Santino Severoni esteve esta sexta-feira na Reitoria da Universidade do Porto (UP), no âmbito de um Seminário sobre Migrações e Saúde, para falar sobre os desafios que os migrantes enfrentam, bem como a necessidade dos países terem um papel mais ativo na prestação de apoio.

O representante da Organização Mundial de Saúde (OMS) começou a sessão ao afirmar que “Portugal tem tomado boas iniciativas na questão dos migrantes”. Santino defendeu que “um dos desafios da saúde pública passa pelos movimentos migratórios”, pois na Europa “um em cada 12 residentes são migrantes”, o que se traduz em 3% da população europeia.

O especialista em saúde defendeu que há “cada vez mais pessoas que precisam de ter garantida a segurança”, também na saúde, e que não pode ser separada “a saúde pública da saúde dos migrantes”. É necessário “agir em conjunto, qualquer cidadão fora do seu país deve ser acompanhado” em termos médicos. Santino Severoni alertou ainda para a influência negativa de “políticas criadas por instituições exteriores ao setor [da saúde] que não têm em consideração a saúde dos migrantes.” “Este desafio deve ser encarado como uma oportunidade”, considerou.

De acordo com a OMS, os problemas de saúde mais comuns entre os refugiados são danos acidentais, hipotermia, queimaduras, problemas gastrointestinais, cardiovasculares, diabetes e hipertensão. Entre as mulheres é comum haver complicações na gravidez e no pós-parto. As crianças são mais vulneráveis a infeções respitratórias, problemas intestinais e apresentam uma higiene deficitária, que por sua vez leva a infeções na pele.

Para o coordenador da área de Saúde Pública e Migrações da OMS, uma “política de desenvolvimento” é a chave para auxiliar os migrantes nestas questões. A organização está a desenvolver um plano de estratégia que vai entrar em vigor ainda este ano, prevendo a sua conclusão em 2022.

O responsável do Gabinete para o Investimento na Saúde e Desenvolvimento da OMS mostrou como a União Europeia (UE) tem espaço para acolher mais migrantes dando exemplos de como as cidades europeias encaixam grandes movimentos populacionais: “O Estádio do Dragão tem capacidade para 50 mil pessoas. O metro de Lisboa movimenta 422 mil pessoas diariamente. O aeroporto de Bruxelas, em 2012, transportou mais de 8,5 milhões de pessoas. Há espaço para mais gente”. Santino citou Immanuel Kant para reforçar esta questão: “Estamos destinados a viver na vizinhança e companhia de outros”.

Santino deixou também um apelo à comunicação social: “Não usamos a comunicação da melhor maneira. Os dados estão disponíveis, mas encontram-se fragmentados. O problema é a falta de identificação destas pessoas, temos de saber quem elas são, qual o seu estado de saúde quando chegam a outros países”.

O perfil dos migrantes

Num estudo levado a cabo pela OMS, formulou-se o seguinte perfil dos migrantes que chegam à Europa:

  1. 15-64 Anos
  2. Homem (com origem na Ásia ou do Norte de África), Mulher (com origem na Ucrânia, Filipinas ou Moldávia)
  3. Chegam de áreas urbanas
  4. Têm empregos como construtores ou domésticos
  5. Possuem um baixo nível de escolaridade
  6. 4% do seu rendimento total é remetido para a saúde

Os fatores que levam à emigração

2015 foi um ano histórico em movimentos migratórios. Segundo um estudo do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), 1 milhão de refugiados chegou à Europa, alojando-se em países como a Grécia, a Itália ou a Turquia.

Rita Sá Machado, do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Porto Ocidental, destacou o aumento considerável de migrantes nos últimos 15 anos. “Em 2000, emigraram 173 milhões de pessoas em todo o mundo. Em 2015, este número atingiu os 244 milhões”, o que representa um aumento de 41%. Atualmente, 66% da migração internacional passa pela Europa e pela Ásia.

Para além da necessidade de fugir aos conflitos armados, a representante da OMS Europa garantiu que a globalização potencia a emigração, fazendo com que as pessoas se “sintam cada vez mais próximas de casa”. Por essa razão, “todos são migrantes”, pelo que “não deveria haver desigualdades no acesso aos serviços de saúde”, defendeu.

Rita apontou motivações familiares no processo, dado que “por norma, os chefes de família viajam, e quando estiverem estabelecidos, trazem os restantes membros”. No entanto, o papel das mulheres na sociedade não foi ignorado: “A emigração pode, de certa forma, ajudar à emancipação. Hoje, 48% dos que emigram são mulheres”.

Contudo, há desafios que devem ser enfrentados. A exclusão social é o principal, pois ainda se verifica uma elevada discriminação para com os emigrantes, o que constitui um “fator de risco para a saúde dos mesmos”.

 

Artigo editado por Filipa Silva