O auditório Carvalho Guerra compunha-se quando Azeredo Lopes chegou à casa onde lecionou até tomar posse enquanto ministro da Defesa Nacional. Esperavam-no antigos alunos e colegas para discutir uma nova estratégia global de segurança da União Europeia, conferência organizada pela Associação de Estudantes da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa (AEFDUCP).

À entrada, Francisco Quelhas Lima confessou ao JPN que esperava “uma conferência muito interessante”, principalmente para os jovens, a faixa etária que será mais afetada pela ameaça do terrorismo. Para o presidente da AEFDUCP “é importante discutir a insegurança e não há forma melhor de fazê-lo do que trazendo a autoridade máxima em Portugal”.

Azeredo Lopes começou a sua intervenção por explicar que a estratégia de defesa em vigor “está desatualizada” por dois grandes motivos. “A verdade é que os EUA já não nos consideram um continente tão importante, há uma viragem para oriente. Para além disso, as ameaças de hoje são diferentes. Já não falamos do Iraque, mas do Leste, de ameaças difusas, que ainda hoje não temos muita capacidade para enfrentar”, explica.

Nesse sentido, o ministro defendeu que “é necessária uma nova estratégia global de política externa e segurança para a União Europeia”, de preferência “em comunicação com a NATO”, que está já a ser debatida pelos estados-membros.

O melhor a fazer “é não alterar padrões de vida”

Para Azeredo Lopes, este novo plano terá de passar necessariamente por três pontos essenciais.

Em primeiro lugar, o ministro defendeu que “este plano não pode passar pelo mero desenvolvimento interno da indústria da defesa”. Para o ministro os investimentos feitos têm sempre de ter utilidade pública e não meramente militar. Para além disso, mais do que o investimento em equipamento, é preciso preparar as Forças Armadas. “Se vamos capacitá-las, convém levar umas tendas e outro material, mas há que capacitá-las em termos de treino, prepará-las”, reforçou Azeredo Lopes.

E nesse sentido, o ministro realçou os bons resultados das Forças Armadas portuguesas face ao baixo orçamento em comparação com países como a Alemanha ou França. Para o antigo professor,o papel destas duas potências Europeias no panorama internacional tem sido essencial no combate ao terrorismo.

Em segundo lugar, surge o problema dos refugiados. “Esta é a questão que a UE não está a conseguir resolver. Podemos desvalorizar um papel que foi ser de longe o melhor local para um ser humano viver a nível social e de direitos humanos? Eu penso que não. Estamos dispostos a pagar um preço ao nível da segurança, que existe sempre? Eu penso que não. Devemos impedir a entrada no espaço europeu? Penso que não”, refletiu o ministro, alertando para a necessidade de encontrar uma solução permanente e não apenas “transitória”.

Por fim, o ministro considerou necessário “esquecer a ideia de que a defesa se faz apenas na fronteira” dos principais países ameaçados. É crucial “evitar que países terceiros tenham novas células e sejam atacados.” Azeredo Lopes considera que ao descurar a defesa da periferia, a comunidade internacional está a permitir que as organizações terroristas se aproveitem dessa fragilidade para entrar, recrutar e expandir. “A pressão feita nos territórios controlados, como na Síria, fez com que o Daesh procurasse uma nova barriga de aluguer, que neste caso é a Líbia. A próxima vai ser a Tunísia, que está numa situação muito difícil. Os ataques terroristas são devastadores em termos de economia, o que aumenta a insegurança e a miséria. Daí serem um dos maiores fornecedores de voluntários para o Daesh”, desenvolveu.

O ministro realçou a eficácia da comunicação do organismo terrorista face aos anteriores, apelidando-o de “Al-Qaeda ‘plus’”. No entanto, salientou que as receitas “já não são as de 2014”, em grande parte devido ao boicote que tem sido feito a tudo o que é comercializado pelo Daesh.

Questionado pelo público sobre o que é que o cidadão comum pode fazer para defender-se, o ministro terminou deixando um conselho: “A melhor coisa que podemos fazer é não alterar os nossos padrões de vida normal, e aceitar que a probabilidade de sermos vítimas é diminuída”.

A visita do ministro da Defesa Nacional à cidade do Porto vai prolongar-se pela tarde. O governante vai assinar um protocolo, pelas 17h00, de constituição de um grupo de trabalho com vista à criação do Programa de Recuperação e Valorização da Fortaleza de São João Batista da Foz do Douro.

 

Artigo editado por Filipa Silva