Passados 500 anos sobre a publicação da obra literária “Utopia” de Thomas More, uma das mais importantes obras do período do Renascimento, o projeto português Utopia500 quer provar que o mundo não é estático e a mudança está nas mãos de cada pessoa.

O projeto é do Centre for English, Translation and Anglo-Portuguese Studies (CETAPS), da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) e da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL).

O objetivo do Utopia500, segundo a coordenadora do CETAPS, é voltar a colocar a palavra “utopia” no vocabulário quotidiano, dando-lhe uma conotação positiva. “Numa altura em que precisamos de uma política mais realista, a ideia de utopia é pouco acarinhada, porque é frequentemente associada a um sonho irrealizável, louco até”, explanou Fátima Vieira ao JPN.

O projeto atua durante todo o ano com uma série de propostas e concursos lançados à sociedade civil, em particular aos jovens e às escolas, para renovar soluções para problemas sociais como o desperdício alimentar.

Não faltam aspirações de chegar a um patamar global de partilha de experiências, com audiência internacional. Aliás, pela equipa de trabalho já passaram cerca de quarenta jovens de diferentes países, integrados no programa Erasmus+, como é o caso da Begüm Çavuşoğlu.

Vinda da Turquia com licenciatura em Economia, Begüm vê o Utopia500 como um desafio, mas acima de tudo uma oportunidade de crescer ao nível pessoal e profissional, sendo que o projeto atua no campo da responsabilidade social. Chegou ao Utopia500 depois de se candidatar a um estágio internacional financiado pelo programa Erasmus+. Begüm procura patrocínios para o Utopia500, faz apresentações nas escolas e ajuda a desenvolver alguns subprojetos.

Com o objetivo de promover o pensamento “divergente” e “disruptivo” pelo qual o utopismo se caracteriza, o projeto está ramificado em três subprojetos principais. Projetos esses que se baseiam na “ação coletiva concertada”, segundo explica Fátima Vieira.

Um projeto para não se esgotar num ano

O subprojeto “Grandes Utópicos” consiste numa “plataforma para identificar publicamente e para celebrar as ações de pessoas em todo o mundo que fazem contribuições positivas para a sociedade”. Com propostas das escolas, dá o reconhecimento que, segundo a equipa, falta dar aos que contribuem para um mundo melhor.

Para além de querer recuperar o papel da mulher “enquanto transformadora da sociedade”, a supervisora do Utopia500 confirma ao JPN que a equipa pretende dar representatividade a todos os estratos sociais e a pessoas “que não teriam direito a ter o seu nome no nome da rua”. Fátima Vieira, doutorada em estudos sobre a utopia, acredita que o subprojeto é capaz de “recuperar o amor-próprio dos portugueses” e dar inspiração para progredir.

No “PAN-Utopia”, outro subprojeto, neste caso um concurso dirigido às escolas, os estudantes devem encontrar as razões do desperdício alimentar ao nível local e criar planos para combater o problema, com atenção às questões sociais, ambientais e económicas. As melhores propostas recebem um incentivo de 600 euros para serem realizadas.

A coordenadora destaca que “não há apenas três formas certas de fazer as coisas”, por isso, o número de participantes a premiar não é limitado. As propostas têm de surgir de discussão participada por todos os jovens e, nesse sentido, a tradutora salienta que é importante colocar os alunos no papel de agentes da mudança.

Por último, o “Sons da Utopia” é um concurso no qual os amantes de música são desafiados a tocar uma composição, entre as que estão numa lista, com feições originais do século XVI ou dar-lhe uma nova interpretação musical. O prémio, conforme as categorias, é monetário ou oferece uma viagem ao Festival Literário Internacional de Óbidos (FOLIO).

O Utopia500 está a organizar também o 17º Congresso Internacional da Utopian Studies Society/Europe, que vai ter lugar na Universidade Nova de Lisboa, entre 5 e 9 de julho.

Fátima Vieira é ainda presidente da Sociedade de Estudos Utópicos (Utopian Studies Society) e, ao JPN, assegura que depois de outros dois congressos em Portugal, não havia melhor sítio para celebrar os 500 anos da “Utopia”: a personagem, que contava todas as suas peripécias ao More era um marinheiro português.

O Utopia500 está também a preparar o concurso Drawing and Photography Internacional Contest (DPic).

O desafio é dirigido a grupos de três pessoas, uma delas necessariamente ligada ao mundo das artes. É necessário que apresentem uma fotografia ou um desenho de como se encontra um lugar atualmente e que criem um desenho ou manipulação de como poderá estar no futuro, formado pelo pensamento utópico.

O projeto Utopia500 explora o legado da teoria utópica de More. Fátima Vieira, professora da FLUP, explica que a obra foi feita para mostrar o “oito e o oitenta” no mundo e convencer que são possíveis outras formas de organização. “É esse legado do humanismo que estamos a celebrar”, confere a utópica Fátima Vieira, como a própria se assume.

 

Artigo editado por Filipa Silva