A greve de fome que Nuno Dala, um dos arguidos do processo 15+2, iniciou a 10 de março pode trazer-lhe “lesões irreversíveis”, dizem os médicos. Segundo relatos da mulher, corroborados pela Rede Angola, o professor universitário de 31 anos encontra-se numa cadeira de rodas.

Antes de iniciar a greve de fome, Dala fez publicar uma nota de imprensa em que dava conta de uma série de patologias provocadas pelo que considerou serem “condições carcerárias desumanas”: “infeção urinária, infeção sanguínea, gastrite, degradação da visão” e outras doenças não identificadas até à data da publicação da nota, 6 de março.  Passados quase 34 dias, o diagnóstico clínico inclui paludismo e perturbações num pulmão. A este quadro “grave”, alia-se o facto de Dala ser diabético.

O coordenador da Omunga, associação que  desenvolve ações de defesa dos direitos humanos em Angola, tem acompanhado o caso dos 15+2 e, em concreto, o de Dala.  Em declarações ao JPN, José Patrocínio classifica a saúde física e psicológica do ativista como uma questão “muito preocupante”.

O diretor do Serviço Penitenciário de Angola, António Fortunato, assegurou à Lusa o acompanhamento médico e psicológico, mas o objetivo de “demover” Dala da greve de fome continua sem ser alcançado.

Quando concluiu as duas primeiras semanas de greve de fome, Dala confirmou à Rede Angola que os “técnicos de saúde estavam a medir os seus sinais vitais” e que lhe estavam  também a dar “assistência psicológica”.

José Patrocínio, que também já sofreu na pele represálias pelo trabalho que desenvolve perto da comunidade angolana,  admite que as próprias instituições públicas têm demonstrado “preocupação” com o caso.  O coordenador da Omunga transmitiu ao JPN a informação de que estão a ser tomadas medidas para que Dala seja transferido do Hospital Prisão de São Paulo, onde se encontra, para uma clínica.

Luaty Beirão foi transferido para uma clínica privada no 25º dia da sua greve de fome, por recomendação de uma médica de família.

Nuno Álvaro Dala justificou a greve de fome com um protesto contra as “violações” dos seus direitos, como a impossibilidade de ter acesso a resultados de exames médicos que realizou e a bens que lhe terão sido “confiscados pelo Serviço de Investigação Criminal” no dia da detenção – 20 de junho de 2015. Dala reclama o acesso a cartões de multibanco, livros, telefones, um computador e a 38 mil kwanzas (200 euros).

António Fortunato disse esta segunda-feira à Lusa que a família do ativista se recusou a receber os cartões bancários. Em resposta, os advogados e familiares disseram que têm orientações de Nuno Dala para apenas os receber quando o resto do material for entregue. O diretor de Serviço Penitenciário alega que “os computadores são, nos termos da lei processual, meios de prova” e que, portanto, não podem ser entregues durante o processo de recurso.

Em relação ao acesso aos resultados dos exames médicos realizados no Hospital Militar, o porta-voz dos Serviços Penitenciários, Menezes Cassoma, disse à Rede Angola que o laboratório não forneceu os resultados no momento das diligências, “em função de uma avaria na máquina dos exames de bioquímica”.

Para quarta-feira, dia 13 de abril, às 18h00, está marcada uma concentração em solidariedade com Nuno Dala, no Largo Jean Monet, em Lisboa.

 

Artigo editado por Filipa Silva