Os bancos já foram safos por capitais públicos, não há nenhum motivo para que o Estado não possa manter este setor estratégicos para garantir que ele funcione de acordo com os seus interesses e não de acordo com accionistas conjunturais que aparecem com outros interesses que não são necessariamente interesses públicos”.
O Banco Central Europeu, na opinião da economista, “devia financiar os Estados porque estes têm o poder de injetar dinheiro na economia que o sistema financeiro não tem”.
A deputada acredita que a transferência de poderes do Banco de Portugal para o Estado, traria melhores soluções que as apresentadas até ao momento.
“A economia não está a crescer, apenas a alimentar velhas expetativas. Não há procura, porque foi dizimada pela austeridade”, considera Mariana Mortágua.
A deputada aponta para as imparidades dos bancos nacionais nos últimos sete anos. “Os privados não são bons a gerir bancos, este é um dos problemas. Em segundo lugar, não se devia vender bancos neste momento”.
A crise financeira
A mais recente venda decidida pelo Estado disse respeito ao Banif e estima-se que possa custar ao erário público mais de 3 mil milhões de euros. Mariana Mortágua faz um paralelo com a Caixa Geral de Depósitos (CGD), que recebeu uma injeção de capital de 3,4 mil milhões de euros: “A diferença é que a CGD é nacional e no caso do Banif paga-se para recapitalizar um banco que pertence ao Santader Totta”.
“As crises financeiras levam sempre o dinheiro dos contribuintes, porque não há um governo que esteja disposto a ver um banco falir. Os governos vão sempre coordenar-se para limpar o sistema”, explicou a deputada.
“Temos que começar a perceber que a banca é uma atividade supostamente com risco, e que as pessoas não podem ser salvas permanentemente por arriscaram o seu dinheiro. Mais uma vez absolvido o capital, uma vez absolvido os credores, continuam quase sempre a faltar dinheiro e alguém vai ter que repor e quem vai ter que o fazer são os contribuintes”, declarou a deputada com críticas à ação do Banco de Portugal.
Mariana Mortágua foi a oradora convidada da sessão “Banca – Os bastidores”, esta segunda-feira, na Faculdade de Economia da Universidade do Porto. O Salão Nobre encheu para ouvir a deputada.
Artigo editado por Filipa Silva