Pela primeira vez, as mulheres vão poder participar nos 50 quilómetros marcha. A decisão do conselho da Federação Internacional de Atletismo (IAAF, na sigla inglesa) abre a totalidade das provas a ambos os géneros.

A meia centena de quilómetros era a última exceção mas, já na próxima Taça do Mundo de Marcha, as atletas femininas vão poder correr a distância. Em Roma, a 7 e 8 de maio, não haverá limite de participantes por sexo. Cada país poderá competir com cinco dos sete marchadores inscritos.

Depois de, no passado dia 9, ter batido o seu recorde pessoal, o JPN falou com Inês Henriques. Na 25ª edição do Grande Prémio Internacional de Rio Maior, a atleta portuguesa realizou a prova dos 20 quilómetros em 01h29m14.

A marchadora olímpica considera “muito importante” esta histórica decisão da IAAF. “Sempre fui defensora de uma segunda prova para mulheres”, começou por frisar. Apesar disso, a atleta do Clube de Natação de Rio Maior não acha que os 50 mil metros sejam a distância ideal – “porque não 40, como na maratona?, questiona.

Em janeiro, aceitou de imediato a proposta do seu treinador para fazer uma competição de 30 quilómetros. Inês Henriques não compreende a razão pela qual “só podem ir três mulheres marchadoras aos Jogos Olímpicos ou Campeonatos onde participam seis homens”. Mesmo assim, revela ter ficado “muito satisfeita pela introdução [dos 50 quilómetros]”. “De alguma forma, também trabalhei um pouco nessa luta pela igualdade entre provas masculinas e femininas no atletismo mundial”, justifica.

A preparação para uma prova de 50 quilómetros, segundo a atleta, tem outras implicações: “A distância em treino tem de ser muito maior para estarmos preparadas para uma competição dessa distância, pois temos de fazer 30, 35 ou 40 quilómetros em treino para conseguirmos aguentar uma prova de 50”, explica. No panorama internacional, e apesar da exigência, Inês garante existirem “vários atletas a fazer 50 quilómetros com grande qualidade técnica e com tempos muito bons”.

Prestes a fazer 36 anos, no próximo dia 1 de maio, a marchadora não descarta a hipótese de disputar a prova de 50 quilómetros. Entre risos, pergunta, “qual é a diferença entre homens e mulheres?”. “É óbvio que nós, em termos de ritmo, nunca vamos fazer provas tão similares às deles. Mas isso também acontece nos 20 quilómetros. Mas eu acho que é possível”, assegura Henriques.

A atleta, que vai representar Portugal nos Jogos Olímpicos (JO) do Rio de Janeiro, dá um exemplo: “Quando já não têm a velocidade suficiente para conseguir conquistar bons resultados nos 10 mil metros, as mulheres vão para a maratona. Na marcha [antes desta alteração] tínhamos os 20 quilómetros, ou não podíamos evoluir”, garante.

Nas olimpíadas de Tóquio, em 2020, Inês Henriques terá 40 anos e, segundo a própria, mais resistência e menos velocidade. “Se eu quiser fazer mais um ciclo olímpico, porque não tentar daqui a quatro anos, os 50 quilómetros? Poderá ser o final da minha carreira”, deixa no ar.

Para a atleta, o campeonato da europa da sua especialidade é mais forte do que o do corta-mato e semelhante ao mundial, já que “o grande lote de atletas da marcha com qualidade está na Europa”.

Em jeito de previsão para o futuro, a marchadora indica que, na nova distância, “as melhores mulheres podem fazer tempos próximos das 3h50”. Antes do término de uma conversa em época de preparação para uma grande prova, “mais calma e tranquila, tanto física como psicologicamente” – graças à confirmação da presença nos JO – Henriques apresenta o seu objetivo para Roma: “Quero baixar para a casa da 1h28, que é uma marca que eu já devo a mim própria há muitos anos”, se tudo decorrer com normalidade e sem lesões, acrescenta.

 

Artigo editado por Filipa Silva