O estudo “A ética dos alunos e a tolerância de professores e instituições perante a fraude académica no Ensino Superior”, apresentado esta terça-feira no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES), revela que os estudantes universitários não condenam a fraude “democrática”.

Por outras palavras, os alunos do Ensino Superior consideram aceitável a fraude desde que produzida por meios acessíveis a todos. São disto exemplo fazer cábulas (40% dos inquiridos admitem já ter usado) ou copiar por um colega num exame (52% dos estudantes revelam já ter copiado).

“O que as pessoas condenam não é a fraude em si. Na nossa perspetiva, aceitam a fraude por considerarem que, se não a cometerem, não serão capazes de alcançar o sucesso. Isto é uma cultura prevalecente não só na universidade, mas na sociedade em geral. As pessoas só condenam o tipo de fraude que não é acessível a toda a gente”, comenta Paulo Peixoto, um dos investigadores.

Pagar a alguém para fazer um trabalho, comprá-lo na internet, ou pedir a um familiar que o faça já é, para os estudantes, um ato condenável. Isto porque “não são acessíveis por pessoas que se encontrem em diferentes situações económicas”, explica o sociólogo.

Em conversa com o JPN, o professor auxiliar na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC) deixa outro alerta: “Se o fazem no Ensino Superior é porque já estão habituados a fazê-lo desde o Ensino Básico e Secundário. Ao chegar ao mundo profissional, como foram bem-sucedidos na fraude universitária, têm ideias de serem bem-sucedidos lá fora, por isso vão continuar a cometer fraude”.

A investigação tem o objetivo de ajudar as instituições de Ensino Superior no combate à fraude através de medidas como a criação de organismos específicos para analisar e resolver casos de fraude académica “que são muito diferenciados entre si”, sugere Paulo Peixoto.

Este é o maior estudo realizado sobre o tema e partiu de queixas “mais ou menos informais” que têm vindo a ser feitas desde 2008 um pouco por todo o território português. “Existiram algumas denúncias, mal-estar e preocupação das instituições, dos docentes e até de alguns alunos”, revela Paulo Peixoto.

Autores do estudo

Filipe Almeida, Ana Seixas, Paulo Gama, Paulo Peixoto e Denise Esteves são os autores do estudo que dá conta da fraude académica nas universidades portuguesas.

O primeiro livro foi lançado em novembro de 2015 e este último em janeiro de 2016.

O sociólogo, em conjunto com outros investigadores das áreas de Gestão e Economia tinha já publicado um livro na Imprensa da Universidade de Coimbra (UC), no final do ano passado, que dava conta da incidência da fraude académica em Portugal cometida por alunos. O mesmo grupo de autores lança agora outro livro, no qual o estudo se insere, com uma análise geral de eventuais soluções, algumas das quais já adotadas noutros países, para lidar com o problema da fraude académica.

O estudo envolveu uma amostra selecionada pelos critérios de “maior peso” no Ensino Superior: foram inquiridos mais alunos do universitário do que politécnico e dos cursos com maior número de estudantes. Foi feita, além disso, uma análise aos códigos de ética e aos códigos disciplinares das instituições.

A investigação foi financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e envolveu 101 institutos, 180 cursos, 7.292 alunos e cerca de 2.700 docentes.

 

Artigo editado por Filipa Silva