O espetáculo é o resultado de uma residência artística no maior laboratório de física de partículas do mundo, o CERN, na Suíça. Gilles Jobin passou três meses a conviver com cientistas e, movido pela “beleza” da física quântica, criou uma dança que traduz o “movimento das partículas”. Nasceu o espetáculo “Quantum”.

O coreógrafo suíço esteve esta quarta-feira no Departamento de Física e Astronomia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) a falar sobre a experiência que, para si, foi entusiasmante. “Quando comecei a perceber a ideia geral [da física], fiquei mais relaxado e no final estava muito inspirado. Uma coisa impressionante para mim foi trabalhar com a realidade do corpo”, contou.

O espaço, a simetria e o movimento sempre foram áreas de grande interesse para Gilles Jobin, que depressa percebeu que os físicos também se interessavam por ideias semelhantes. A peça “Quantum” tornou-se, assim, a representação da inspiração mútua que pode acontecer quando cientistas e artistas trabalham em conjunto.

“Composta por quatro lâmpadas, que balançam num movimento circular constante, a instalação destaca as principais leis da física e responde a flutuações impercetíveis nas quais os bailarinos e as luzes se fundem num objeto peculiar, misturando dança, artes visuais e ciência”, pode ler-se na descrição do espetáculo.

A instalação das lâmpadas, um projeto criado pelo artista Julius von Bismarck, funciona como um conjunto de pêndulos que se movem ao mesmo tempo que os bailarinos. Os movimentos correspondem a diferentes ideias da física e da simetria.

O espetáculo foi apresentado pela primeira vez no espaço Compact Muon Solenoid (CMS), do CERN. Segundo Gilles, “a residência artística foi no CERN, por isso fazia todo o sentido realizar lá o espetáculo. Mas foi difícil encontrar um sítio, porque o CERN é muito grande. Acabámos por escolher o CMS e estivemos lá cerca de três semanas a preparar o espetáculo”.

Esta sexta-feira, “Quantum” estreia pela primeira vez em Portugal, no grande auditório Manoel de Oliveira do Teatro Municipal Rivoli. A apresentação começa às 21h30 e tem uma duração de 50 minutos. Após a peça, Orfeu Bertolami, presidente do Departamento de Física e Astronomia da FCUP, vai moderar uma conversa com o público, abordando a obra do ponto de vista de um físico.

Em declarações ao JPN, Orfeu Bertolami explicou que a relação entre a ciência e a arte não é improvável e existe desde há muito, nas mais variadas áreas. “O Gilles inovou, levando a ciência para a coreografia, mostrando que essa relação pode ser fácil. Mas desde sempre a ciência influenciou a arte”, notou.

Para o professor, a ciência tem um ponto em comum com a arte: “Sem criatividade não há ciência. O processo criativo é a essência do trabalho científico. Os cientistas não estão interessados em corroborar o que já existe, querem criar coisas novas”.