As empresas são três e têm um ponto em comum: ganharam as edições passadas do concurso BIG smart cities, cuja quarta edição foi lançada no passado sábado, no Edifício Central do Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC). Cada uma delas tem demonstrado trunfos inovadores no mundo do empreendedorismo e está empenhada em conquistar mercados. O JPN aproveitou para conhecer o trajeto das novas empresas: GuestU, Inviita e Lisboa Horizontal.

GuestU de 2013 para cá

GuestU conquistou o júri do Lisbon BIG Apps 2013 com uma plataforma que dá oportunidade à atividade hoteleira para construir a sua própria aplicação de modo a reforçar a identidade e estratégia de marketing. As empresas podem, por exemplo, colocar informações sobre o espaço, eventos e serviços que oferecem, e ativar um “concierge” de informações sobre a atividade.

Marcelino Moreno, CTO da GuestU considera que o “somatório da experiência com um negócio bem fundamentado” foi o fator decisivo para se destacarem entre os concorrentes da primeira edição do concurso lançado pela Vodafone. “Tínhamos um modelo de negócio com métricas sólidas, apresentámos um estudo de mercado, informação sobre os hotéis e havia um conjunto de vantagens para os clientes”, conta ao JPN. A equipa era já constituída por pessoas com experiência na criação de outros negócios.

O concurso BIG Apps foi só o começo, sendo que o investimento de cerca de um milhão de euros da Portugal Ventures foi o que permitiu “atacar o mercado com mais força, nomeadamente o mercado internacional, que representa mais de metade das parcerias”.

A utilidade e sucesso foram reconhecidos e referidos na revista internacional de negócios, Fortune. Marcelino afirma, em entrevista ao JPN, que este foi um dos pontos altos do projeto de empreendedorismo.

O projeto vencedor da primeira edição do Lisbon BIG apps conta, atualmente com mais de 30 trabalhadores e orgulha-se de já ter conquistado cerca de três centenas de clientes em mais de 30 países.

O projeto de empreendedorismo está a criar, entretanto, outro produto. Clarice é um assistente inteligente de viagens e permite que sempre que se encontre numa nova cidade, “o utilizador pode pedir uma sugestão à Clarice”.

Inviita: Trajeto de conquistas, sem sacrifícios

Os criadores de Inviita determinam a validação do mercado e adaptação do produto proposto como pontos chave da marca. A Inviita tem uma atividade reconhecida em cidades diversas e faz muito mais do que convites (do inglês “invite”) com vida (“in vita”).

A ideia para o projeto nem sempre foi a mesma. Inicialmente, os fundadores pretendiam criar a “Through my eyes”, que consistia num serviço para turistas. “[O objetivo era] dar a conhecer Lisboa pelos meus olhos”, indica Joana Baptista, membro da equipa fundadora, ao JPN. O conceito mudou no âmbito do concurso Vodafone BIG Apps 2014 e cresceu como aplicação.

Quatro trabalhadores de uma empresa decidiram tentar a sua sorte e criar o seu próprio negócio. O projeto consistia numa aplicação de viagens que dá a todos a possibilidade de criar e aceder a roteiros, de acordo com o estado de espírito no momento.

A aventura correu bem e os participantes ganharam as distinções do júri e do público em maio de 2014. A vitória é identificada como a primeira conquista no percurso dos empreendedores. O prémio dividiu-se num valor monetário de dez mil euros e na incubação no Vodafone Power Labs em Lisboa, onde atualmente têm o seu escritório.

Outra conquista foi lançar a aplicação na “store”, para ser testada por centenas de pessoas, sem recorrer a investimentos. O principal objetivo do lançamento em iPad era recolher “feedback”, para perceber de que modo é que as pessoas estavam a reagir à aplicação.

Após os testes, o produto foi reformulado de acordo com as alterações pedidas pelos avaliadores. A principal mudança sugerida foi o reforço de uma componente social.

Inviita transformou-se, então, numa aplicação que permite a criação de um roteiro pessoal de acordo com a definição do estado de espírito. Roteiro esse que pode ser partilhado com amigos e pode ser inspirado no que outros recomendam. Além disso, há um algoritmo que sugere conteúdos personalizados aos utilizadores e às suas preferências. A partilha, dizem, “trouxe uma interação enorme à aplicação”.

Só depois do mini lançamento na “store”, os empreendedores procuraram investimentos para tirar riscos ao investidor. “Investir numa ideia e investir num produto já validado são coisas diferentes”, ressalva Joana.

Joana e Bernardo Véstia despediram-se para desenvolverem o próprio negócio e passarem por dois meses de aceleração no programa Lisbon Challenge da associação Beta-i. A empresa Inviita foi constituída em junho de 2015 e a equipa é, desde então, constituída por sete trabalhadores.

A 13 de outubro do mesmo ano, a Inviita fazia o lançamento oficial da sua aplicação. Duas semanas depois era indicada pela gigante Apple como “Best new app”, o que lhe trouxe grande visibilidade. Como explica Bernardo ao JPN, foi outra das grandes conquistas: “ter o maior parceiro tecnológico que se pode esperar, a dizer e a recomendar aos seus utilizadores, ‘usem isto, porque isto tem qualidade’”.

“Foi a melhor coisa que nos aconteceu”, concordam os dois. A revista internacional de tecnologia TechCrunch também não deixou passar a Inviita despercebida.

A equipa diz ter crescido “a nível global” com o reconhecimento. A aplicação chegou a mais de 16 mil pessoas, mais de 120 países e cerca de três mil cidades em apenas seis meses. A interação cresceu de forma acelerada e 50% do número total de utilizadores mantém-se ativa todos os meses, o que, de acordo com os empreendedores, “é muito difícil”.

Apesar dos obstáculos que possam surgir, Joana garante: não há sacrifícios. “Essa é a beleza de fazer aquilo que gostas” frisa. “Estás a fazer uma coisa em que acreditas e pela qual és apaixonado. Não é um sacrifício, nunca foi e não acredito que seja alguma vez. A partir do dia em que for um sacrifício, já não faz sentido”, partilha com o JPN.

Horizontal Cities: Pedalar e “fazer ginástica constante”

Na “cidade das sete colinas”, Lisboa, vivia Kobe, que “nasceu a andar de bicicleta, como qualquer bom belga”. Deslocar-se a pedalar na capital portuguesa era um desafio.

Durante oito meses, o belga analisou e mapeou a topografia das ruas lisboetas, o que o levou a concluir que havia 691 quilómetros de “prazer horizontal”, isto é, inclinação máxima de 4%. Por isso, Kobe e Diogo Simões assumiram, como um “projeto de amigos”, a criação da Lisboa Horizontal.

Kobe concluiu que, ao contrário do que outros pensavam, era possível circular em toda a cidade sem ter de encarar as subidas mais difíceis. Um processo de “evolução normal” demonstrou, que uma aplicação de navegação era a solução. Esse foi o formato de candidatura ao BIG smart cities do ano passado.

A aplicação vai ser lançada no verão, como a primeira no mercado que permite calcular rotas, não pela distância mais curta, mas pelo caminho menos cansativo e com menos esforço, tendo em conta a topografia do trajeto. É a primeira aplicação para ciclistas, com GPS e comparação de trajetos.

Diogo Simões indica ao JPN que uma “ideia gira” não chega para vencer num concurso de empreendedorismo. No seu caso, a vitória no BIG smart cities teve muito a ver com a originalidade.

O “feedback” do projeto é positivo e suscita “a simpatia das pessoas que se sentem ligadas ao projeto”. “Mas mais do que isso, comprovámos que o nosso negócio ia ter viabilidade do ponto de vista do mercado”, esclarece. “Temos a sorte de ter todas as competências base para a realização de um projeto”, explica Diogo Simões, ao JPN.

Depois de ganhar o concurso, a equipa teve “a honra” de ser convidada para integrar o “cluster” Portugal Bike Value. Esta integração permitiu à aplicação um contacto mais próximo com a indústria portuguesa de ciclismo.

Em novembro de 2015, a Lisboa Horizontal foi constituída com o nome Horizontal Cities, com escritório na incubadora da Vodafone Power Labs, em Lisboa. Embora não tenha sido ainda lançada, o vídeo de apresentação do projeto foi um sucesso na comunidade brasileira do Facebook, com cerca de 80 mil visualizações na primeira semana, sem esforços de marketing por parte da equipa.

Numa fase ainda de pré-financiamento e de aplicação de dinheiro próprio, a empresa está a passar por uma “batalha de sobrevivência”, mas tem motivação necessária para manter o projeto. Diogo Simões, que aconselha os novos empreendedores a não desistir, refere que o projeto do qual é sócio vive de otimismo e realismo misturados, o que é bom para manter a motivação. “Como não voamos muito alto, conseguimos reagir bem quando temos coisas menos positivas”, realça.

“Até colocar o produto no mercado e ter um projeto com sucesso comprovado e com utilizadores, questionamo-nos constantemente, colocamos a possibilidade de não chegar aonde gostaríamos que ele chegasse”, explana.

Não ter fundos e “fazer ginástica constante” para manter o projeto ativo do ponto de vista financeiro é “desafiante”: é preciso “manter a equipa focada e motivada”. “Alimentamo-nos da crença e confiança que atribuímos desde o início ao projeto”, revela o empreendedor.

Para Diogo, a característica mais importante na equipa é a multidisciplinaridade. Um dos sócios é especialista no tratamento de dados e informação geográfica, outro tem anos de experiência na área do marketing e o terceiro representa “o braço tecnológico”, na vertente do “software”. “Esta polivalência permite-nos trabalhar em todas as frentes e realizar um trabalho contínuo”, declara o empreendedor.

 

Artigo editado por Sara Gerivaz